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Madeira engenheirada substitui concreto e garante sustentabilidade
A arquiteta Maria Elaiuy destaca o potencial da madeira engenheirada e revela como o material foi usado na recente unidade do McDonald's.
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Redação em 29 de novembro de 2023 6minutos de leitura
Maria Fernanda Elaiuy (Foto: Divulgação)
À medida que a busca por soluções inovadoras e ecologicamente corretas ganha destaque, profissionais de arquitetura e engenharia têm se dedicado ao uso de materiais que sejam capazes de unir eficiência estrutural, estética refinada e respeito pelo meio ambiente. É nesse contexto desafiador que a madeira engenheirada se destaca, assumindo o papel de protagonista na transformação de projetos arquitetônicos contemporâneos.
Uma das empresas que trouxe inovações neste segmento é a Superlimão, cuja trajetória é marcada pelo uso da madeira engenheirada, um material que usa camadas de madeira maciça sobrepostas. O material pode ser transformado em pilares, vigas e lages, substituindo o concreto e o aço na construção de edificações estruturalmente mais leve, que demandam fundações menos profundas, com menor impacto no solo. Os projetos arquitetônicos vanguardistas não apenas adotam esse material, mas também o utilizam como peça-chave para redefinir os conceitos de arquitetura sustentável.
Um dos mais recentes projetos do portfólio do Superlimão foi uma unidade da rede de fast food McDonald’s, localizada no bairro do Paraíso, em São Paulo. O empreendimento, que preza pela sustentabilidade em vários detalhes, traz uma síntese das convicções que norteiam os arquitetos do escritório.
Maria Fernanda Elaiuy, arquiteta e coordenadora de projetos do escritório, contou ao Habitability que a ideia surgiu de uma parceria com a Noatech, uma incorporadora especializada em captação, que atua como intermediária entre fornecedores de madeira engenheirada, escritórios de arquitetura e clientes. “Cerca de três anos atrás, eles nos procuraram com a proposta de criar um projeto inovador para o McDonald’s. Aceitamos o desafio de imediato e, com a aprovação da marca, o projeto saiu do papel”, diz, orgulhosa.
O projeto usa madeira projetada de cima a baixo, que é visível do lado de fora, por meio de paredes de vidro, construção que também permite visualizar todas as camadas da estrutura interna do local. “No segundo pavimento, pedimos à equipe da obra que criasse uma janelinha física, feita de vidro, revelando a composição das paredes. Queríamos que as pessoas pudessem ver, na prática, que não se trata apenas de um discurso, mas que o prédio é, realmente, construído inteiramente com madeira”, ressalta Elaiuy.
O potencial da madeira engenheirada
Embora a madeira engenheirada seja reconhecida como uma alternativa sustentável e versátil para construções contemporâneas, é válido dizer que o seu papel exerce também um resgate do sistema estrutural ancestral. A arquiteta argumenta que a prática de utilizar madeira na construção é atemporal e possui raízes históricas profundas, sendo a madeira engenheirada uma evolução sofisticada dessa tradição global.
A arquiteta, defensora do uso do material, destaca o potencial da madeira engenheirada não apenas pela sua capacidade de reduzir a pegada de carbono, visto que a madeira absorve CO2 em vez de emití-lo para a atmosfera, mas também pela flexibilidade no design arquitetônico. “A industrialização do processo de fabricação da madeira engenheirada possibilita a criação de estruturas como se fossem peças de Lego, tornando o processo construtivo mais ágil e eficiente. Além disso, é possível criar estruturas de maiores dimensões e explorar formatos mais inusitados, curvando e arqueando sem a necessidade de empregar um sistema complexo de diversas bitolas”, explica ela.
Uma vez que as peças da madeira engenheirada são pré-furadas, pré-cortadas e pré-dimensionadas, a fase do projeto se torna mais complexa e longa do que uma estrutura convencional. No entanto, construção propriamente dita é muito mais rápida e simplificada, encurtando o cronograma de obra. A utilização da madeira engenheirada permite a construção por meio de encaixes (daí a similaridade com Lego), resultando em uma obra mais silenciosa do que o habitual, o que também minimiza o impacto sonoro. Além disso, com as peças sendo montadas no local, esse método ajuda a diminuir o desperdício de materiais e a reduzir o consumo de energia.
Como exemplo, Maria destaca que a construção da unidade do McDonald’s foi concluída em apenas quatro meses, proporcionando não apenas eficiência, mas também um benefício adicional para os moradores e pessoas que circulam no local.
Material ecológico desde a origem
Elaiuy lembra que a questão ecológica da madeira começa bem antes de chegar no canteiro de obras. Embora muitas pessoas tenham a impressão de que há desmatamento envolvido, todo o processo é meticulosamente planejado para ser renovável.
