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Urbanismo social: a transformação nas periferias brasileiras
O urbanismo social, por meio da integração de diferentes áreas, pode promover a melhoria da qualidade de vida nas periferias.
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Redação em 30 de junho de 2023 5minutos de leitura
Projeto Mais Vida nos Morros, em Recife (Foto: Marcos Pastich/ Flickr Prefeitura do Recife Oficial)
Melhorar a qualidade de vida dos moradores das periferias é um desafio que abrange todo o território brasileiro. Para enfrentar essa questão, algumas cidades tem adotado o conceito de urbanismo social.
Nessa abordagem, a participação social é a protagonista no enfrentamento de problemas comuns às regiões periféricas dos grandes centros urbanos, como moradias precárias, violência e falta de oportunidades. É uma maneira de driblar os obstáculos inerentes à ação de instituições governamentais, como mudanças de diretrizes e até interrupção de projetos por conta de mudanças de governantes e projetos pré-concebidos, sem levar em consideração as necessidades e demandas reais da comunidade.
A falta de uma visão integrada, que englobe diferentes áreas, como educação, cultura, esportes e emprego, é outro desafio a ser superado. São essas dificuldades que abriram espaço para uma abordagem diferente, na qual o poder público não é o único agente.
Participação comunitária na transformação da cidade
No urbanismo social, a busca por soluções envolve ativamente a participação da comunidade e de organizações da sociedade civil. Esse conceito teve origem em Medellín, na Colômbia, cidade que em apenas uma década passou de “a mais violenta do mundo”, em 1990, a “cidade mais inovadora”, em 2000, pela Revista Times.
A construção desse projeto foi resultado da interação e parceria entre o poder público, instituições acadêmicas, iniciativas privadas, organizações sociais e comunidades. A abordagem coletiva permitiu o desenvolvimento de ações e intervenções regionais que refletiram a cultura local, o contexto histórico e o modo de vida das pessoas envolvidas.
Veja também o episódio 22 do podcast Habitability:
Ou seja, o fio condutor do urbanismo social é o potencial das próprias comunidades, levando em consideração suas capacidades e conhecimentos. A premissa desse processo participativo é o poder que ele tem de transformar também as pessoas, uma vez que elas se sentem parte e se apropriam das ações.
“Você tenta despertar a potência da favela, a potência desses bairros, a partir dos seus moradores. Você aposta nesse processo e aposta que depois as pessoas não estarão iguais. Inclusive, elas vão aprender a lutar pela continuidade daquilo”, disse a copresidente da Consultoria Diagonal, Kátia Mello, em uma entrevista concedida ao G1.
Urbanismo Social no Brasil
Até a década de setenta do século XX, o crescimento populacional e o processo de urbanização no Brasil, especialmente em São Paulo, não foram acompanhados por políticas públicas efetivas de moradia para as classes populares e vulneráveis. Somente após a criação do Banco Nacional da Habitação (BNH) em 1964 é que essas políticas começaram a ser implementadas.
Durante décadas, projetos urbanos foram elaborados e espaços foram construídos e modificados, muitas vezes priorizando os interesses de uma classe específica da população. O resultado disso é visível ao caminhar pelas ruas de São Paulo, onde o contraste na paisagem urbana é marcante: de um lado, a cidade formal, e do outro, a cidade informal, separadas por muros, próximas uma da outra, mas distantes em termos de acesso à educação, infraestrutura básica, moradia digna e saneamento.
Por isso, é importante buscar soluções que promovam a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida nas áreas urbanas, por meio de um planejamento urbano mais equitativo e participativo, que envolva a comunidade local e considere suas necessidades e aspirações.
No Parque Novo Mundo, bairro da cidade de São Paulo, por exemplo, foi inaugurado, em 2020, um Centro Educacional Unificado (CEU), que se diferencia dos demais CEUs construídos em São Paulo nas últimas décadas, pois entende-se que não pode aplicar uma solução única para todos os territórios, uma vez que é necessário preparar e adaptar os projetos de acordo com as demandas e peculiaridades de cada região.
No local são oferecidas aulas de balé e ginástica para os moradores, além da disponibilidade da piscina para uso de todos, mesmo fora dos horários das aulas de natação. Também há um mural informativo que destaca a disponibilidade de vagas para cursos de capacitação, contação de histórias e aulas de violão, todos gratuitos.
Parque Cantinho do Céu
O Parque Cantinho do Céu, concebido pelo escritório Boldarini Arquitetura e elaborado com base nas diretrizes da Secretaria Municipal de Habitação, destaca-se na cidade de São Paulo por integrar à excelência de projeto o compromisso social.
Sua implantação não apenas trouxe uma melhoria significativa na qualidade de vida de uma área periférica carente de opções de lazer e entretenimento, mas também contribuiu para resgatar a autoestima dos moradores.
Localizado no extremo sul da cidade, no distrito de Grajaú, às margens da represa Billings, o projeto abrange o Complexo Cantinho do Céu, composto pelo Residencial dos Lagos, Cantinho do Céu e Jardim Gaivotas. A comunidade, formada por aproximadamente 10 mil famílias, ocupa uma área de cerca de 1,5 milhão de metros quadrados, caracterizada por moradias precárias e falta de infraestrutura básica.
Destaca-se, no contexto do Urbanismo Social, a importância das iniciativas comunitárias, startups e organizações sociais para o desenvolvimento e progresso das comunidades. Essas ações têm se tornado cada vez mais comuns nas grandes cidades, demonstrando a capacidade das lideranças e dos cidadãos em apresentar soluções de curto e médio prazos diante das limitações do poder público.
Compaz, em Recife
O projeto Compaz (Comunidade Morada da Paz), localizado nas periferias da cidade de Recife, é um exemplo notável de como o urbanismo social, inspirado em Medellín, pode gerar impacto social e transformação territorial por meio do investimento e da gestão pública. Idealizado por Murilo Cavalcanti, secretário de segurança cidadã da prefeitura de Recife, o projeto demonstra o potencial de um equipamento urbano em melhorar a vida dos mais vulneráveis.
O Compaz busca oferecer apoio e oportunidades para aqueles que mais precisam por meio de iniciativas nas áreas de tecnologia, cultura, esporte e qualificação profissional. Além disso, o projeto estabelece políticas públicas de prevenção social ao crime, fortalece o senso de comunidade e promove o sentimento de pertencimento.
Em tempos de ações administrativas ainda tão fragmentadas, fica claro que o urbanismo social, com o envolvimento da comunidade e da região, pode ser uma forma de integrar todas as políticas públicas ao mesmo tempo. Isso significa transformar os resultados positivos em uma estratégia intencional para melhorar a vida das pessoas nos grandes centros.
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