Segue reto toda vida! Como as pessoas indicam ruas em cidades pequenas?

Pesquisadora sul-africana analisa como cidadãos indicam os caminhos em cidades que não têm nome de rua.

Por Redação em 24 de agosto de 2022 2 minutos de leitura

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Algumas cidades optam por nomes, outros por números, mas como as pessoas “se encontram” em espaços urbanos onde as ruas não tem nenhuma indicação gráfica? Será que existe uma maneira única de indicar os caminhos? A pesquisadora sul-africana, Lorato Mokwena, levou essa pergunta à fundo e analisou como residentes de cidades remotas de seu país “indicavam os caminhos”   O resultado é surpreendentemente parecido com o que a gente está acostumado em nossos bairros e cidades pequenas.

Lorato foi para as cidades de Ulco e Delportshopp, no nordeste da África do Sul, e fez perguntas simples aos moradores: como faço para chegar no mercado? Ou como chego à sua casa? Enquanto em Ulco, não há placas ou nomes para indicar a rua – afinal, a cidade tem menos de 1 mil habitantes – em Delportshopp há placas, mas poucas indicações visuais de como chegar aos lugares. 

O que Lorato percebeu foi que os moradores, mesmo com suas diferenças, usavam sinais parecidos para dar as indicações. “Os moradores usaram uma mistura de marcadores espaciais rurais e urbanos para produzir direções orais de rotas. Eles também inventaram nomes de ruas”, diz a pesquisadora em postagem no site The South African

Propósito, características e nome dos moradores são usados para nomear as ruas

As cidades foram escolhidas pela pesquisadora não só pelo tamanho, ou pela falta de sinalizações, mas por conta da diversidade. Ambas cidades têm moradores que não falam a mesma língua, o que dificulta na hora de dar as direções. Mas o que se provou não foi exatamente isso. 

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Reprodução: Site The South African

Nos ambientes rurais, os moradores entendem o mapa a partir dos recursos naturais. Usam, por exemplo, “grandes árvores” como ponto de referência, nas cidades, casas de pessoas conhecidas, bem como lojas e escolas, são usadas como referência. “Para combater a ausência de nomes de ruas, os moradores de Ulco, particularmente, inventaram nomes de ruas. As ruas receberam nomes não oficiais de acordo com o propósito a que serviam (por exemplo, estrada principal), características que existiam nas proximidades (por exemplo, uma clínica) ou um morador popular”, comentou a pesquisadora.

Segue em frente e vira ali

Loreta também percebeu que as pessoas tinham formas diferentes de medir as distâncias. Em vez de dizer o espaço em quilômetros, elas diziam em “direto”, com diferencial na pronúncia. Quando falavam simplesmente “siga direto”, significava que a distância de viagem era curta. Já se repetiam “direto, direto”, significava que era um pouco mais longe. Já a palavra “direeeeto”, com essa expansão, significava muito mais distante. Quem nunca escutou um “é bem perto” ou “segue toda vida”?

“Como os sistemas de transporte público são precários nesses locais, a distância é percebida principalmente em termos de caminhada – o que é diferente da compreensão de distância em áreas onde as pessoas se locomovem em veículos”, comentou a pesquisadora.

Para ela, os resultados da análise mostram que planejadores urbanos precisam também levar em conta o ambiente linguístico na hora de pensar em como sinalizar os espaços. E que devem também escutar os moradores para compreender como as pessoas vivem e entendem a cidade – antes de desenhar o planejamento.