Uma das indústrias que mais emprega no Brasil, com grande influência na economia nacional, o setor da construção civil vem sendo constantemente cobrado por seus impactos ambientais. Dentre as possíveis consequências, o uso de técnicas construtivas pouco eficientes, o alto consumo de recursos, o descarte de resíduos sólidos (que culmina na liberação de gás carbônico), a poluição sonora e o risco de acidentes.
Tais obstáculos têm preocupado gestores que, para contornar o problema, estão adaptando seus processos na obra com foco em torná-la mais sustentável, reduzindo seu impacto ambiental.
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A partir dos anos 1990, tornaram-se mais fortes os movimentos em prol de um desenvolvimento sustentável. São desta época os primeiros passos para resolver problemas de produtividade, custos e prazos, com foco em uma construção mais enxuta.
Com as recentes preocupações externadas, não seria exagero afirmar que o modelo tradicional de construção não irá se sustentar por muito tempo, segundo o relatório “Mapeamento de incentivos econômicos para a construção sustentável”, divulgado em 2022 pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção.
Se antes, modelos de construção tradicionais visavam atingir objetivos como qualidade, tempo e custos associados ao produto, no caso de construções sustentáveis, a obra deve agregar temas relacionados às preocupações com o futuro do planeta, por exemplo, a minimização do consumo de recursos (energia, água, materiais e solo), a degradação ambiental e a criação de um ambiente que garanta saúde e conforto humanos, entre outros aspectos.
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Isso significa ir além das preocupações com a limitação do uso de recursos naturais ou da utilização de materiais, componentes e adoção de tecnologias sustentáveis de construção. As questões, hoje, são mais abrangentes e menos técnicas, envolvendo aspectos econômicos, sociais e culturais.

Fato é que os conceitos que envolvem a sustentabilidade na obra podem encontrar obstáculos para a sua tradução prática. No entanto, algumas definições podem nos levar a “construções verdes” ou “edifícios sustentáveis”. Na primeira, os edifícios são “ambientalmente responsáveis, da escolha da localização do projeto, construção, operação, manutenção, renovações e desconstrução”, como define o “Construindo Cidades Verdes: Manual de Políticas Públicas para Construção Sustentável”, publicado em 2011, pelo Iclei Brasil (Governos Locais pela Sustentabilidade).
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Já edifícios sustentáveis se referem àqueles que fazem parte da própria infraestrutura macro de uma cidade, contribuindo não só para o meio ambiente, mas para a própria comunidade. Eles “coexistem em um sistema integrado e funcionam com energias limpas e renováveis; fazem o melhor uso possível dos recursos locais, utilizando materiais reciclados e reutilizados; buscam ser regenerativos, contribuindo ativamente para a biodiversidade local e segurança alimentar; esforçam-se para se adaptar e evoluir com as mudanças climáticas, econômicas e sociais, além de salvaguardar o bem-estar e a saúde humana”, destaca o estudo do Iclei Brasil.
Por dentro de obra

Alternativas ao modelo clássico de construção, amparadas em novas tecnologias, equipamentos e técnicas modernas de gestão de obra tornam possível o desenvolvimento de projetos eficientes sob o prisma da sustentabilidade.
Confira exemplos de práticas sustentáveis adotadas em canteiros de obras, citadas na Tese: “Práticas recomendadas para a gestão mais sustentável de canteiros de obras”, da Universidade de São Paulo (2009) .
- Gestão eficiente dos recursos: captação da água da chuva pela instalação de sistemas próprios; adoção de sistemas de iluminação com leds e implementação de fontes renováveis de energia; uso de madeira certificada; incorporação de critérios de sustentabilidade na seleção de fornecedores; utilização de fôrmas; utilização de comunicação visual; palestras aos trabalhadores sobre redução do consumo desnecessário de recursos.
- Gestão das fontes de emissões e dos incômodos: identificação e resolução do problema.
- Gestão de resíduos de construção e demolição: atendimento rigoroso de gerenciamento de resíduos no canteiro; emprego de resíduos por meio de reutilização ou reciclagem, com foco na redução da quantidade de materiais enviados para os aterros.
- Implantação e operação da infraestrutura do canteiro de obras: redução dos impactos nas etapas de serviços preliminares (prevenção de erosão, definições relacionadas a vegetação nativa), na implantação de produção e apoio (medidas para circulação de máquinas, redução da obstrução de vias públicas, práticas ambientais de armazenamento e movimentação dos produtos), na implantação de produção e apoio e das interferências na vizinhança (canais de interação).
- Impactos sociais e econômicos dos canteiros: respeito aos pisos salariais firmados com sindicatos; manutenção da relação contratual; existência de uma política explícita de não discriminação; apoio ao desenvolvimento de funcionários contratados e fornecedores, cuidados com a saúde de todos e apoio ao desenvolvimento local.
O conceito de sustentabilidade vem sendo constantemente modificado e atualizado. A redução dos impactos ao meio ambiente gera ganhos não só para o próprio setor e para aqueles que usufruem de seus empreendimentos, mas para toda a comunidade.