Como os centros de formação impactam o espaço urbano
Artigo de Lessandro Lessa Rodrigues, PhD em Arquitetura e Urbanismo, mostra como os centros de formação profissional impactam o espaço urbano.
Por
Lessandro Lessa em 16 de maio de 2022 3minutos de leitura
Universidades têm sido utilizadas como elementos catalisadores de desenvolvimento urbano e regional no Brasil desde os anos 1950. Antes disso, internacionalmente elas já eram tidas como importantes ativos para o avanço de regiões nos EUA e em alguns países europeus. Mesmo assim, foi somente nos anos 1970 que no Brasil as instituições de ensino superior foram formalmente mencionadas como ferramentas para o desenvolvimento regional, por intermédio do I Plano Nacional de Desenvolvimento, conforme argumenta Alex de Oliveira Sartori, em sua dissertação de mestrado na Universidade de São Paulo.
Desde aquela época novas universidades foram criadas e antigas foram expandidas. Mais recentemente, entre os anos 2003 e 2010, foram instaladas 14 universidades federais no Brasil, que somadas às 45 anteriormente existentes totalizam 59 instituições de ensino superior públicas federais do País. Elas estão presentes em 237 municípios, em todas as regiões brasileiras, seja em suas instalações originais ou nos campi criados para a expansão daquelas já existentes, de acordo com Wendel Henrique Baumgartner, em artigo publicado na Revista Espaço Aberto.
Importante ressaltar que as unidades federais mais recentes foram implantadas não somente nas capitais dos estados, como tradicionalmente ocorreu, mas em cidades do interior e nas periferias das grandes metrópoles.
Espera-se que com essa estratégia a transformação das regiões que as receberam supere a desejada qualificação de mão-de-obra para o mercado de trabalho. Em verdade, para além dessa função, essas novas instituições são compreendidas como âncoras de processos de desenvolvimento local e regional. Diferentemente de outras atividades econômicas como a industrial e a comercial, as universidades, particularmente as públicas, tendem a permanecer onde estão instaladas mesmo com possíveis oscilações econômicas locais. Em geral, apesar de se nutrirem da economia local, elas ajudam a construir ciclos de desenvolvimento a partir da sua atuação na formação de mão-de-obra e suporte tecnológico para as mais variadas atividades e projetos sociais que geralmente coordenam.
Em geral o impacto das universidades (sejam elas públicas ou privadas) nas cidades é percebido como aquele decorrente de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Fala-se também dos impactos econômicos resultantes dos gastos de estudantes, professores e pessoal administrativo. Esses interferem na riqueza das cidades, em especial aquelas do interior, onde muitas vezes são as principais empregadoras locais. Mas, cabe indagar: haveria outros reflexos da presença dessas instituições nas cidades?
Ultimamente tem-se discutido seu papel na transformação física do espaço que ocupam. Essa dimensão tem sido foco de interesse de pesquisas desenvolvidas no Reino Unido. Em 2015, a University College of London, por meio do seu Urban Laboratory, publicou o resultado de uma pesquisa relacionada ao tema.
Em uma série de cinco estudos de caso, o laboratório explorou como as universidades impactam processos de revitalização urbana no Reino Unido e nos Estados Unidos. A coordenadora do trabalho, Dr. Clare Melhuish, busca informar como universidades, em parceria com outras instituições públicas e privadas, atuam em processos de desenvolvimento urbano. O estudo demonstra, dentre outros aspectos, que elas ancoram a ocupação e a instalação de atividades na sua vizinhança direta levando novos moradores e usuários para a região.
Esse potencial tem levado muitas universidades a explorarem um papel pouco usual: o de agentes imobiliários. No Reino Unido, universidades têm percebido que sua presença interfere nos preços praticados pelo mercado imobiliário em sua vizinhança e têm, por consequência, passado a atuar nesse mercado. Seus planos de expansão e adequação física, sendo assim, não vislumbram somente o ensino e a pesquisa, mas também o potencial impacto no mercado imobiliário local, o que em tese pode ser revertido em dividendos para as mesmas.
No Brasil são poucas as pesquisas que abordam essa dimensão. O que dizer então das universidades particulares que têm sido implantadas em diversos municípios de médio porte brasileiros? E de outras tantas que já funcionam por décadas em cidades que passaram a ser conhecidas como cidades universitárias?
É fato que instituições de ensino superior são capazes de transformar positivamente o espaço em que estão. Cabe perguntar se o seu potencial tem sido explorado ao máximo. Gestores públicos e dirigentes educacionais estão alertas para todos os possíveis impactos dessa atividade nas cidades? Essas são perguntas que merecem atenção, pois suas respostas podem ajudar a direcionar investimentos que, por fim, levarão, ou não, ao desenvolvimento econômico, social e urbano do espaço ocupado por essas instituições.
Lessandro Lessa Rodrigues, PhD em Arquitetura e Urbanismo-UFMG e Coordenador do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade de Itaúna.
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