Recentemente, compartilhei minha visão sobre o valor estratégico do empreendedorismo social: uma evolução do paradigma de resultados, em que performance de negócios e performance social são inseparáveis em termos de valuation para as organizações. Longe de sugerir uma visão do tipo alarmista – algo do tipo “enquadre-se no ESG ou sofra as consequências” – entendo o que temos é, sim, um cenário animador e que multiplica possibilidades.
Mais do que um sentido de urgência, vivemos tempos que inspiram uma reflexão otimista, de terrenos férteis para iniciativas ESG: não se trata de “se”, e sim de “como”. A consciência de que não é sobre “fazer bonito” (e sim sobre fazer negócios de forma contemporânea e estratégica) é um marco: ela amplia a noção de sustentabilidade e abre frentes de atuação corporativa – o que, também, evidencia a complexidade do tema.
Por que complexidade? Porque dentre os desafios do empreendedorismo social, talvez o mais significativo seja concretizá-lo de fato. Como cultivar aqueles terrenos férteis para que as boas intenções dêem frutos – ou seja, impactos positivos, e de forma contínua?
Ativar de verdade o empreendedorismo social envolve fatores diversos, e eles convergem em identificar com precisão iniciativas e agentes capazes de fazer acontecer. Falo aqui de encontrar, impulsionar e também de formar esses atores fundamentais que reúnem visão de negócios, visão social, capacidade de mobilização e, claro, boas ideias.
Pensando dentro da organização: criamos espaços para aprimorar nosso impacto social ao avaliar constantemente os impactos do negócio nas comunidades; ao compreender as possibilidades e necessidades de atuação; ao envolver o time; ao tornar viáveis e frequentes as práticas relacionadas aos indicadores ambientais, sociais e de governança. E, especialmente, quando consolidamos uma cultura organizacional que dê espaço para que as pessoas desenvolvam sua visão e ação social-empreendedora em sintonia com a empresa.
Acredito que é aqui que os expoentes surgem – e quando surgem, devem ser incentivados, desenvolvidos, ter acesso aos recursos de que precisam, da mesma forma que estimulamos as ideias, tecnologias e estratégias de valor relacionadas ao core business.
Por outro lado, a conexão com a realidade em que vivemos requer um olhar atento também para além dos nossos muros: há muita gente boa e iniciativas potentes acontecendo, que podem e devem ser incorporadas às estratégias ESG das empresas – dentro de critérios consistentes do seu potencial em impacto social e do seu alinhamento estratégico. Em poucas palavras, coerência e relevância.
Nesse sentido, programas de fomento desenvolvidos sobre a lógica de performance social e de negócios combinadas, com foco no alinhamento aos propósitos organizacionais, indicam um caminho promissor.
Como exemplo próximo, aponto o Educar para Transformar do Instituto MRV: em chamada pública, o projeto seleciona iniciativas em educação para ter acompanhamento e participação da empresa com recursos financeiros, materiais e de capacitação. A sintonia com o que a gente acredita na MRV, em especial o protagonismo da educação na transformação social, é um ponto chave na avaliação dos candidatos. Assim, identificamos, trazemos para perto e impulsionamos ideias e idealizadores que se conectam com a nossa visão; e também contribuímos de forma mais ampla – com os objetivos de cada iniciativa e com o empreendedorismo social como um todo.
É um modelo virtuoso para sociedade, empresas, equipes, mobilizadores, projetos; e, especialmente, para o ecossistema do empreendedorismo social, que se fortalece para poder se perpetuar não só como um desejo latente – mas como uma realidade bem concreta, com impacto positivo para todos e sempre.