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Eletrizou! Mobilidade elétrica muito além dos carros
Fatores sociais, econômicos e ambientais provocam ascensão no mercado de bicicletas elétricas e mostram potencial da eletrificação para a mobilidade urbana.
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Ana Cecília Panizza em 3 de setembro de 2024 5minutos de leitura
Ao chegar à noite em casa, do trabalho, o profissional de educação física Francisco Valtencir Costa Martins, morador de São Paulo, costumeiramente coloca seu celular para carregar, como é hábito de muita gente. Afinal, ele depende do aparelho para agendar aulas, receber a escala da semana na academia em que trabalha e falar com a família em Fortaleza/CE. Martins também recorre a outro carregador, tão importante quanto o do celular: o de sua bicicleta elétrica, que usa para ir todos os dias para o trabalho. Também chamada de e-bike, ela é um exemplo de que a mobilidade elétrica vai muito além do carro: bicicletas, patinetes e até monociclo – um pequeno veículo com apenas uma roda – estão se eletrificando.
Em todo o País, o uso de bicicleta elétrica se dissemina. Em cinco anos, os volumes de produção de modelos elétricos no Brasil acumulam crescimento de 289%. Já no primeiro semestre de 2024, a produção nacional de e-bikes aumentou 64,5% em relação ao mesmo período do ano passado e alcançou 8,2 mil unidades. Em 2023, os modelos elétricos correspondiam a 2% do mercado de bicicletas. Atualmente, são 4,5%. Os números são da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo).
“O aumento do consumo desse produto está ligado fortemente a razões sociais, econômicas e ambientais. Em termos de transporte, bicicletas elétricas cumprem de forma significativa a ideia da ´milha final´, ou seja, trajetos curtos em regiões de geografia variada com autonomia de até 50 km. O apelo de sustentabilidade com responsabilidade ambiental, a economia de combustível, a diminuição de gastos com transporte público ou por aplicativo, a manobrabilidade e o impacto ambiental baixo (sem emissão de CO2) são fatores que estão motivando o uso e fazendo da bicicleta elétrica uma opção de mobilidade”, analisa o físico Fábio Raia, professor de engenharia elétrica da Faculdade Presbiteriana Mackenzie, doutor em Tecnologia de Reatores e mestre em Ciência da Computação.
Em entrevista ao podcast do Habitability, Raphael Pintao, executivo e sócio na NeoSolar & NeoCharge, aponta dois principais fatores para a ascensão do mercado de veículos elétricos. “O primeiro é a sensibilização de achar alternativas para reduzir os impactos ambientais. A cada ano que passa, menos gente questiona essa necessidade, mas se tem um senso de urgência e mais gente quer contribuir para isso. Por outro lado, tem também a acessibilidade do ponto de vista econômico: a bateria de lítio, que é a parte mais cara de um carro, ônibus ou patinete elétrico, caiu muito de preço nos últimos dez anos. E aí, coisas que antes não eram viáveis passaram a ser”.
Mobilidade elétrica faz a diferença
Para quem usa e-bike, se movimentar pelas cidades fica mais prático e barato. “Quem tem um veículo elétrico percebe a facilidade de locomover-se com mais facilidade, tendo uma economia de tempo surpreendente, sem falar do alívio do estresse do trânsito ou do transporte público lotado”, conta Martins, que começou a usar veículo elétrico em 2022, com um patinete. Atualmente o profissional de educação física usa bicicleta elétrica com pedal assistido, em que a força mecânica da pedalada contribui para um melhor desempenho. Ele frisa que a atividade física aeróbica também é contemplada quando se considera bicicleta elétrica de pedal assistido, ao contrário de um patinete, skate ou moto elétrica, em que apenas se tem o esforço de guiá-los durante o uso. Além do deslocamento para o trabalho, Martins usa sua e-bike para pequenas e médias distâncias – “ela encara bem outros momentos como ir ao supermercado, ao banco e também para o lazer”.
Sobre economia de dinheiro e de tempo, Martins ressalta que “é algo que faz a diferença na hora da escolha por um veículo elétrico”. Se fosse usar metrô para se deslocar para o trabalho, ele gastaria R$ 10 (R$ 250 por mês) e levaria de 20 a 30 minutos, juntando com uma caminhada. Com a e-bike, Martins desembolsa menos de R$ 20 mensais com recargas da bateria da bicicleta – cálculo que ele mensura a partir de sua conta de luz em casa. E leva apenas de 8 a 10 minutos para chegar ao trabalho.
“Os veículos elétricos, sejam de pequeno porte, como patinetes, ou de grande porte, como automóveis e caminhões, são uma alternativa para quem precisa se deslocar fazendo uma economia. Há também a diminuição da poluição em relação aos veículos que usam combustíveis fósseis para seu funcionamento”, afirma Martins a respeito de sua escolha pelo uso da e-bike no seu dia a dia.
Com preços entre R$ 2,5 mil e R$ 20 mil, bicicletas elétricas têm carregadores bivolt para uso em qualquer rede de energia. Mas, embora o mercado esteja em ascensão, o Brasil está muito atrás de países europeus em termos de infraestrutura e de rotas seguras para pedalar. O professor Fábio Raia explica que a estrutura para veículos elétricos difere na forma. Para carros, ônibus e caminhões são necessários postos de recarga em lugares estratégicos e abundantes. Para tratores e veículos fora de estrada, a complexidade é maior devido às potências exigidas. Para bicicletas, patinetes e similares, a forma de recarga é doméstica e requer estrutura elétrica menos complexa. “A garantia de um mercado de veículos elétricos está ligada à matriz energética do País, às leis ambientais e aos impostos. No Brasil, a possibilidade do uso da energia solar e da eólica facilita e incentiva investidores a buscar esses mercados. No entanto, a taxação da produção elétrica por meios fotovoltaicos e impostos de importação podem provocar um aumento de preços e inviabilizar um uso massivo dessa tecnologia”, afirma o físico.
Ele acrescenta que fatores podem atrapalhar a disseminação de veículos elétricos no Brasil. “Somos exportadores de petróleo, além de possuirmos uma alternativa, que é o álcool combustível. Esses fatores favorecem o uso de veículos a combustão. Temos que lembrar da grande extensão territorial do Brasil e isso iria criar grandes dificuldades em colocar locais de reabastecimento elétrico em todas as regiões. Posto assim, o carro elétrico para a cidade é uma solução adequada e ambientalmente correta. O mesmo pode ser aplicado a ônibus municipais. Para caminhões, ônibus ou automóveis que se deslocam a grandes distâncias essa tecnologia (no momento atual) não é viável”, avalia Raia. Bicicletas elétricas representam, assim, muitos benefícios para as cidades, para as pessoas e para o meio ambiente. Segundo um estudo da Universidade de Oxford, trocar um carro convencional por uma e-bike apenas uma vez por dia reduz as emissões de transporte de uma pessoa em 67%. Se um dia e uma pessoa fazem diferença, a multiplicação dessa atitude pode impedir que se chegue a um ponto de inflexão no clima, ou seja, a um limiar crítico que, quando excedido, leva a uma alteração significativa no sistema, com uma mudança irreversível.
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