Medir é o primeiro passo para as smart cities

CEO e fundadora da Bright Cities - plataforma brasileira de diagnósticos e roteiros para cidades inteligentes - Raquel Cardamone explica a importância dos indicadores na formação de smart cities.

Por Redação em 25 de julho de 2022 4 minutos de leitura

smart cities

Antes de olhar para as próximas décadas, os planejadores urbanos precisam observar atentamente outro fator ainda mais complexo: o presente. Para a CEO e fundadora da Bright Cities, Raquel Cardamone, antes mesmo de pensar em tecnologias, as cidades precisam fazer um raio x claro e transparente de todas as suas ações, pois os indicadores servem para calibrar os esforços para tornar os espaços “mais inteligentes”. É nesse meio de campo que atua a GovTech – uma plataforma que gera diagnósticos e roteiros para que a gestão pública atue de forma a tornar as cidades mais eficientes e inteligentes, as smart cities.

“Você já deve ter lido aquela projeção da Organização das Nações Unidas (ONU) de que até 2050 70% da população mundial vai viver em cidades. No Brasil, isso já é realidade há muito tempo, 90% da população brasileira mora em cidades. Planejar melhor é uma necessidade gigantesca”, diz Raquel. Segundo a executiva, a concepção de cidade inteligente como um lugar high tech, cheio de sensores e robôs, que esteve no imaginário de muitos, não faz mais sentido. A cidade inteligente, diz ela, é onde a tecnologia é usada em função de melhorar a qualidade de vida dos moradores, bem como manter a gestão sustentável tanto ambientalmente, quanto financeiramente. 

Nesse sentido, uma cidade que aplica bem o dinheiro arrecadado por impostos também é uma “smart city”. Usar bem o investimento, por sua vez, significa investir em soluções com objetivos claros. “A cidade inteligente é aquela que sabe utilizar muito bem os recursos que já tem, seja em pessoas, seja em infraestrutura”, acrescenta.

Medir para melhorar, o princípio das smart cities

O movimento de GovTechs ganhou força com a transformação digital do setor público, que exige do governo uma agilidade cada vez maior. Em uma velocidade que, nem sempre, a máquina pública consegue resolver. No caso da Bright Cities o foco é melhorar o desenvolvimento das cidades, buscando unificar a experiência dos gestores. 

Em uma única plataforma os gestores conseguem ver o diagnóstico das cidades, em comparação a outras, e observar cases e ferramentas para melhorar seus indicadores.  

“O diagnóstico é desenvolvido para ajudar no roteiro da transformação digital das cidades”, comenta Raquel. O roteiro, por sua vez, passa por indicadores clássicos, como economia, meio ambiente e saúde, mas também por segmentos que apoiam o crescimento de cidades inovadoras: empreendedorismo, tecnologia e inovação. A visualização dos índices em gráficos também facilita a identificação e entendimento dos principais pontos de melhoria.  

Ao dividir os indicadores, com base nas análises do ISO para cidades, a Bright Cities mostra, inclusive, como elas podem atingir todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A granularidade é essencial, explica Raquel, já que os ODS foram amplamente divulgados, mas ainda faltam ações unificadas nos municípios. “Vemos iniciativas de cidades inteligentes no Brasil, mas não observamos o conceito de cidade inteligente colocado nos Estados na totalidade”, pondera a executiva.

A divisão dos indicadores em categorias mais factíveis permite que “qualquer cidade atinja e aplique o conceito de cidades inteligentes”. “Respeitamos a particularidade de cada município, e mostramos os gargalos que existem para eles”, diz Raquel. A executiva lembra que, no Brasil, apenas cidades com mais de 80 mil habitantes são obrigadas a fazer planos diretores, o que significa que existe um grande gap de lugares menores que precisam dos indicadores para apoiar a criação de políticas públicas. “As cidades podem acessar os dados a qualquer momento, e eles são atualizados todos os meses. Além disso, elas podem comparar os números com outras da região, para entender se o andamento está dentro do desejado”, fala Raquel.

Dos números à prática

Muitas vezes os indicadores sozinhos não podem ajudar a administração pública a atingir os objetivos. Raquel exemplifica: “Existem indicadores e o objetivo de acabar com a fome. Mas como se mensura que a cidade precisa acabar com a fome? Os dados podem direcionar melhor o planejamento, lógico, mas as cidades precisam de sugestões de como fazer isso de maneira prática.”

Por isso, o diagnóstico é seguido de um marketplace, como se fosse um mercado livre de soluções para smart cities. Já são mais de 1,3 mil soluções digitais separadas em categorias, sob a curadoria da Bright Cities, que também faz um filtro para os gestores públicos entenderem as melhores práticas. “Tentamos ser a ponte entre as startups e a gestão pública. O nosso time busca por soluções ativamente, mas também temos um espaço para receber indicações de soluções. Só entram na plataforma aquelas que já foram validadas e testadas”, explica Raquel. 

Uma das plataformas, por exemplo, é a Comida Invisível, que busca uma utilização melhor das comidas que sobram nos restaurantes.  Na plataforma, é possível entrar em contato com a Comida Invisível, o que corta um caminho para as ações do município. 

Para que as ações ganhem vida também é crucial que o setor privado atue para transformar os municípios em smart cities. “O importante é que todo mundo trabalhe em conjunto, tendo em vista os mesmos objetivos. No caso dos ODS, especificamente, o desafio é que temos oito anos para atingir esses objetivos e temos muito trabalho para ser feito. Se ele puder ser dividido entre os setores, melhor”, finaliza a executiva.