Via dupla: asfalto reciclado também reduz emissão de GEE

Tecnologia de asfalto reciclado pode reduzir em até 50% as emissões de CO2.

Por Ana Cecília Panizza em 7 de fevereiro de 2025 3 minutos de leitura

asfalto reciclado
Foto: Kalyakan/ Adobe Stock

A urgente necessidade de reduzir o uso de combustíveis fósseis pelos meios de transporte para diminuir emissões dos gases de efeito estufa (GEE) é de conhecimento da população, especialmente após o tema permear discussões na COP29, no Azerbaijão, e no encontro do G20, no Rio de Janeiro, além de estar nos debates sobre a expectativa para a COP30, em Belém/PA. Mas ainda não é de conhecimento geral que o asfalto por si só já aumenta a poluição do ar, não só pela emissão de partículas poluentes em seu processo de fabricação, mas em toda sua vida útil. Uma possível solução: asfalto reciclado!

A descoberta é de estudo do Departamento de Engenharia Química e Ambiental da Universidade de Yale (EUA), que aponta que a pavimentação das vias, feita de materiais derivados do petróleo, emite grande quantidade de partículas poluentes quando exposta a altas temperaturas, luz solar e chuva, aumentando a poluição do ar principalmente em dias quentes e ensolarados.

Asfalto reciclado no Brasil 

No Brasil, uma resposta mitigadora a essa questão veio da utilização de um asfalto reciclado chamado Reclaimed Asphalt Pavement (RAP). A concessionária de rodovias Arteris está incorporando o RAP no microrrevestimento asfáltico em trechos da Rodovia Fernão Dias, em Minas Gerais, e na Rodovia Litoral Sul, que corta os estados do sul do País e inclui a BR 116, no Paraná. A aplicação tem objetivo de corrigir fissuras e irregularidades na superfície do pavimento. 

Em seu site, a Arteris afirma que estudos em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) apontam que a aplicação do RAP pode levar a uma redução entre 27% e 50% das emissões de CO₂ (dióxido de carbono) na atmosfera durante seu ciclo de vida em comparação com o asfalto convencional. E que o uso do RAP deverá ser replicado em outras rodovias administradas pela concessionária. 

Segundo a empresa, o RAP contribui para melhorar a durabilidade do pavimento, tem custo reduzido e menor retirada de recursos naturais do meio ambiente. Apesar de ser aplicado em camadas finas, proporciona maior aderência, mesmo com a passagem diária dos veículos. 

Em trecho da BR 116, região de Curitiba/PR, trecho do contorno leste, a Arteris recuperou mais de 3 quilômetros de pavimento com uso do RAP. Foram investidos mais de R$ 8 milhões na pavimentação. “Essa solução traz aspectos importantes, primeiramente do ponto de vista ambiental, através da redução da geração de resíduos e da redução da exploração de recursos naturais. Outro aspecto importante está relacionado à segurança, uma vez que tal tecnologia proporciona maior produtividade para nossas frentes de trabalho, reduzindo a exposição dos colaboradores na pista”, ressalta Juarez Richter Cordeiro, gerente de implantação e conservação da Rodovia Regional Sul da Arteris“.   

Foto: Reprodução/ Arteris via YouTube

De onde vem?

O material utilizado pela concessionário é gerado a partir de suas atividades de manutenção, explica Marcelo Grosbelli, engenheiro de pavimento que atua em projetos da Rodovia Litoral Sul. “A solução RAP é uma mistura a frio feita basicamente com material fresado, proveniente de intervenções executadas em outros pontos das rodovias administradas pela Arteris. Pode ser feita em uma usina móvel, que pode estar em uma unidade industrial ou no canteiro de obras, em local próximo ao de intervenção. Ela também pode ser estocada. Além de reaproveitar um material que já está na rodovia, a gente consegue diminuir a distância de transporte desse material”.  

O uso de RAP pela Arteris foi reconhecido pelo Prêmio da Câmara Espanhola de Sustentabilidade, em 2022, e pelo Prêmio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT ), na categoria de Desenvolvimento Sustentável, em 2023. A concessionária informa que a incorporação da solução em maior escala requer análises detalhadas da equipe de laboratório para garantir o bom desempenho do material, além de verificar a pegada de carbono associada ao seu uso.

O uso de RAP no Brasil não é novo, mas precisa ser disseminado. O estudo “Geração e utilização do RAP no Brasil”, de pesquisadores da USP e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), destaca que, no Brasil, 2,7 milhões de toneladas de RAP foram reciclados em misturas asfálticas entre 1986 e 2019, número considerado baixo pelos pesquisadores. “A partir do conhecimento dos dados, é possível entender a realidade local, as dificuldades burocráticas, culturais, sociais, físicas e/ou econômicas do processo de reciclagem e, assim, traçar estratégias para o aprimoramento da atividade”.