Brasil ganha Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza

Prêmio inédito do Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza foi dado para projetos dos curadores Gabriela Matos e Paulo Tavares.

Por Redação em 4 de julho de 2023 3 minutos de leitura

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Reprodução: Rede social Gabriela de Matos

O Brasil conquistou o Leão de Ouro na 18ª Bienal de Arquitetura de Veneza. Inédito para o País, o prêmio foi dado para o projeto “Terras” assinado por Gabriela de Matos e Paulo Tavares. 

O júri explicou a premiação para o pavilhão brasileiro “por exposição de pesquisa e intervenção arquitetônica que centra as filosofias e imaginários da população indígena e negra em modos de reparação”.

A intervenção arquitetônica no principal evento de arquitetura e arte do mundo deu evidência para o “futuro ancestral”, trazendo exposição de obras e estilos construtivos das populações indígena e negra. Saberes que foram diminuídos por anos, mas agora mostram o seu poder para criar a arquitetura sustentável 100% brasileira. 

A terra é usada como centro do espaço expositivo, evocando espaços tradicionais, como territórios indígenas, quilombolas e terreiros de candomblé. Além de ser um chamado para o ancestral, o projeto faz um apelo para a sustentabilidade e para o uso dos materiais locais. 

Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza

Em 2023, a 18ª edição da bienal teve como tema “o laboratório do futuro”, elaborada pela gananse Lesley Lokko, e apresentou o continente africano como responsável pela formação do mundo que está por vir. A edição contou com 63 países e 89 participantes, sendo mais de metade africanos.

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Nesse sentido, o pavilhão “Terra” se destacou, já que trouxe o contraste dos elementos modernistas de construções com as habitações populares, como os gradis com símbolo sankofa. As grades retorcidas arredondadas, que formam um “coração” vazado são vistas por todas as cidades brasileiras e mostram as raízes da edificação do País na cultura africana. Sankofa significa sabedoria de aprender com o passado e construir o presente e o futuro. 

Reprodução: Fundação Bienal de São Paulo

A mostra contou ainda com a participação de mais colaboradores: povos indígenas Mbya-Guarani; Tukano, Arawak e Maku; Tecelãs do Alaká (Ilê Axé Opô Afonjá); Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca do Engenho Velho); Ana Flávia Magalhães Pinto; Ayrson Heráclito; Day Rodrigues com colaboração de Vilma Patrícia Santana Silva (Grupo Etnicidades FAU-UFBA); coletivo Fissura; Juliana Vicente; Thierry Oussou e Vídeo nas Aldeias.

Brasil do passado e do futuro

“Nossa proposta curatorial parte de pensar o Brasil enquanto terra. Terra como solo, adubo, chão e território. Mas também terra em seu sentido global e cósmico, como planeta e casa comum de toda a vida, humana e não humana. Terra como memória e também como futuro, olhando o passado e o patrimônio para ampliar o campo da arquitetura frente às mais prementes questões urbanas, territoriais e ambientais contemporâneas”, contaram os curadores para a Fundação Bienal de São Paulo.

A primeira galeria do pavilhão Terra foi nomeada “de-colonizando o Cânone”, e conta com questionamentos ao imaginário em torno de Brasília. Obras da cineasta Juliana Vicente, além de uma série de fotografias de arquivos se unem a um mapa etno-histórico do Brasil de Curt Nimuendajú e o mapa Brasília Quilombola.

Reprodução: Rede social Paulo Tavares

Já na segunda galeria, chamada “Lugares de origem, arqueologias do futuro”, a galeria se volta para as memórias e a arqueologia da ancestralidade. Nesta parte da exposição, o foco é nas práticas socioespaciais, como a Casa da Tia Ciata, no Rio de Janeiro, e a Tava, ruínas de missões jesuítas no Rio Grande do Sul. 

Em entrevista para a Casa Vogue, os curadores afirmam que a exibição demonstra o que várias pesquisas científicas comprovam: que terras indígenas e quilombolas são os territórios mais preservados do Brasil e, assim, apontam para um futuro pós-mudanças climáticas em que “de-colonização” e “descarbonização” caminham de mãos dadas.