Documentário brasileiro sobre mobilidade urbana chega à Europa

Filme feito na periferia de São Paulo por brasileiros foi exibido em festival na Alemanha.

Por Redação em 17 de março de 2022 2 minutos de leitura

mobilidade urbana

Ele é o ponto principal do cotidiano das grandes cidades. Às vezes é lugar de irritação, outras vezes, de alívio. A verdade é que todas as metrópoles precisam dele: o ônibus. Com isso em mente, o Coletivo da Quebrada fez o documentário “Até Onde a Gente Vai?” O longa-metragem acompanha três moradores do Jardim João 23, bairro da periferia da zona Oeste de São Paulo, enquanto eles vivenciam o transporte público e a mobilidade urbana. Uma das estrelas do documentário é o ônibus circular 7535, que vai do Jardim João 23 até o centro da capital paulista. 

Mas o destino do filme foi muito mais longe: a Europa. O longa, que já foi exibido no Brasil, chegou para o circuito alemão. “A gente não conseguia chegar ao centro da cidade e agora estamos na Europa. Que possamos existir. E existir também é estar nos lugares e ir para os lugares, isso fala muito do nosso coletivo”, disse o diretor do longa, Pedro Fernandes.

Formado por moradores do João 23, o Coletivo da Quebrada viu a necessidade de dar voz a quem passa pela batalha que se tornou a mobilidade urbana nas grandes capitais. Sob esse aspecto, o longa acaba sendo uma crítica, pois mostra a situação complicada do transporte público de São Paulo. No documentário, há história de quem leva duas horas para chegar no seu lugar de trabalho. “O acesso à cidade se torna muito mais cansativo que o próprio trabalho”, disse o diretor para a Agência Mural. Ao contar a história de quem usa o ônibus, o diretor Pedro Fernandes acaba também contando parte da história de São Paulo e de sua urbanização. A linha foi criada na década de 1970, quando a cidade estava expandindo as formas de conectar os bairros que cresciam ao centro. E até hoje o crescimento desordenado das cidades é um dos principais desafios dentro do planejamento urbano brasileiro.

A vida da janela do “busão

“Muita coisa mudou na cidade de São Paulo. Durante o século XX, a cidade se expandiu demais com a migração massiva de outros cantos do País. A nossa região do Jardim João XXIII foi ocupada nos anos 1950 e 1960, com a construção dos primeiros bairros. Na minha pesquisa de mestrado consegui rastrear a origem da linha 7545 pelo menos até 1970. Muitas gerações pegaram essa linha e acompanharam suas mudanças”, afirmou Diego Peralta, mestrando em Sociologia pela USP e integrante do Coletivo da Quebrada, ao site Desenrola.

“O 7545 é o ônibus mais populoso do bairro. É o ônibus cujo nome se transformou em um ponto de encontro no bairro, a gente se encontra no 7545, as pessoas vão lá conversar, se ver, ele atravessa a história do bairro, está enraizado dentro de um processo histórico, todo mundo conhece e pega”, acrescentou o diretor.