Vencedor de um concurso de design, projeto é inspirado em uma espinha de peixe. Maior que o Pentágono, tem consumo de energia 50% inferior aos padrões e permite deslocamento entre torres em menos de seis minutos.
Antuérpia, na Bélgica, pode até ser mundialmente conhecida por seu comércio de diamantes, assim como Rússia e África do Sul são conhecidas por abrigarem as jazidas da maior parte das pedras brutas desse mineral. Mas é em Surat, na Índia – a cidade menos conhecida das gemas – onde são lapidados cerca de 90% dos diamantes do planeta. Foi para fomentar os negócios na região que a cidade localizada a 240 quilômetros de Mumbai conseguiu um novo atributo para entrar no rol dos superlativos: o Surat Diamond Bourse, considerado o maior prédio comercial do mundo.
Futuro destino para mais de 65 mil profissionais do ramo, incluindo cortadores, polidores e comerciantes, o recém-inaugurado complexo é composto por nove estruturas retangulares de 15 andares conectadas por meio de uma espécie de coluna vertebral. Sua área construída é de cerca de 620 mil metros quadrados – maior que o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que tem pouco mais de 600 mil metros quadrados – e comporta mais de 4,5 mil escritórios.
“Espera-se que esta iniciativa gere um volume de negócios de mais de 2 Lakh Crore (aproximadamente, US$ 27 bilhões ou R$ 133,77 bilhões) anualmente.
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Atualmente, a maioria dos comerciantes de Surat tem de viajar diariamente mais de 250 quilômetros para chegar a Mumbai para realizar suas vendas, gerando grande impacto nos custos finais dos produtos. Assim, a construção do Surat Diamond Bourse deve representar uma vantagem competitiva para todos os envolvidos na indústria localmente, garantindo eficiência de custos.
“Com o Surat Diamond Bourse localizado em Surat, onde é feito corte, polimento e todo o processamento do diamante, haverá uma redução de custos em toda a cadeia de valor do fornecedor, com preços finais mais razoáveis”, informa Shri Vallabhbhai Maneklal Patel, que assina a presidência do complexo.
O edifício abrangerá instalações de ponta, incluindo uma casa aduaneira para importação e exportação, cofres bancários, seguradoras e joalherias. Segundo o “The Times of India”, comerciantes de diamantes antes localizados em Mumbai já adquiriram seus escritórios. Os espaços foram distribuídos pela administração na sequência de um processo de leilão.
Idealizado pelo escritório de arquitetura indiano Morphogenesis, após um concurso internacional de design, o Surat Diamond Bourse começou a ser construído em fevereiro de 2015, foi concluído no primeiro semestre de 2022 e inaugurado em dezembro de 2023. Seu design redefine a tipologia convencional de edifícios de escritórios.
Um eixo central ancora o edifício, conectando-o horizontal e verticalmente em todos os níveis. Suas nove torres de escritórios são intercalados com pátios para descanso e recreação. Elas são orientadas de norte a sul (protegidas do sol forte do oeste), o que permite que 75% dos espaços sejam preenchidos com luz difusa ao longo do dia.
Nele, os 4.700 escritórios variam de 28 metros quadrados a mais de 10,5 mil metros quadrados. Ou seja, é uma cidade dentro da cidade. Entre as comodidades estão uma ampla zona de alimentação de 10 mil metros quadrados, uma praça de varejo e mais 8 mil metros quadrados dedicados à saúde e ao bem-estar, além de área de conferências. O estacionamento possui capacidade para 4.500 carros e 10 mil veículos com duas rodas.
E é justamente a circulação de pessoas e cargas com segurança o grande desafio em um projeto como este. O edifício foi projetado com corredores transitáveis em todos os andares, semelhante a um terminal de aeroporto. E, mesmo com seu vasto tamanho, os arquitetos do empreendimento garantem: é possível caminhar entre suas torres de 15 andares levando menos de seis minutos usando os seus 131 elevados, todos gerenciados por um sofisticado sistema de controle.
O projeto emprega ainda uma série de técnicas de resfriamento ativo e passivo, que reduzem o consumo de energia do edifício em 50% em relação aos padrões de referência ecológicos da indústria, com desempenho de aproximadamente 45 kWh/m²/ano em comparação ao padrão de referência do Energy Conservation Building Code (ECBC) de 110 kWh/m²/ano.
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Segundo descrição da World Architecture Festival, o conforto térmico é “alcançado primeiro por blocos de auto-sombreamento intercalados entre quadras ajardinadas e orientados para isolar o forte sol do oeste. A coluna central se alarga em aletas verticais para afunilar os ventos predominantes através do efeito Venturi, garantindo que 100% dos espaços de circulação do edifício, equivalentes a 30% da área construída, sejam naturalmente ventilados. Os átrios escalonados permitem que o ar quente escape através do efeito de pilha durante os dias sem brisa.”
Os átrios, aliás, também incorporam elementos paisagísticos. Esses “pulmões verdes” promovem um microclima interno agradável. Além disso, o edifício possui uma das maiores instalações de refrigeração radiante, que utiliza água gelada circulada nos pisos e tetos. Todas essas intervenções resultaram na obtenção da classificação Platinum do Indian Green Building Council (IGBC).
O Surat Diamond Bourse foi projetado para responder ao modo de vida das comunidades de comércio de diamantes. Esses comerciantes têm um histórico de trabalho colaborativo, onde um profissional depende do outro na cadeia. Pensando nisso, o estúdio Morphogenesis revela que o edifício foi construído de forma democrática, como uma cooperativa.
“Todos trabalharam para que o local atendesse às necessidades de todos os comerciantes, com grandes espaços de escritórios designados para os comerciantes de grande escala, e pátios informais que pudessem ser usados de forma flexível para os de pequena escala. O projeto facilita interações casuais, atividades recreativas e comércio aberto, como em um bazar tradicional”, declararam Manit e Sonali Rastogi, sócios fundadores da Morphogenesis e os principais arquitetos do edifício, em entrevista ao portal Wion. Assim, empresas de grande e pequeno porte têm condições de concorrência equitativas. Todos os ocupantes têm acesso igual a comodidades e instalações.
A comunidade também esteve envolvida em todo o processo construtivo. Foram incorporados no edifício materiais de origem local. O granito vermelho Lakha e o arenito branco Gwalior foram adquiridos em um raio de 300 km. As comunidades trabalhadoras de pedra do Planalto de Deccan foram empregadas em todas as fases, desde a extração até ao tratamento e aplicação. Foram ainda instaladas unidades fabris para apoiar a construção, criando oportunidade de crescimento local. O maior prédio comercial do mundo também ajudou a estabelecer em torno novas infraestruturas, como escolas e hospitais, que surgiram como resultado da iniciativa comunitária.
Para o futuro, espera-se que as áreas em torno do Surat Diamond Bourse possam receber novos empreendimentos, incluindo um centro de convenções e hotéis cinco estrelas. No entanto, sabe-se que os desafios são grandes, não só pelo terreno recortado, mas pelo local cuja temperatura no calor pode passar dos 38ºC.
Fato é que o maior prédio comercial do mundo está preparado para revolucionar o comércio indiano de diamantes. Mais do que uma obra de arte arquitetônica, ao consolidar suas operações, o edifício deve atrair investidores globais, criar novos empregos e impulsionar exportações e importações. Ao mesmo tempo, compradores terão uma diversidade incomparável, com diamantes brutos e polidos, máquinas de ponta, laboratórios de certificações e pontos de venda de alta qualidade; e mais transparência no processo, uma vez que a infraestrutura centralizada e as regulamentações rigorosas garantem práticas comerciais justas e adequadas.
