Caminhabilidade é importante para o envelhecimento da população

O que faz uma ótima calçada? A caminhabilidade é a chave para a felicidade e bem-estar à medida que a população envelhece.

Por Redação em 4 de janeiro de 2023 4 minutos de leitura

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O direito de ir e vir faz parte do leque de direitos de todo cidadão. Sendo assim, e considerando o envelhecimento da população no Brasil e no mundo, surge a necessidade de garantir que existam condições de acessibilidade para assegurar a esse público a possibilidade de caminhar pela cidade. A caminhabilidade é vital, pois fornece acesso a serviços e atividades de lazer, compras e trabalho, entre outros.

Por isso, a acessibilidade de pedestres é um princípio básico das cidades boas para se viver, aquelas que são ditas amigáveis. Trata-se da qualidade da caminhada, da acessibilidade à cidade para todos, em qualquer idade, com qualquer tipo de dificuldade motora. As cidades amigas do pedestre geram funcionalidade, conforto, consciência e participação social e, por último, mas não menos importante, são essenciais para a inclusão das pessoas.

O que torna uma calçada caminhável?

Em geral, as características que determinam se uma calçada é transitável são as conexões das ruas, já que é importante que ofereçam diferentes itinerários disponíveis para passeios do dia a dia. Além disso, é necessário ter segurança e conforto, sem obstáculos como raízes de árvores e postes curtos. Há outros fatores que levam a calçada ser caminhável como: 

  • a largura do caminho;
  • a facilidade de travessia;
  • a presença de cinturões verdes (como grama e arbustos) e cercas que separam os pedestres das faixas de tráfego;
  • a existência de áreas de sombra;
  • possibilidade de uso de bicicletas, que possam percorrer todos os caminhos, sem interferir com o espaço dos pedestres;
  • a diversidade de paisagens urbanas, como fachadas de prédios, árvores, parques, entre outros.

Vale ressaltar que, em muitas regiões das cidades, a calçada não existe ou a sua largura é insuficiente para uma circulação confortável, ou, ainda, observa-se o aparecimento de irregularidades no piso, como buracos, declives acentuados, desníveis, ausência de guias rebaixadas, por exemplo. 

Estas imperfeições são responsáveis ​​por quedas de pedestres, principalmente idosos, algumas das quais com consequências graves. Por isso, a calçada deve ser entendida não apenas como um corredor de passagem e movimento, mas como um espaço de permanência e convivência adequado à mobilidade e aos sentidos humanos.

Caminhabilidade nas cidades

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O termo caminhabilidade, da palavra inglesa walkability, surgiu para denotar a influência do ambiente construído sobre a caminhada. Ou seja, até que ponto a condição física de cada pessoa e sua relação com o ambiente possibilitam um deslocamento a pé de qualidade.

A facilidade de acesso a bens e serviços por meio do espaço público, a proximidade e interação entre as pessoas, a percepção e sensação de segurança e liberdade são outros aspetos importantes relacionados com a acessibilidade nos espaços urbanos. 

Por isso, a mobilidade urbana é um dos fatores que mais afetam a tão desejada qualidade de vida na terceira idade. À medida que as pessoas envelhecem, enfrentam desafios específicos de mobilidade. Muitos desenvolvem deficiências que podem levar a declínios nas habilidades físicas, cognitivas, sensoriais e psicoafetivas, dificultando a adaptação ao ambiente e, consequentemente, reduzindo a mobilidade nos espaços de convivência. Diversos idosos com mobilidade reduzida dependem das condições oferecidas pela infraestrutura urbana para poderem realizar atividades com segurança.

Pesquisas mostram que os idosos que percebem sua vizinhança como passível de caminhada são mais felizes e satisfeitos com a vida, além de serem menos solitários.

Envelhecimento populacional e caminhabilidade

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Até 2050, uma em cada seis pessoas no mundo terá mais de 65 anos – quase o dobro do número registrado em 2015. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram um quadro semelhante. Segundo o levantamento, em 40 anos, a população idosa vai triplicar no Brasil, passando de 19,6 milhões (10% do total), em 2010, para 66,5 milhões de pessoas em 2050 (29,3%).

Neste cenário, é preciso que a sociedade se adapte ao desafio de pensar o futuro das grandes cidades diante dos impactos sociais, econômicos e culturais decorrentes das mudanças no perfil etário da população brasileira. 

Idosos de diferentes faixas etárias e com limitações motoras, visuais ou auditivas reagem às barreiras ambientais de formas distintas. O modo como percebem o ambiente urbano é determinante na decisão de sair de casa. Um idoso que se sente inseguro não estabelece relação com a cidade, não tem oportunidade de se envolver e fica fechado em casa. Por outro lado, uma cidade agradável e caminhável promove maior mobilidade para todas as pessoas e, principalmente, para os idosos.

Infraestrutura e locomoção

Shenzhen – China

Pesquisadores da Universidade de New South Wales, de Sydney, na Austrália, realizaram um estudo na cidade de Shenzhen, na China, a respeito da caminhabilidade. A cidade fora escolhida devido a seu histórico de priorizar as necessidades do tráfego motorizado em detrimento de pedestres e ciclistas.

Entre os métodos envolvidos no estudo, o grupo pediu a 256 idosos que classificassem as características da calçada para ajudá-los a entender o quanto cada uma afetava sua caminhada.

Os entrevistados disseram que bicicletas e veículos estacionados nas calçadas são os principais fatores que reduzem a capacidade de caminhar. A estrutura de faixas de pedestres foi classificada como a segunda característica mais importante da capacidade de caminhar em calçadas. Além disso, de acordo com o estudo, os participantes concordam que um cinturão verde ajuda na caminhada, mas somente se essa área estiver separando a calçada das faixas de tráfego. 

A pesquisa também mostrou que a facilidade de caminhada na vizinhança também é importante. Se as pessoas não tiverem destinos para onde caminhar, ou as ruas não estiverem bem conectadas, elas serão dissuadidas de caminhar, mesmo que a calçada seja de boa qualidade.

De uma forma geral, é necessário aprofundar o conhecimento em relação à locomoção dos idosos, chamar a atenção para as ligações entre a acessibilidade e a caminhabilidade, e assim, criar estratégias para atender às necessidades desta população no contexto de mobilidade urbana.