“A madeira engenheirada é proveniente de árvores cuja característica é de rápido crescimento, facilitando ciclos de vida mais curtos. Isso possibilita a renovação frequente da fonte, diferentemente de madeiras tradicionais, como cerejeira ou carvalho, que requerem décadas para atingir as dimensões necessárias para estruturas robustas. Ao contrário, na composição da madeira engenheirada, é possível incorporar rigidez durante o desenvolvimento da peça de maneira industrializada, sem depender do tempo de crescimento prolongado das árvores”, salienta Elaiuy.
Para ela, a utilização da madeira engenheirada possibilita a concepção de estruturas vigorosas e visualmente atraentes, ao mesmo tempo em que se promove a sustentabilidade ambiental. “Eu considero muito interessante observar a crescente adoção desse tipo de material em projetos modernos. Isso, na verdade, tem um ponto bastante positivo, pois ajuda a democratizar o acesso a essas práticas e a conscientização do público do entorno”, ressalta. E, ao combinar madeira engenheirada com outras técnicas sustentáveis, o impacto é ainda mais poderoso.
Inovação sustentável desde a fachada até o forro
Dentre as soluções sustentáveis implementadas na unidade da rede de fast food pela Superlimão, merecem destaque os estudos de incidência solar. A fachada do restaurante, composta por uma estrutura envidraçada, recebeu a instalação estratégica de guarda-sóis para controlar a entrada de luz solar. Essa medida revelou-se eficaz na regulação da temperatura interna, reduzindo o uso do ar condicionado. Além disso, uma cobertura verde foi integrada para auxiliar no controle térmico do espaço destinado às refeições.
Adicionalmente, o Superlimão conduziu estudos que propuseram alternativas aos materiais convencionalmente usados na construção, privilegiando a adoção de materiais sustentáveis, de origem nacional e fornecedores locais. A substituição do porcelanato por Concresteel e a opção pelo laminado de PET reciclado em vez da tradicional melamina fazem parte das trocas inteligentes.
O quiosque de sobremesas, instalado ao ar livre, é confeccionado a partir de propileno 100% reciclado e, em conjunto com os convencionais balcões de atendimento, áreas para retirada de pedidos, mesas e o serviço de café, completa o espaço no nível térreo. Esta unidade apresenta, ainda, características adicionais, como uma composteira para o gerenciamento de resíduos orgânicos, uma horta que recebe adubo proveniente dessa composteira e um sistema de iluminação LED automatizado.
“Até no forro optamos por uma alternativa produzida a partir de raspas de madeira, que são resíduos provenientes da indústria moveleira”, disse a arquiteta. Também há um sistema de captação de água da chuva e de condensação dos aparelhos de ar condicionado para fins de reutilização. Essas medidas refletem um compromisso integral com a sustentabilidade ao longo de todo o projeto.
Pilares que abraçam a natureza
Inspirado pela natureza e utilizando o conceito da biomimética, o projeto se inspirou nos troncos das árvores locais, que não apenas oferecem sustentação e estabilidade à edificação, mas também fortalecem a conexão intrínseca com a natureza, reforçando a temática sustentável.
Vale ressaltar que há, também, uma função prática na aplicação do conceito nos pilares e demais estruturas do prédio. “Na estrutura, estamos imitando uma solução da natureza para resolver o problema da temperatura. Os para-sóis que instalamos, por exemplo, são uma aplicação de biomimética, inspirados na forma da copa de uma árvore. Imagine como uma barreira natural para os raios solares, semelhante ao efeito de sombra proporcionado pela copa de uma árvore. Isso cria uma área mais fresca e confortável termicamente”, esclarece.
Madeira engenheirada, sustentabilidade e educação ambiental
Para além de suprir as demandas inerentes deste projeto, a intenção também é transformar o espaço em uma ferramenta de impacto para a educação e sensibilização ambiental. A arquiteta destaca que a educação em sustentabilidade foi um dos elementos fundamentais desde os estágios iniciais do projeto da nova unidade da rede de fast food.
Neste sentido, o escritório e o restaurante adotaram uma abordagem inovadora para conscientizar o público sobre suas práticas sustentáveis. Uma jornada guiada por linhas amarelas foi incorporada ao piso, direcionando os clientes a pontos estratégicos do estabelecimento. Nestes locais, placas com QR Codes foram instaladas para proporcionar aos clientes informações detalhadas sobre os materiais e técnicas utilizados na construção.
Essa iniciativa visa destacar de maneira interativa e informativa os aspectos sustentáveis do restaurante, permitindo que os visitantes compreendam melhor os benefícios de práticas sustentáveis na construção civil, como o uso da madeira engenheirada.
“Ao criar o caminho da linha amarela e incorporar QR codes, conseguimos misturar diversas abordagens. Alguns QR codes destacam práticas sustentáveis já adotadas pela rede, enquanto outros apresentam novas diretrizes que surgiram da arquitetura”, destaca Elaiuy.
“É uma combinação abrangente de várias frentes, com uma narrativa compartilhada. Se conseguirmos impactar uma pessoa, levando-a a refletir sobre essas práticas enquanto almoça, consideramos isso um grande sucesso”, conclui.
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