Dia de Sobrecarga da Terra é planeta no cheque especial

Data marca momento em que a demanda da humanidade por insumos excede o que o planeta pode regenerar.

Por Ana Cecília Panizza em 29 de abril de 2025 4 minutos de leitura

Dia de Sobrecarga da Terra
Foto: New Africa/ Shutterstock

O planeta está cansado. Literalmente, no limite. É isso que evidencia o Dia de Sobrecarga da Terra, data em que a demanda da humanidade por insumos excede o que o planeta pode regenerar. É como se ele entrasse no cheque especial.

Desde 2020 os cálculos apontam que a data chega cada vez mais cedo. Em 2024, o dia de sobrecarga calculado pela organização de pesquisa Global Footprint Network, que tem escritórios nos Estados Unidos, Suíça e Itália, foi 1 de agosto. Em 1971, primeiro ano em que o cálculo foi feito, a data caiu em 25 de dezembro. Para este ano, a data será anunciada em 5 de junho, quando se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente.

O objetivo é aumentar a conscientização das pessoas quanto aos prejuízos ambientais que a atual taxa de consumo acarreta para a população e o planeta. Um alerta de que o atual consumo desenfreado, que liquida estoques de recursos ecológicos e acumula resíduos, principalmente CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera, é insustentável.

Como mostra no gráfico abaixo, a parte azul aponta os Dias de Sobrecarga da Terra de cada ano. As partes em vermelho representam os períodos de déficit ambiental.

Versão traduzida do gráfico Past Earth Overshoot Days

Cálculo 

O Dia de Sobrecarga da Terra é calculado a partir de métricas de pegada ecológica global (quantidade de recursos naturais que uma pessoa, comunidade ou país consome) e de biocapacidade (capacidade de uma área de produzir recursos renováveis e absorver resíduos), por meio de estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU). Essas contas incorporam os dados mais recentes e a metodologia contábil mais atualizada. Para estimar a data, a pegada ecológica e a biocapacidade são projetadas para cada ano usando dados de fontes adicionais, como o Global Carbon Project.

Enquanto a pegada ecológica se preocupa em medir a demanda de uma população por recursos, como alimentos, produtos de pecuária e pesca, madeira, espaço para infraestrutura urbana e florestas, entre outros, a biocapacidade de uma cidade, estado ou nação representa sua área terrestre e marítima biologicamente produtiva, que inclui florestas, pastagens, terras cultiváveis, áreas de pesca e terras construídas. 

A sobrecarga de cada país

Dia de Sobrecarga da Terra
Foto: Svet foto/ Shutterstock

A Global Footprint Network também calcula o Dia de Sobrecarga de cada país, data em que o orçamento anual de biocapacidade do planeta seria esgotado se a população da Terra vivesse no mesmo nível de consumo dos moradores da nação em questão. Preparada pela Ecological Footprint Initiative da York University para FoDaFo, o órgão regulador das National Footprint and Biocapacity Accounts, a edição de 2025 inclui resultados de 1961 a 2024. Devido a defasagens de tempo nos relatórios de dados, os resultados de 2022 a 2024 foram baseados em dados reais e estimativas preliminares, semelhantes às previsões do Produto Interno Bruto (PIB) de cada país. 

Para o cálculo de cada país são consideradas informações como dados de área agrícola (atualizações de estatísticas de terras de pastagem e terras agrícolas do ResourceStat da FAO da ONU); dados do Orçamento Global de Carbono (estimativas revisadas para absorção de carbono oceânico) e classificações comerciais (ajustes no carbono incorporado ao comércio devido à reestruturação nos conjuntos de dados do Comtrade da ONU). “A competição pela biocapacidade do nosso planeta está se intensificando com o resto do mundo, dado que a demanda da humanidade excede agora em 75% o que os ecossistemas do planeta podem renovar. A consequência é o acúmulo de dívida ecológica global – aumento dos níveis de CO2 na atmosfera, escassez de água potável, diminuição das florestas”, aponta a Global Footprint Network em seu site.

O país com maior dívida ecológica é o Catar, que terá já está em déficit desde 6 de fevereiro. No Brasil, a data da sobrecarga será 1º de agosto. Em 2024 e 2023 o país atingiu a data em 4 de agosto e 12 de agosto, respectivamente, o que aponta que a taxa de consumo de recursos naturais do país está cada vez mais alta.  Os 10 países com maior dívida ecológica em 2025 são:   

  1. Catar – 6 de fevereiro de 2025.
  2. Luxemburgo – 17 de fevereiro de 2025.
  3. Cingapura – 26 de fevereiro de 2025.
  4. Mongólia – 2 de março de 2025.
  5. Estônia – 4 de março de 2025.
  6. Kuwait – 7 de março de 2025.
  7. Letônia – 7 de março de 2025.
  8. Bahrein – 9 de março de 2025.
  9. Estados Unidos – 13 de março de 2025.
  10. Omã – 15 de março de 2025.

Cheque especial

Segundo Gabriel Novaes, gerente de projetos ESG/Sustentabilidade da Fundação Vanzolini, “os dados deixam claro que nosso modelo de produção e consumo precisa mudar para garantir um futuro sustentável. Então, cada pessoa pode contribuir fazendo escolhas mais conscientes no dia a dia, como reduzir o desperdício de alimentos, optar por produtos sustentáveis, consumir menos plásticos e embalagens descartáveis, buscar gerar menos resíduos e fazer a separação dos recicláveis”. Priorizar meios de transporte menos poluentes, economizar água e energia e conscientizar amigos e familiares sempre que possível também são ações necessárias, segundo o gerente. “São pequenas mudanças no comportamento individual que, quando adotadas em larga escala, fazem uma grande diferença e ajudam a reduzir a pegada ecológica da sociedade e a preservar os recursos naturais”, frisa ele. 

Gabriel Novaes (Foto: Divulgação)

As empresas, por sua vez, alerta ele, têm impacto ainda maior e, por isso, exercem papel essencial nessa transformação, para a qual precisam investir em práticas para reduzir emissões de gases de efeito estufa e de poluentes atmosféricos, reduzir o consumo de água e de energia, otimizar processos, reduzir o desperdício e a geração de resíduos, utilizar matérias-primas e insumos de origem menos impactante, adotar a economia circular e tornar suas cadeias produtivas mais responsáveis. “Além de reduzir impactos ambientais, isso impulsiona inovação, torna os negócios mais resilientes e fortalece a relação com consumidores e investidores cada vez mais atentos a questões ambientais e sociais”, acrescenta. 

Já as cidades e os governos, segundo ele, precisam liderar políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis em todos os setores, melhorar o transporte público, investir em energia renovável, promover construções mais eficientes, reduzir desperdícios, educar e engajar a sociedade nessas ações. 

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