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Bônus de longevidade e vida do interior são o futuro do Brasil
Crescimento de cidades fora do litoral e bônus de longevidade é o que se pode esperar para o Brasil, indica especialista.
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Camila de Lira em 10 de julho de 2023 5minutos de leitura
José Eustáquio Diniz Alves
O Brasil foi para o interior e gostou. Os primeiros dados do Censo de 2022 mostraram crescimento de cidades afastadas do litoral. Além disso, traz um retrato de como será o futuro da maior parte da população do País: em uma cidade média, no interior e com uma vida mais longeva.
A população brasileira cresceu menos do que o esperado e os primeiros dados do Censo Demográfico de 2022, levado a campo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicaram uma população total de 203.062.512 habitantes. As regiões mais populosas do País são, pela ordem, o Sudeste, o Nordeste e o Sul. Mas as regiões que mais cresceram foram o Norte e o Centro-Oeste. O Censo indicou que as cidades com menos de 50 mil habitantes concentram 31,5% da população brasileira, as cidades de 50 mil a 100 mil habitantes concentram 11,5% da população e as cidades com mais de 100 mil habitantes concentram 57% da população.
“Sem dúvida, o futuro do Brasil continuará sendo urbano e mais concentrado nas grandes cidades, mas os municípios que mais crescem são os não litorâneos”, projeta José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador aposentado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Alves é também escritor do livro “Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e Cenários para o Século 21”.
Contudo, embora urbano e com grande peso das megalópoles, as cidades que mais crescem são aquelas de 100 mil a 500 mil habitantes, conforme mostra o gráfico abaixo. Em 1970, mais da metade da população brasileira estava concentrada nos municípios de 20 mil a 50 mil habitantes. Mas, ao longo das décadas seguintes, o peso dos municípios com menos de 50 mil habitantes se reduziu, os municípios de 50 mil a 100 mil habitantes mantiveram aproximadamente o mesmo percentual e, ao mesmo tempo, cresceu a concentração populacional dos municípios com mais de 100 mil habitantes.
Grandes e históricas cidades fundadas ainda no século XVI, na área costeira do País, apresentaram pela primeira vez uma redução populacional. Recife, fundada em 1537, Salvador, fundada em 1549 e Rio de Janeiro, fundada em 1565, dentre outras capitais tiveram diminuição inédita do volume populacional.
Menos é mais?
A população brasileira continua crescendo, mas os primeiros dados do Censo Demográfico mostraram a desaceleração da taxa geométrica de crescimento populacional anual. O movimento começou nos anos 1970 e se intensificou nas décadas seguintes. Entre os Censos de 1980 e 2000, a taxa de crescimento populacional passou de 2,48% para 1,64%.
O demógrafo projeta que daqui a 15 anos, a população brasileira começará a reduzir. “Ou seja, não vai ter mais espaço para o crescimento exponencial e de novas megalópoles como São Paulo ou Rio de Janeiro. Não teremos outra região metropolitana tão grande”, afirma Alves.
O que surpreendeu nos dados de 2022, no entanto, foi o grau de aceleração desta redução. Em dez anos, o Brasil passou de um crescimento populacional de 1,17% ao ano para 0,52% ao ano, ou seja, reduziu pela metade, o que apoia a projeção que Eustáquio faz da possível redução na população brasileira nas próximas décadas.
Enquanto alguns argumentam que a redução populacional terá consequências negativas para o País, Alves vai à contramão. Para o doutor, quando se coloca o prisma da crise climática, contar com cidades menos populosas está longe de ser um cenário negativo. “O decrescimento da população pode ajudar no processo de adaptação climática”, diz ele.
Há chance de se criar adensamentos urbanos mais organizados, com infraestrutura e serviços acessíveis para todos. A concentração urbana organizada, como a que acontece em países como Singapura, se torna um objetivo possível em uma cidade em crescimento ordenado.
Por enquanto, os dados do Censo 2022 não mostram a idade da população, mas é possível inferir que o Brasil terá uma população cada vez mais idosa. “Quando tem a transição demográfica, tem necessariamente uma mudança da estrutura etária”, explica Alves. No Brasil, o primeiro movimento de transição aconteceu entre os anos 1980 e 1990, quando o número de jovens e crianças parou de crescer em comparação com a quantidade de adultos.
Uma série de fatores contribuiu para essa transição, entre eles a queda da mortalidade, a melhora da qualidade de vida e a chegada de novas tecnologias de regulação da fecundidade. Isso aumenta a proporção de adultos em relação a crianças e idosos. Em pouco tempo, mantidas as mesmas condições, o País passa a ter um número maior da chamada população economicamente ativa do que a soma de crianças e idosos. É o que a demografia chama de 1º bônus demográfico.
O chamado “bônus demográfico” ou “janela de oportunidade” ainda está em curso neste momento, entre os anos de 2000 e 2030. O período é essencial para o enriquecimento dos países. “Todos os países do mundo que aumentaram os indicadores de condição de vida para a população passaram pelo bônus demográfico”, diz.
Bônus da longevidade
Mas o 1º bônus é temporário e termina com o avanço do processo de envelhecimento. De acordo com o IBGE, o grupo etário com 30 anos ou mais representava 56,1% da população do País em 2021, percentual que era de 50,1% em 2012. Portanto, o fim do bônus demográfico é marcado pela aceleração do número de pessoas idosas. O que significa que aqueles adultos que “encheram” a parte do meio da pirâmide etária estão chegando na fase da maturidade.
“E é aí que surgem dois outros bônus”, fala o demógrafo. O segundo bônus tem a ver com a produtividade da força de trabalho. Tal momento é o que deve ser preparado com tecnologia e educação. O bônus da produtividade já está acontecendo na China, por exemplo. Com a redução do número de jovens, o trabalho muda de jeito e é passado para os adultos. A renda média costuma aumentar neste período, diz Alves.
E então tem a terceira fase, da longevidade. Para alguns economistas, esse é o momento em que o país já deveria ter crescido para poder apoiar os custos da população idosa. “Mas existe um bônus da longevidade. A gente tem que encarar a população idosa como um ativo e não como um passivo”, afirma o demógrafo.
No Japão, onde a população com mais de 60 anos representa 28% do total, os idosos fazem parte do dia a dia da cidade e participam de atividades em prol do espaço. As cidades têm parques e “academias ao ar livre” para os mais velhos, pensando no envelhecimento com saúde. As cidades japonesas estão se adaptando para o “tsunami grisalho” que acontece no país.
Até 2030, a projeção é que o país tenha 20% de população acima de 60 anos. As expectativas é que o Brasil vai chegar a 40% da população com mais de 60 anos até o final deste século.
“No século 18, o Frei Vicente falou que a colonização portuguesa no Brasil era como um caranguejo, que arranhava as Costas. Até o século passado, a grande maioria da população brasileira seguia esse caminho e estava, de fato, no litoral ou próximo da Costa. E isso começou a mudar”, afirma Alves.
O demógrafo destaca o crescimento expressivo de cidades do Centro-Oeste e do Norte do Brasil, como Manaus, no Amazonas, que se tornou a sétima mais populosa do Brasil, com 2,06 milhões de habitantes. Goiânia, em Goiás, também subiu 10,4% e está em décimo lugar.
Porém, o grande destaque é mesmo Brasília. Inaugurada em 1950, a capital tornou-se um símbolo da marcha do País para o Centro-Oeste. “E agora, ela se tornou a terceira maior cidade”, aponta o pesquisador.
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