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Pacto trinacional recupera 1 milhão de hectares da Mata Atlântica
Iniciativa foi condecorada como uma das dez mais relevantes do mundo. Meta são 15 milhões de hectares da Mata Atlântica restaurados até 2050.
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Marcus Lopes em 25 de março de 2024 4minutos de leitura
Ilustração gerada com inteligência artificial
Da extensa faixa verde que deixou os europeus extasiados quando chegaram em Pindorama – “terra das palmeiras”, em tupi-guarani -, só restam 25%. O que sobrou da mata que percorria todo o litoral das terras recém-descobertas hoje é foco do Pacto Trinacional da Mata Atlântica. Atuante desde 2009, a iniciativa foi condecorada em dezembro do ano passado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma Referência da Restauração Mundial – uma das dez mais relevantes para reavivar o mundo natural em todo o planeta. O projeto foi tema de uma das produções de uma série de documentários em vídeo, com o titulo “Como a América do Sul está restaurando 500 anos de desmatamento”.
Com cerca de um milhão de hectares em processo de recuperação atualmente, o trabalho é desenvolvido em toda a Mata Atlântica. São mais de 300 instituições nacionais e internacionais em defesa do ambiente. “Em todo o mundo, nossas florestas estão sitiadas”, explicou a diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Inger Andersen. “A restauração da Mata Atlântica por meio do envolvimento das comunidades locais é um poderoso lembrete de que a natureza pode curar quando há uma chance, com enormes benefícios nesse processo”, completou Inger, em comunicado distribuído pelas Nações Unidas no Brasil. O período entre 2021 e 2030 foi declarado pela ONU como a Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas.
Mudando a história de mais de 5 séculos
A Mata Atlântica cobria a maior parte da costa brasileira, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. A Zona da Mata mineira, por exemplo, ganhou esse nome por conta das grandes áreas de Mata Atlântica que ali existiam.
Em alguns pontos, o tapete verde natural chegava a mais de 200 quilômetros de extensão continente adentro, garantindo comida, água e tudo o mais que era necessário aos povos nativos que já habitavam o continente.
Desde o início da colonização, foi justamente na Mata Atlântica que surgiram as grandes cidades do País e se desenvolveram os principais ciclos econômicos da História do Brasil: pau-brasil, ciclo do ouro, da cana-de-açúcar e do café. Tudo isso em uma época em que progresso econômico e preservação ambiental eram entendidos como palavras totalmente dissociadas uma da outra.
Embora essa relação tenha mudado significativamente desde então, recuperar o que foi perdido e preservar o que ainda resta é um desafio complexo que demanda ações conjuntas e urgentes , não só pelo seu valor histórico, mas pelo que ela significa para o futuro do planeta.
Esse é um dos diferenciais do Pacto, que envolve não apenas diferentes países, mas também, sempre que possível, as comunidades que habitam as regiões. “A força do Pacto vem da junção de diversos elos, como uma corrente, que consolida o movimento como referência mundial. São diversos temas trabalhados que vão muito além da preservação”, explica Taruhim Quadros, representante da Rede Trinacional de Restauração da Mata Atlântica.
As ações do movimento vão além de manter a floresta em pé. “Estamos falando de soluções para a crise climática, para a crise da biodiversidade e desenvolvimento socioeconômico”, explica Taruhim, que também é analista de Conservação do WWF-Brasil, uma das principais organizações não-governamentais do País em defesa do meio ambiente.
Para se ter uma ideia, o trabalho de recuperação da mata nativa já conquistado até o momento proporcionou a criação de 126 mil empregos diretos e indiretos. Há também a parte educacional. Programas como o “Restaura Natureza” resultaram no engajamento de mais de sete mil estudantes em ações educacionais voltadas à preservação e recuperação das matas. A economia criativa e a economia verde, com atividades econômicas ligadas à preservação, entre elas o turismo sustentável, também estão no radar dos preservacionistas.
No trabalho de campo, um dos resultados comemorados é o aumento da população de onças-pintadas no corredor verde binacional, uma área de floresta próxima ao Parque Nacional do Iguaçu. Os mais de 90 felinos vivos da espécie, que estava praticamente extinta naquela região, hoje formam uma das maiores comunidades de onças pintadas de toda a Mata Atlântica. “Isso só aconteceu por causa do esforço de diversas instituições de conservação, que se juntaram e trabalharam para que a onça-pintada continue sendo um símbolo da Mata Atlântica”, explica Taruhim.
Mesmo com a pressão exercida pelas áreas densamente urbanizadas e industriais, incluindo as principais metrópoles do País – Rio de Janeiro e São Paulo – a Mata Atlântica ainda é um bioma essencial para a continuidade da vida. Além de garantir o abastecimento de água para milhões de pessoas, trata-se de um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade de plantas e animais.
Grande parte dos animais nativos originários ainda habita a Mata Atlântica, apesar do perigo de extinção de alguns deles. “Correm especial perigo os animais maiores ou do topo da cadeia alimentar, como a anta e a onça-pintada”, explica o ambientalista José Pedro de Oliveira Costa no livro “Uma História das Florestas Brasileiras” (Editora Autêntica). Das 23 espécies de macacos nativos da mata, 17 correm o risco de desaparecer.
A meta do Pacto Trinacional é viabilizar a restauração, até 2050, de 15 milhões de hectares da Mata Atlântica no Brasil, Argentina e Paraguai – uma área maior do que a de todo o Nepal, Grécia ou Nicarágua. Os desafios ainda são grandes, como lidar com a falta de recursos para as ações e conquistar produtores rurais a aderirem às práticas de economia sustentável em suas propriedades. Tudo isso exige engajamento dos setores público e privado para reversão da degradação do que já foi destruído e, ao mesmo tempo, para a preservação da floresta que ainda resta de pé.
“Sabemos que é desafiador, mas é possível”, diz Taruhim, destacando que, em pouco tempo, um milhão de hectares já foram recuperados. “Esses resultados mostram como a natureza não tem fronteiras. Esse é o princípio do nosso movimento”, completa a ambientalista.
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