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Há cada vez mais carros elétricos nas cidades, mas elas estão preparadas?
Os carros elétricos estão em alta no Brasil, mas a infraestrutura das cidades precisa acompanhar.
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Redação em 19 de dezembro de 2023 6minutos de leitura
O mercado de carros elétricos está em alta no Brasil, com crescimento de vendas de veículos e investimentos de montadoras no país. É uma boa notícia para o meio ambiente e para as cidades brasileiras, uma vez que esse tipo de carro não emite gases de efeito estufa, diferentemente dos veículos movidos a gasolina e diesel. Por outro lado, há um desafio para o segmento: a instalação de pontos de carregamento de veículos elétricos em edifícios residenciais e comerciais, postos de combustível, estradas e outros locais acessíveis para os motoristas que escolheram – ou escolherão – o carro elétrico. Há necessidade de infraestrutura, de adaptação das cidades, para que estejam preparadas para essa nova realidade.
Segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), em 2023 o país ultrapassou a marca de 150 mil veículos elétricos em circulação. No primeiro semestre do ano, foram vendidas 26.014 unidades, um aumento de 59% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em novembro deste ano, foram registrados mais de 10 mil emplacamentos de veículos leves elétricos.
O setor recebe grandes investimentos. A empresa Eletra Tração Elétrica, que fabrica ônibus elétricos 100% nacionais, inaugurou, em junho de 2023, fábrica em São Bernardo do Campo (SP) com capacidade para produzir 150 ônibus elétricos por mês. No mês seguinte, foi anunciada aquisição da fábrica da Ford, na Bahia, pela montadora chinesa Build Your Dreams (BYD), maior empresa de automóveis elétricos do mundo, que investirá 3 bilhões de reais para operar três fábricas no complexo de Camaçari, a 50 quilômetros de Salvador, o que deve gerar cinco mil empregos.
A montadora chinesa também anunciou o lançamento do compacto Seagull com preço estimado entre 100 mil reais e 110 mil reais – será o carro elétrico mais barato do Brasil. “Em outros mercados do mundo, principalmente China e Índia, já vemos modelos elétricos sendo vendidos por valores abaixo dos seus concorrentes a combustão. Isso, combinado com o baixo custo de manutenção dos veículos elétricos, é uma verdadeira revolução para a indústria”, comenta Ricardo David, sócio-diretor da Elev, empresa especializada em soluções para a eletromobilidade.
Ônibus mais barato?
Esse pode ser um novo momento para o país quanto à eletrificação das suas frotas, marcado pelo início do barateamento do preço desse tipo de veículo. “O carro elétrico terá a sua popularização quando derrubamos a principal barreira: seu custo de entrada. Pois o investimento, hoje, em um automóvel eletrificado representa uma economia, em longo e médio prazo, para os usuários”, diz David. “Os fatos recentes dos investimentos na produção de ônibus elétricos podem representar uma economia para os cofres públicos e podem ser um vetor para a diminuição do preço das passagens, principalmente porque os ônibus elétricos podem trazer uma economia de até 70% nos custos operacionais”, destaca o executivo.
Mas será que a infraestrutura urbana está preparada para essa nova fase? A principal necessidade é a instalação de eletropostos,que são estações de carregamento, que fornecem energia para carregar as baterias dos veículos (carros, motos e outros veículos elétricos). O eletroposto é conectado a uma fonte de energia elétrica, como a rede elétrica da cidade, usinas de energia ou fontes de energia renovável, como painéis solares e turbinas eólicas.
Há três tipos de estação de recarga. O eletroposto público é instalado em áreas de livre acesso, como ruas, avenidas, praças e outros espaços públicos. Podem ser utilizados por qualquer pessoa que tenha um veículo elétrico, tornando-se uma opção prática e conveniente para a recarga em locais de trânsito intenso. Já o eletroposto privado fica em estacionamentos de empresas, condomínios, shoppings, supermercados e outros locais particulares, e são de uso exclusivo dos clientes ou funcionários do estabelecimento. Por fim, o eletroposto rápido (de carga rápida ou ultrarrápida), que é mais caro do que os demais tipos, e é capaz de carregar a bateria do veículo elétrico em menos tempo, cerca de 1 hora, permitindo uma recarga mais rápida e eficiente. É encontrado em rodovias, postos de combustíveis e outros locais estratégicos que permitem a recarga rápida em viagens longas.
