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Inovação incremental, entre o simples e o complexo
Mais barata e acessível, inovação incremental pode ter alto impacto a partir de materiais e processos já existentes.
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Redação em 12 de dezembro de 2023 4minutos de leitura
Uma pesquisa global feita pela empresa Dell Technologies, em parceria com a consultoria Vanson Bourne, revela que 83% dos líderes de negócios e TI das companhias brasileiras acreditam que as empresas em que atuam são inovadoras. Contudo, o estudo, intitulado Innovation Index, detecta que apenas 5% desses líderes estão em empresas inovadoras, de fato. Embora baixa, essa parcela está acima da média global, de 2% dos líderes de negócios e TI. A pesquisa foi feita em 45 países e ouviu 6.600 líderes, incluindo 300 brasileiros. Um instrumento simples, barato e acessível pode ajudar empresas brasileiras a ampliarem a fatia de 5% e alcançarem a inovação na prática: a chamada inovação incremental.
Cunhado pelo cientista político e economista Joseph Schumpeter em 1939, no livro “Business Cycle”, a inovação incremental consiste em usar materiais existentes e disponíveis para criar algo novo, com outros usos, ou em melhorar processos, serviços, experiências ou produtos conhecidos. Ao utilizar como base algo existente, é menos complexa e mais econômica, pois não requer altos investimentos em pesquisas e desenvolvimento, o que também reduz significativamente o risco e os gastos com recursos e insumos para o projeto sair do papel. Pode ser aplicada em produtos, serviços, organizações, processos produtivos, modelos de negócios, logística e marketing.
Entram nesta categoria algumas tecnologias criadas a partir da Inovação Orientada à Sustentabilidade (IOS), que são focadas na diminuição dos impactos socioeconômicos e ambientais negativos das empresas. É o caso da extração da tinta do shrink (plástico que envolve o PET e as latinhas), que tornou essas embalagens recicláveis. A tecnologia foi desenvolvida pela Ambev, em parceria com a startup Deink, e implementada nas plantas industriais da fabricante de bebidas. Tratam-se, portanto, de casos de mudanças na operação e nos processos internos já existentes em uma empresa para reduzir poluição e outros riscos ambientais, e alterações no gerenciamento de um produto ou serviço ao longo da cadeia de suprimentos, desenvolvidas internamente.
Versatilidade de vidro
Material simples e acessível, o vidro está em nosso dia a dia em janelas, garrafas e outros objetos translúcidos, mas ele tem aplicações surpreendentes, creditadas à inovação incremental.
Nas estradas, as faixas brilhantes de sinalização que guiam os motoristas são feitas de microesferas de vidro. Quando incorporadas à tinta de sinalização, refletem a luz dos faróis dos veículos, o que gera maior visibilidade e segurança.
Já os vidros farmacêuticos garantem a eficácia de remédios e vacinas por terem propriedades que evitam a degradação dos produtos químicos, garantindo que os medicamentos permaneçam estáveis e eficazes por mais tempo, principalmente os sensíveis a calor, luz e umidade.
Eles também podem contribuir para a eficiência energética global, seja em placas solares que ajudam a gerar energia limpa e sustentável, ou por meio de suas propriedades de isolamento térmico e controle de luz, ajudando a regular a temperatura interna de edifícios e a reduzir a necessidade de aquecimento e refrigeração convencionais.
Inovação incremental, do poder fluido ao barro
Materiais líquidos têm aplicações inimagináveis, que lembram um filme de ficção científica. É o caso de um dispositivo que usa a mecânica dos fluidos para testar produtos cosméticos e avaliar a toxicidade de matérias-primas no corpo humano. O método, alternativo ao teste em animais, foi desenvolvido pela Natura em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
A metodologia “Human-on-a-chip”, já aplicada em pesquisas em áreas como a de cosméticos, utiliza estruturas biológicas equivalentes a órgãos humanos, fabricadas em laboratório e integradas de forma a reproduzir o funcionamento do organismo. A novidade é aplicar técnicas de microfluídica (ciência que estuda o comportamento dos fluidos) a esse sistema, simulando um tipo de hemodiálise, com ativação de um fluxo de líquidos e soluções imitando a circulação sanguínea. Isso permite que pesquisadores e cientistas avaliem os efeitos de um ingrediente cosmético em órgãos e na pele. E viabiliza uma melhor análise de toxicidade e segurança dos ingredientes dos cosméticos, que na maioria das vezes são extraídos da natureza e ainda não passaram por testes.
Outro exemplo surpreendente de inovação incremental é a utilização de líquidos para revestir edifícios, como o sistema de janela líquida, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Harvard. A tecnologia consiste no uso de diferentes tipos de fluidos entre duas camadas grossas e protegidas de vidro, para controlar a opacidade do visor.
Material simples, o barro é visto com novos olhos por arquitetos e urbanistas que buscam soluções que tornem as cidades mais sustentáveis. A partir dos conhecimentos de povos originários ou das comunidades locais, como é o caso da bioconstrução, casas e prédios feitos com o material (seja do tipo adobe ou taipa), além de serem sustentáveis, também têm a vantagem de sobreviver a terremotos, furacões e outros eventos climáticos extremos.
É por meio da inovação incremental que a transversalidade do setor têxtil se torna realidade. Nas cidades, materiais têxteis são usados para isolamento acústico de edifícios e indústrias; ajudam a conectar municípios ou regiões, uma vez que são utilizados na construção de estradas, vias férreas, túneis e outras estruturas subterrâneas; são fundamentais para evitar enchentes e desmoronamento de áreas, pois são aplicados em sistemas de drenagem e de controle de erosão (proteção costeira, revestimento da margem de rios ou canais); também em reservatórios, barragens ou depósitos de resíduos sólidos e líquidos. No campo, são utilizados em adubação controlada e elementos geotêxteis, que formam uma proteção contra geadas, raios solares, pragas e insetos.
Em parceria, o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (SENAI CETIQT), o Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras, a Bio-Manguinhos (Fiocruz) e a empresa Diklatex desenvolveram um tecido capaz de neutralizar mais de 99,9% das partículas virais respiratórias do sarampo e da caxumba. Após testar positivamente para esses dois vírus, os pesquisadores confirmaram que o tecido, desenvolvido para ser utilizado em máscaras cirúrgicas, jalecos e aventais, tem a mesma eficácia para a Covid-19.
Embora o conceito de inovação seja mais recorrentemente associado a iniciativas inéditas, caras e pouco acessíveis, concebidas no complexo mundo da tecnologia, a inovação incremental mostra que desencadear transformações profundas pode fazer parte do dia a dia das organizações.
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