As crises da Covid-19, do clima e da desigualdade social devem moldar as cidades do futuro positivamente. E a base para essa afirmação de Anne Massen e Rogier van den Berg é a história. Especialistas em cidades do futuro da WRI, sendo que ela é líder global da WRI Ross Center Prize for Cities e Berg ocupa a posição de diretor global no mesmo departamento, eles escreveram um artigo recentemente detalhando a questão.
“Parques, ruas largas e até mesmo os banheiros de nossas casas são um legado importante de surtos de cólera no passado. Hoje estão tão incorporados em nosso dia a dia que são considerados elementos básicos das cidades modernas”, adiantaram eles para explicar que as doenças, portanto, moldaram o desenho urbano e devem continuar a fazê-lo. “E isso pode ser para o bem ou para o mal, sendo que três perguntas podem ajudar a entender o cenário pós-pandemia”, salientaram.
A primeira delas é se as perturbações e incertezas seriam o novo normal das cidades. Não é uma questão retórica, uma vez que a pandemia veio acompanhada da piora na condições climáticas e acentuou as desigualdades sociais. “Essas três crises [citadas no início do texto] colocam uma pressão sem precedentes sobre a vida nas cidades e intensificam problemas pré-existentes, como exclusão social, racismo, falta de moradia e poluição”, destacam.
Entre os pontos de reflexão estão o uso de novas tecnologias de vacinação e inteligência artificial no combate às crises, mas ao mesmo tempo existe a possibilidade de que elas acentuem o gap entre quem tem acesso e quem não tem acesso aos recursos.
Resiliência, inclusão e sustentabilidade nas cidades do futuro
A segunda pergunta é se as cidades resilientes podem ser inclusivas e sustentáveis. E ela faz todo o sentido, pois estamos vivendo uma crise tripla, que exige não só resiliência, mas inclusão e sustentabilidade. Os centros urbanos precisam ter resiliência para enfrentar a combinação de emergência sanitária, acentuada por problemas climáticos como inundações, sem falar das ameaças de terrorismo tradicional e de ciberataques. Isso, inclusive, interrompe a infraestrutura de energia, o que pode paralisar hospitais e outras instalações urbanas críticas. “Nem sempre será possível conciliar os objetivos de combate à crise tripla e isso pode criar dilemas no planejamento urbano”, pontuam Anne Massen e Rogier van den Berg.
A terceira e última pergunta é como as cidades podem aprender melhor e aplicar os aprendizados atuais, e a resposta está na cultura de troca de experiências entre as próprias cidades. “Apesar das inúmeras diferenças locais e regionais, quando precisam de inspiração, as cidades costumam recorrer a seus pares. Em diversas áreas, como clima, justiça e questões relacionadas à sustentabilidade, este aprendizado de cidade para cidade se tornou uma prática nas últimas décadas, oferecendo à elas um ecossistema rico de trocas”, destaca o artigo.
Segundo os especialistas, um exemplo da velocidade e agilidade das redes de cidades é a recente Força-Tarefa Global para Recuperação da Covid-19, criada pelo C40 Cities apenas algumas semanas depois do início da pandemia para ofecer às cidades acesso a abordagens e aprendizados em rede. Ele também chama a atenção para iniciativas como “laboratórios de vida urbana” e “distritos experimentais”, que podem colocar o aprendizado a favor do enfrentamento de crises.