Marcelo Costa: cidade precisa fazer as pazes com os animais
Ele resgata cobras, aranhas e até mesmo quatis e tem o objetivo de recriar florestas nativas no espaço urbano. Conheça Marcelo Costa
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Camila de Lira em 27 de fevereiro de 2023 4minutos de leitura
O encontro com uma serpente venenosa mudou a vida de Marcelo Costa. Mas não é do jeito que todos imaginam. Era uma jararaca, uma das cobras mais peçonhentas do Brasil. O educador ambiental não foi picado, muito menos ameaçado pelo animal; Marcelo o resgatou na parte de trás de uma casa. E ali percebeu ter uma forma de cuidar do meio ambiente nas cidades, com um olhar para os animais.
“Eu trabalhava na defesa civil e recebi o chamado para retirar uma jararaca, a qual capturei com todo o cuidado. E percebi que recebíamos muitos chamados para retirar animais com os quais ninguém sabia lidar. A solução não era matar esses bichos, então comecei a pesquisar alternativas para isso”, conta Costa.
O especialista fez cursos, entrou em contato com mais e mais animais e viu que a melhor forma de lidar com esta vida que também estava nas cidades: criar a Selvagem Urbano. uma organização que atua no resgate de animais silvestres, no apoio para a sua reabilitação e também para a educação ambiental.
Além da Selvagem Urbano, Costa encabeça o Ressavanar, um projeto que tem como objetivo trazer árvores nativas e criar florestas para as cidades. “Precisamos valorizar as áreas da cidade e o habitat dos animais. As árvores que plantamos são frutíferas, oriundas da nossa mata atlântica”, afirma Costa.
Cidade é morada de todos
O primeiro passo que Costa quer combater é a aversão que as pessoas da cidade sentem por animais silvestres.
“Os animais silvestres têm papel fundamental para o meio ambiente, pois fazem o controle de pragas, ajudam a equilibrar o ecossistema. E ainda assim são mal vistos. Um exemplo é o urubu, que é importantíssimo para ajudar a decomposição”, aponta Costa.
O educador ambiental também lembra dos casos de abelhas e marimbondos que, apesar do veneno e das picadas “doloridas”, são polinizadores fortíssimos, responsáveis por “espalhar” plantas diversas pelos espaços verdes. “Todos têm importância no nosso ecossistema, abelha por abelha. Já passou a época de matar esses insetos com tocha de fogo”, comenta.
Lagartos e calangos também assustam as pessoas, lembra Marcelo, mas são importantes para evitar mosquitos e outros insetos. “Os animais são nossos aliados e precisamos buscar novas formas de enxergar, interagir e protegê-los no perímetro urbano”, acrescenta o educador ambiental.
Toda a forma de vida
Nesse sentido, veio o projeto do Ressavanar, porque cuidar da fauna é também pensar na flora. Espaços verdes na cidade podem ser mais do que apenas jardins ou gramados, afirma Costa. Para ele, trabalhar com as árvores nativas é dar espaço para os animais “terem onde viver”, além de melhorar a qualidade de vida dos humanos.
“Trabalhamos com o conceito de reflorestamento regenerativo. A ideia não é plantar qualquer árvore, mas valorizar as frutas e as plantas da região”, fala Costa. E isso significa também não plantar árvores que ficaram conhecidas por aqui, mas não são originárias da Mata Atlântica, como a manga ou o abacate, pois elas desequilibram o bioma.
Assim como as espécies nativas fazem bem para os bichos, eles são indicativos de que a vegetação está saudável. A presença de um animal silvestre em áreas de floresta replantadas, inclusive, é um bom sinal. “Significa que a floresta está em harmonia, bem preservada”, aponta.
Saúde animal e humana é especialidade de Marcelo Costa
Antes de cuidar das vidas animais (e das plantas), Costa era dedicado à saúde humana. O criador da Selvagem Urbano é técnico em enfermagem, especializado em lidar com idosos. A paciência que ele aprendeu nesta época permaneceu na maneira com que ele trata os animais.
“Sempre busco uma alternativa de não estressar os animais, uso caixas de transporte e também espero para ele se acostumar com a minha presença”, diz Costa. Com paciência e amor, o especialista conta sobre cada história de animais que já resgatou, desde porcos-espinho até quatis, passando por répteis e insetos.
“Acredito que, enquanto passamos por aqui, temos a oportunidade de deixar coisas boas e legados positivos para as futuras gerações. Eu só faço a minha parte”, finaliza.
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