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A arquitetura pode curar traumas?
Espaços projetados para acolher e curar traumas de populações vulneráveis têm impacto positivo nas cidades e na comunidade.
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Redação em 8 de maio de 2023 3minutos de leitura
Reprodução: Bloomberg / Matthew Stave
Segundo o “Trauma-Informed Design” (TID), a arquitetura pode curar traumas. Mas, para isso, o design precisa estar atento ao principal componente da equação: as pessoas. São elas que transformam quatro paredes em um lar e é na mão de planejadores e da comunidade, que um gramado vira um parque público.
A tendência abrange a visão de que os projetos de construções não só afetam, como também são afetados pela saúde mental daqueles que vão utilizar o espaço com mais frequência. O processo acata a escuta ativa das pessoas, bem como o entendimento de que os traumas alteram a percepção física dos lugares.
O trauma, nesse caso, pode ser descrito como uma resposta a um evento profundamente angustiante ou perturbador, seja um único incidente ou algo ocorrido repetidamente, que supera a capacidade de enfrentamento de um indivíduo. O trauma pode causar sentimentos de desamparo, diminuição do senso de identidade, incapacidade de sentir toda a gama de emoções e uma variedade de problemas de saúde física.
O design informado sobre o trauma, ou TID, abrange adaptações no ambiente construído fundamentado na compreensão do trauma que enfatiza aspectos físicos, psicológicos e segurança emocional para os provedores e sobreviventes, e que cria oportunidades para os sobreviventes reconstruírem um senso de controle e empoderamento”. Com isso, os prédios e construções se tornam a “linha de frente para a terapia”.
O TID já fazia parte do design de hospitais e casas de repouso, já que são lugares criados para literalmente curar pessoas. O que acontece, hoje em dia, é que o conceito está se alargando para outros ambientes da cidade, como abrigos e clínicas populares. A população vulnerável, como moradores de rua ou crianças que passaram por abuso ou negligência, têm mais exposição a traumas, o que significa que os espaços pensados para eles precisa ter atenção quanto ao tema.
Mas “qualquer ambiente, qualquer lugar, qualquer população se beneficiará do projeto informado sobre o trauma”, disse J. Davis Harte, diretor do programa de mestrado Design for Human Health no Boston Architectural College e co-fundador do Trauma-Informed Design Sociedade, ou TIDS, em entrevista à Bloomberg.
A voz dos outros
Os princípios do design informado sobre o trauma incluem segurança, confiabilidade, transparência, colaboração, empoderamento, voz e escolha. Além de questões culturais, históricas e de gênero. Na prática, o TID é um processo que acrescenta o viés da necessidade pessoal no desenho dos espaços.
Um dos trabalhos do escritório norte-americano de arquitetura Shopworks foi com o projeto Arroyo Village, um abrigo para população de rua em Denver. A remodelação do lugar veio depois de uma série de entrevistas com aqueles que passavam pelo lugar diariamente. Tais conversas mostraram, por exemplo, que muitas das pessoas ali tinham traumas com espaços fechados e não supervisionados. Dessa forma, o design dos lugares compartilhados foi pensado em sempre ter alguém da staff do abrigo por perto. Assim, todos se sentiriam mais seguros.
Já no The Elisabeta, projeto de habitação popular também da Shopworks, o escritório focou nas áreas seguras para crianças. O que foi percebido durante as conversas era que as famílias maiores, que iam para o projeto, tinham traumas com o paradeiro das crianças.
A arquitetura para curar traumas
Para chegar no ambiente, o TID dá preferência ao uso de materiais naturais, de plantas locais, de iluminação ampla e de cores suaves. Como também o repensar de espaços coletivos, com foco no pertencimento.
O TID passa pela catalogação de gatilhos sensoriais e espaciais a serem evitados – sons perturbadores (e repetidos), falta de segurança real ou percebida, ruído visual e orientação pouco clara, que pode incluir curvas cegas, linhas de visão bloqueadas e corredores indistinguíveis. Os designers evitam itens comuns em edifícios institucionais sombrios que muitas pessoas podem associar a traumas, como telhas rebaixadas e lâmpadas fluorescentes.
Às vezes, o design para a cura está nos detalhes. Como o que foi feito na Naomi`s House, abrigo para vítimas de tráfico sexual em Chicago. Feito pela organização Design for Dignity, o lugar conta com sofás cheios de almofadas. A razão? As mulheres do abrigo pediram algo para segurar durante momentos emocionalmente vulneráveis.
Para os arquitetos da Shopworks e os pesquisadores da Universidade de Denver, é uma transformação de paradigmas para a profissão. Mudar o foco de abrigar pessoas para curar pessoas pode promover dignidade e alegria, além de ser um lugar para que todos prosperem.
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