Nobel da Arquitetura vai para construções sustentáveis de Francis Kéré

Expoente do afrofuturismo e do uso de materiais locais para construções, arquiteto de Burkina Faso foi considerado expoente da arquitetura sustentável.

Por Redação em 17 de março de 2022 4 minutos de leitura

Nobel da Arquitetura
Xylem, photo courtesy of Iwan Baan

Conhecido como o “Nobel da Arquitetura”, o Prêmio Pritzker de 2022  foi concedido a Diébedo Francis Kéré, arquiteto de Burkina Faso, expoente das construções sustentáveis. Kéré foi o primeiro profissional negro a ganhar a premiação, que é a maior honraria da arquitetura. “Espero mudar o paradigma, levar as pessoas a sonhar e a arriscar. Não é porque você é rico que você deve desperdiçar material. Não é porque você é pobre que você não deve tentar criar algo de qualidade”, disse Kéré à Fundação Hyatt, que concede o prêmio. “Todo mundo merece qualidade, todo mundo merece luxo e todo mundo merece conforto. Estamos interligados e as preocupações com o clima, a democracia e a escassez são preocupações de todos nós”, continuou. 

De acordo com o presidente da The Hyatt Foundation Tom Pritzker, Kéré é pioneiro na arquitetura sustentável, tanto para o ambiente quanto para as pessoas, em situações de escassez. “Ele é igualmente arquiteto e servidor, aprimorando as vidas e experiências de inúmeros cidadãos em uma região do mundo às vezes esquecida. Por meio dos edifícios que demonstram beleza, humildade, ousadia e inovação, e pela integridade de sua arquitetura, Kéré cumpre a missão desse prêmio“, falou Pritzker em comunicado. 

O júri do “Nobel da Arquitetura” enalteceu o trabalho do arquiteto na criação de comunidades por meio de suas construções. Nascido em Burkina Faso, ele conta com obras espalhadas por países africanos, entre escolas, centros cívicos e hospitais. “Temos que lutar para criar a qualidade que precisamos para melhorar a vida das pessoas”, falou Kéré.

Francis Kéré expoente do afrofuturismo sustentável

Por seguir com designs inovadores, mesmo a partir de materiais e formas mais tradicionais de construir, Kéré é apontado como um dos principais nomes do “afrofuturismo” na arquitetura – um movimento que traz a narrativa da inovação para os criadores africanos e as suas interpretações da cultura do continente. 

Mas um dos grandes diferenciais das construções de Diébedo Francis Kéré está no processo e na seleção dos materiais utilizados, priorizando o entorno, no caso de sua região, são elementos como barro e madeira. Uma das suas primeiras construções foi a escola primária em sua cidade natal, Gando. O espaço foi erguido em parceria com moradores, que também ajudaram Kéré na procura pelos melhores materiais. O escolhido nessa construção foi a terra. “Nós a transformamos e usamos para criar um edifício aparentemente muito bom e sólido. Aprendi que é necessário acreditar para inovar e aí então as pessoas passam a fazer parte. Eu só queria que minha comunidade fizesse parte desse processo”, comentou o arquiteto em entrevista ao Archdaily

Além de escolas, Kére já criou espaços no Mali e em Moçambique e foi o primeiro africano a ser convidado para fazer um pavilhão na Serpentine Gallery, em Londres. “Minha solução consiste em projetar e construir para a escassez, em contextos onde não há recursos para pagar por eletricidade, mas o que estou fazendo não é apenas para as pessoas ou regiões pobres. Mesmo um país rico, hoje em dia, não pode se dar ao luxo de desperdiçar energia. Soluções passivas são excelentes. Recentemente, no ocidente, o Coronavírus gerou uma preocupação em criar fluxo de ar dentro das edificações, então é preciso abrir as janelas”, explicou. A sustentabilidade, portanto, vem como consequência dos processos construtivos. “Eu acho que na arquitetura hoje em dia, todo mundo quer demonstrar que seus trabalhos são sustentáveis. Para mim, é algo que eu faço e que eu sempre fiz. Eu tento usar o material da maneira mais eficiente possível. Eu tento ver o que já tem disponível no local, discutir e buscar junto com o cliente o melhor material para o projeto. E, lógico, pensamos em projetar de uma maneira que não consuma energia tanto para aquecimento quanto para resfriamento”, contou à revista Pinup.

Confira as principais construções de Kéré, o Nobel da Arquitetura

Escola Primária em Gando, Burkina Faso / Pritzker Architecture Prize
Leo Doctor’s Housing, Clínica de Saúde em Burkina Farso / Pritzker Architecture Prize
Parque Nacional do Mali / Pritzker Architecture Prize
Xylem, em Montna, nos Estados Unidos / Pritzker Architecture Prize
Sarbalé Ke, Pavilhão em Indio nos Estados Unidos / Pritzker Architecture Prize
Centro para Saúde e Bem-Estar Social em Laongo, Burkina Faso / Pritzker Architecture Prize
Benga Riverside School, em Tete, no Moçambique / Pritzker Architecture Prize