7h de espera
No caso de edifícios residenciais, poucos têm infraestrutura para recarga de carros elétricos e, quando têm, são poucas vagas. Ou seja: se vários moradores comprarem um carro elétrico, a disputa pelo ponto será acirrada. O detalhe é que a recarga completa demora, em média, 7 horas; ou seja, um único veículo fica estacionado no ponto por todo esse tempo até que o próximo veículo possa fazer a recarga, o que levará a esperas que podem atrapalhar o dia a dia do usuário. O custo de um eletroposto de recarga ultrarrápida, que em cerca de meia hora recarrega até 80% da bateria do veículo, é bem superior aos carregadores comuns.
A boa notícia é que a quantidade de eletropostos públicos cresce no Brasil. O número de eletropostos públicos cresceu 28% no Brasil entre janeiro e agosto, segundo pesquisa da ABVE – passou de 2.955 para 3.800 pontos de recarga. O aumento se deve, principalmente, às parcerias de companhias interessadas em ampliar negócios em mobilidade. É o caso das empresas Zletric e 99, que, em setembro de 2023, inauguraram um centro de recarga na região da Av. Paulista, em São Paulo. No total, são 11 pontos: 8 plugs de carregamento lento (7 horas para 100% da bateria) e 3 ultrarrápidos (50 minutos para a carga total). A ação faz parte da Aliança pela Mobilidade Sustentável, que envolve 13 empresas. Já a No Carbon, empresa da JBS especializada em locação de veículos 100% elétricos, fez acordo com a startup de eletromobilidade EZ Volt para fornecimento de pontos de recarga para frota de caminhões. Foram instalados 100 carregadores em 3 meses, em 11 centros de distribuição da JBS, em 10 estados brasileiros. A frota é responsável pela distribuição de alimentos.
Outro dado positivo é que 52% dos shopping centers brasileiros têm carregadores de carros elétricos, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).
Boa vontade pública e privada
Em artigo no portal Ig, Glaucia Savin, advogada e especialista em gestão ambiental e poluição do ar, destaca que eletropontos estão sendo instalados de forma casual, a depender da boa vontade e capacidade de investimento de proprietários e gestores de comércios e condomínios. “Os pontos são divulgados por aplicativos, mas, obviamente, a distribuição passa longe de qualquer planejamento estruturado. O Poder Público, alheio à transformação que, silenciosamente, se espalha pela cidade, não tem qualquer diretriz em relação à rede de recargas”, diz ela, que usa carro elétrico desde 2017.
O movimento atual de eletrificação da frota no setor leva, segundo Glaucia, a “uma mudança significativa na dinâmica de mobilidade nos grandes centros urbanos e as cidades precisam se preparar para atender a esse novo modal, reorganizando a infraestrutura”. Outro ponto colocado por ela é a adoção de modelos elétricos para o transporte público: “os veículos elétricos não devem ser vistos como um luxo, apenas para entusiastas que podem arcar com os custos, sempre mais elevados”.
A ampliação do número de eletropostos é fundamental para a expansão da eletromobilidade. Para isso, em áreas particulares, o caminho é o diálogo com os condomínios, que precisam determinar questões como espaços reservados para os automóveis e rede de fornecimento de energia. Já na área pública, é fundamental a participação das prefeituras e câmaras municipais para contemplarem, em planos de mobilidade urbana, infraestrura para carros elétricos. No caso do transporte público, a discussão sobre a elevação de ônibus elétricos também precisa avançar para que as cidades consigam reduzir a poluição do ar. No entanto, vale lembrar que o metrô, por exemplo, é um veículo elétrico que não só não tem emissões de carbono mas, também, contribui para a redução do trânsito em grandes centros urbanos.
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