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Amsterdã transforma bicicletas em geradoras de energia limpa
A cidade das bicicletas transforma o movimento das pedaladas em eletricidade, unindo mobilidade urbana e sustentabilidade.
Por
Nathalia Ribeiro em 11 de março de 2025 5minutos de leitura
Foto: Reprodução/ Clean Energy Challenge
Conhecida mundialmente como a “Cidade das Bicicletas”, Amsterdã deu mais um passo na direção da sustentabilidade com uma iniciativa inovadora: transformar o movimento das pedaladas diárias em energia elétrica. Por meio do S-Park, um sistema de estacionamento de bicicletas geradoras de energia, a capital holandesa agora é capaz de capturar e armazenar a energia gerada pelos ciclistas, unindo mobilidade urbana e produção de energia limpa.
Com 767 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, os moradores da capital holandesa percorrem diariamente 2 milhões de quilômetros de bicicleta. Segundo a Clean Energy Challenge, esse tráfego intenso de ciclistas pode gerar, em média, 19,5 milhões de watts-hora. O S-Park foi projetado para aproveitar esse potencial, armazenando a energia cinética das pedaladas, que é convertida em eletricidade.
A iniciativa é mais uma resposta da cidade à necessidade global de reduzir a emissão de gases de efeito estufa e encontrar soluções criativas para a transição energética. Com o projeto, Amsterdã espera inspirar outras cidades do mundo a adotarem estratégias semelhantes, aproveitando recursos já existentes no cotidiano urbano para promover um futuro mais sustentável. Afinal, em tempos de crise climática, iniciativas como essa mostram que inovação e simplicidade podem caminhar lado a lado.
O segredo das bicicletas geradoras de energia está na roda dianteira. Equipadas com baterias inteligentes, as rodas conseguem armazenar a energia gerada durante as pedaladas. Como afirmam os desenvolvedores, em um vídeo explicativo sobre o funcionamento do sistema, a energia cinética produzida pelo movimento da bicicleta é convertida em eletricidade e armazenada diretamente na roda. No final do dia, quando o ciclista estaciona sua bicicleta em um bicicletário especial da empresa responsável, essa energia é transferida para a rede elétrica do bairro conectado ao sistema.
A proposta é concentrar a implementação dessa tecnologia na região central de Amsterdã. O motivo está ligado à legislação e à aceitação popular: no centro, é proibida a instalação de painéis solares, e a população tem resistências a estruturas como subestações e transformadores elétricos. Assim, a tecnologia da S-Park oferece uma alternativa eficiente e discreta para a produção de energia renovável. A meta é que já em 2025 a cidade seja capaz de produzir até 25% de sua eletricidade de maneira sustentável, consolidando-se como um modelo global em inovação energética e mobilidade urbana.
Ciclovia solar impulsiona sustentabilidade
Foto: CRM/ Shutterstock
Inovações que geram energia limpa já não são uma novidade no país. Em Krommenie, cidade localizada a 25 km de Amsterdã, existe uma ciclovia capaz de gerar energia elétrica a partir da luz solar. A via foi construída com placas de concreto que incorporam células fotovoltaicas, protegidas por vidro temperado.
Denominado “Sola Road”, o projeto é capaz de produzir energia suficiente para alimentar a iluminação pública, os semáforos e até carregar carros elétricos. Dessa forma, os veículos elétricos se tornam ainda mais sustentáveis.
O protótipo do Sola Road foi apresentado em 2010 e, em 2014, iniciaram-se os testes com a abertura de uma parte da ciclovia. Foram liberados 70 metros de via, capazes de gerar energia suficiente para abastecer até três casas. Em 2015, os desenvolvedores anunciaram que a produção de energia superou as expectativas. Em seis meses, a ciclovia gerou mais de 3 mil kWh, o que é suficiente para abastecer uma residência de um morador por até um ano.
O ciclismo como pilar cultural
Foto: Taiga/ Shutterstock
Com 17 milhões de habitantes e 23 milhões de bicicletas, a Holanda tem uma média de 1,3 bicicleta por pessoa, conforme dados do Instituto Holandês de Análise de Política de Transporte. Ao contrário da maioria dos países, onde as bicicletas são associadas ao esporte ou ao lazer, na Holanda elas são um meio de transporte diário.
Em 2022, os holandeses pedalaram 4,8 bilhões de vezes, percorrendo um total de 18,2 bilhões de quilômetros. Isso equivale a uma média de 3 km por pessoa por dia. Cerca de 28% de todas as viagens na Holanda são feitas de bicicleta, sendo a maior parte (20%) com bicicletas convencionais, enquanto as e-bikes, modelos elétricos, representam 8%.
O sucesso do ciclismo na Holanda pode ser atribuído, em grande parte, à combinação de uma vontade política com uma estrutura governamental consistente. Ao longo de décadas, os governos holandeses reconheceram a importância do ciclismo para a saúde pública, a sustentabilidade ambiental e a mobilidade urbana. Esse entendimento resultou em investimentos direcionados ao incentivo do uso de bicicletas, pesquisa sobre o tema e apoio a iniciativas relacionadas. Atualmente, as bicicletas se mostram uma ferramenta para atingir as metas do governo para reduzir as emissões de carbono.
Bicicletas geradoras de energia no Brasil: pedalando rumo à energia limpa
Embora o Brasil não tenha uma cultura de ciclismo tão enraizada quanto a da Holanda, tem adotado iniciativas que também usam as bicicletas para gerar energia elétrica. Um exemplo disso é a Ecobike, projetada para ser fixada em um ponto e converter as pedaladas em eletricidade. Desenvolvida pela empresa Ecogreens, a Ecobike possui uma bateria que armazena a energia cinética excedente gerada pelo movimento do usuário.
Segundo André Amaral, porta-voz da empresa, uma hora de pedalada pode gerar cerca de 500 watts, o suficiente para alimentar 100 lâmpadas ou carregar 100 celulares. Esse valor também é suficiente para carregar a bateria de 10 notebooks ou manter cinco televisores de LED de 32 polegadas ligados por uma hora.
Em entrevista ao UOL, Amaral ressaltou que a tecnologia que utiliza energia cinética já é aplicada no Brasil há pelo menos 10 anos e pode ser empregada em diversas situações, como brinquedos de parques infantis, como o “gira-gira”. Atualmente, as Ecobikes estão disponíveis para locação, especialmente em eventos, com preços que variam conforme a quantidade de unidades alugadas.
Foto: Reprodução/ BikeCine
Um exemplo de evento que adota essa tecnologia é o BikeCine, que leva sessões de cinema a várias cidades do Brasil. O diferencial desse evento é a maneira como a energia necessária para a exibição dos filmes é gerada: os participantes são incentivados a pedalar em bicicletas fornecidas pelo evento ou a trazer suas próprias bicicletas, gerando energia limpa enquanto assistem aos filmes. Para aqueles que preferem uma experiência mais confortável, também há cadeiras para assistir à programação com todo o conforto.
Enquanto países como a Holanda avançam em sua jornada para integrar o ciclismo à cultura de mobilidade urbana e sustentabilidade, iniciativas semelhantes começam a ganhar força em outras partes do mundo. As bicicletas, que já são um pilar da vida cotidiana, podem se tornar ainda mais poderosas na transição para um futuro energético mais saudável, limpo e renovável.
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