Casa na periferia de Belo Horizonte ganha prêmio de arquitetura

A casa na periferia de Belo Horizonte com 66m² conquistou o prêmio internacional de "Casa do Ano", do ArchDaily.

Por Redação em 17 de março de 2023 3 minutos de leitura

casa da periferia
Foto: Leonardo Finotti

Buscar soluções para a habitação pode ser desafiador, especialmente quando há limitações de orçamento e terrenos com ângulos complexos, como é comum nas favelas brasileiras. Entretanto, esses obstáculos não foram um problema para os arquitetos do Coletivo Levante – pelo contrário, serviram como inspiração. Foi assim que surgiu o projeto de uma casa na periferia que foi eleita a “Casa do Ano” no prêmio internacional do ArchDaily.

Localizada na maior favela de Minas Gerais, no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, a casa foi construída em 2020 e ocupa apenas 66m². Sua estrutura é composta por dois módulos estruturais de 3x3m em dois níveis, acompanhados por um “puxadinho” encostado na divisa, conforme relatado pelo Coletivo Levante. Kdu dos Anjos, responsável pelo centro cultural “Lá da Favelinha” e proprietário da residência premiada, carinhosamente a chama de “meu barraco”.

Projeto da casa na periferia

O Coletivo Levante, que foi responsável pelo projeto, oferece seus serviços voluntariamente, ou a preços acessíveis, para propriedades em favelas. Os arquitetos Fernando Maculan e Joana Magalhães, que lideraram o projeto, explicam que a casa foi concebida para se assemelhar às demais casas da comunidade, mas com soluções diferenciadas em relação à segurança, questões ambientais, ventilação e iluminação natural.

casa da periferia
Foto: Leonardo Finotti

Segundo o site do ArchDaily, o projeto da casa é um exemplo de “modelo” construtivo que utiliza materiais encontrados na periferia, combinando-os com uma implantação adequada e atenção à iluminação e ventilação, o que resulta em um espaço com alta qualidade ambiental.

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Por exemplo, uma das diferenças em relação às propriedades do entorno é a disposição dos tijolos. A casa foi construída com blocos de oito furos e, em vez de serem colocados na posição vertical, já que economiza material, na casa premiada foram colocados na horizontal. Sendo assim, em fileiras alternadas, os blocos conferem maior estabilidade e isolamento, garantindo melhor inércia térmica e mantendo a temperatura agradável no interior. 

Soluções da casa na periferia

Os arquitetos exploraram ao máximo o potencial do bloco de oito furos ao utilizá-lo não só como elemento estrutural, mas também como cobogó e em combinação com blocos de concreto. Além disso, eles deram atenção especial ao fluxo das águas da chuva e à sua absorção no terreno, mantendo a intervenção no solo ao mínimo. Houve também uma valorização da ventilação e luminosidade natural, proporcionando uma casa fresca e econômica energeticamente.

Para controlar a temperatura interna, utilizaram elementos leves, como as peças roliças de eucalipto e a vegetação circundante. Também houve a valorização da vista do local, proporcionando uma experiência única que não pode ser apreciada da perspectiva do asfalto.

Arquitetura acessível 

A arquitetura é uma área que, muitas vezes, é vista como cara e inacessível para a maioria das pessoas. No entanto, projetos como o da casa na periferia de Belo Horizonte mostram que é possível utilizar soluções econômicas para, além de aproveitar materiais e condições locais, tornar a arquitetura mais acessível.

No projeto da casa premiada, os arquitetos do Coletivo Levante utilizaram materiais próprios da periferia e mantiveram o repertório construtivo, como a estrutura e os fechamentos de tijolos aparentes. 

Ao utilizar soluções como essas, conseguiram construir uma casa eficiente e confortável, que se integra perfeitamente à paisagem local. Isso mostra que a arquitetura pode e deve ser acessível para todos, e que é possível criar projetos de qualidade sem precisar gastar muito dinheiro. 

“A gente vai criando algumas soluções que são muito simples, qualquer um pode fazer, mas que vão garantir uma melhor ventilação natural, permitir que o ar cruze pelos cômodos e, mesmo em um espaço apertado e de divisas compartilhadas com os vizinhos, a iluminação natural seja farta. Tudo isso para proporcionar um ambiente que mais saudável e mais gostoso de permanecer”, finalizou o arquiteto, Maculan em entrevista ao G1.