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The Sphere: além da arquitetura high-tech
The Sphere revoluciona o entretenimento ao vivo, mas levanta debates sobre avanços tecnológicos e sua relação com o meio ambiente.
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Redação em 9 de novembro de 2023 6minutos de leitura
“O que acontece em Vegas, fica em Vegas.” A frase icônica que há muito tempo era a promessa de segredos bem guardados na “Cidade do Pecado” pode ter sido levemente comprometida pela chegada da The Sphere (a esfera, em português) – a mais recente e inovadora adição à paisagem de Las Vegas.
Resultante da fusão de conceitos da matemática ancestral com tecnologia futurista, a estrutura arquitetônica já está rendendo comentários ao redor do globo, redefinindo o mundo do entretenimento ao vivo. A obra, que pode ser admirada de ângulos diversos por toda a cidade, rapidamente alcançou o status de ícone, cativando entusiastas da arquitetura e aficionados por música, mas traz à tona o debate sobre o equilíbrio entre progresso e sustentabilidade.
The Sphere: um marco arquitetônico
The Sphere, situada no Venetian Resort, abriu suas portas para o público no começo de outubro, brindando a todos com uma série de shows, onde o astro principal foi a banda de rock irlandesa U2.
Anunciada em 2018, a esfera foi concebida pelo escritório de arquitetura Populous, renomado por seu trabalho em estádios. Com a altura de um edifício de cinquenta andares, medindo cerca de 112 metros de altura e 157 metros de comprimento, o projeto exigiu um investimento de US$ 2,3 bilhões e ostenta o título de maior estrutura esférica do mundo.
O enorme globo foi concebido com base em equações matemáticas seculares com as mais avançadas tecnologias. Seu esqueleto exterior é uma sinfonia de centenas de triângulos entrelaçados, moldando a esfera em 360 graus. Essa abordagem geométrica não só proporciona um apelo estético, mas também eleva a resistência e estabilidade da estrutura, transformando-a em um expoente da engenharia contemporânea.
Estrategicamente situada a leste da célebre Las Vegas Strip, e integrada ao complexo do Venetian Resort, esta realização foi idealizada para sediar uma ampla gama de eventos, abrangendo desde espetáculos musicais e projeções cinematográficas — sua fachada externa é revestida com uma tela de LED de altíssima resolução — até mesmo algumas competições esportivas.
A esfera brilha (e muito!) com a maior tela LED do mundo, visível até do espaço!
Toda a superfície em formato de esfera opera como uma imensa tela. Com a capacidade de exibir uma paleta de 256 milhões de cores, a esfera é equipada com 1,2 milhão de LEDs que podem ser programados para exibir imagens dinâmicas e animações, transformando o edifício em um ponto de destaque em Las Vegas, uma cidade já famosa por suas atrações. Essa característica torna o globo visível até mesmo no espaço!
The Sphere permanecerá iluminada ininterruptamente, com as projeções se adaptando conforme as estações do ano, eventos especiais e operações cotidianas da cidade, interagindo com a região ao seu redor. Além disso, artistas podem usar a cúpula externa para expor suas obras e até mesmo anunciantes podem usá-la para promoções e publicidade.
No seu interior, encontra-se uma tela de altíssima definição, semelhante a um planetário, que se estende por uma área tão vasta quanto dois campos de futebol – a maior tela LED do mundo, que oferece aos espectadores uma experiência visual imersiva, graças também a resolução que atinge 16K por 16K.
Entre projeções de imagens, onde bandeiras e padrões caleidoscópicos dançavam, o primeiro show do U2 transportou o público para uma visão do horizonte de Las Vegas, quase como se o vocalista Bono estivesse cantando ao ar livre na Cidade do Pecado, já que a estrutura esférica proporciona uma experiência tridimensional para os espectadores, mas com uma vantagem: o seu tamanho monumental, semelhante a um IMAX aprimorado, elimina a necessidade dos incômodos óculos de realidade virtual, oferecendo uma imersão profunda e envolvente sem qualquer acessório.
Além dos materiais de construção convencionais, como aço e concreto, o projeto demandou uma precisão fora do comum. Milhões de diodos tiveram que ser meticulosamente posicionados, com uma precisão equiparável à “espessura de uma lâmina de vidro”, no interior da estrutura de exibição.
De acordo com os produtores da The Sphere, mais de 160 mil alto-falantes estão estrategicamente distribuídos pela arena, garantindo que cada espectador desfrute de uma qualidade sonora cristalina, graças a um sistema integrado Holoplot. Adicionalmente, o recinto incorpora tecnologia tátil em 10 mil dos seus assentos, gerando vibrações que tornam a experiência do concerto mais palpável, realçando as nuances dos graves e das batidas. A experiência imersiva é enriquecida por máquinas 4D que recriam sensações de vento, variações de temperatura e até mesmo efeitos de aroma.
Energia solar alimenta a inovação arquitetônica
Com uma fusão de recursos, incluindo a maior tela LED global, um conjunto de milhares de alto-falantes e pisos vibratórios, The Sphere consome uma significativa quantidade de eletricidade. No entanto, a preocupação com sua pegada energética não foi ignorada. Em resposta a essa demanda, a MSG Las Vegas LLC, a entidade responsável pela esfera, estabeleceu um acordo de fornecimento de energia solar dedicada com a NV Energy, a principal fornecedora de energia em Nevada, para um prazo de 25 anos.
Sob o âmbito desse acordo, o projeto está focado em otimizar o uso de energia limpa com um sistema de armazenamento de energia renovável e bateria desenvolvido pela NV Energy. Para compensar qualquer eletricidade não proveniente de fontes renováveis, The Sphere adotará a aquisição de créditos certificados de energia renovável para neutralizar as emissões. De acordo com as estimativas da empresa, cerca de 70% da energia consumida pelo The Sphere será, de fato, gerada a partir de fontes solares e de baterias dedicadas.
Além de atender a Sphere, a nova instalação solar e de bateria da NV Energy também beneficiará outros clientes da concessionária. “Assim como a Sphere está estabelecendo um novo padrão para entretenimento ao vivo envolvente, o local também está estabelecendo um padrão da indústria quando se trata de energia renovável”, disse o vice-presidente executivo e diretor de operações da Sphere, Rich Claffey, em entrevista ao Renewable Energy World. “Desde o início, projetamos a Sphere para minimizar o impacto ambiental e ajudar a criar uma operação sustentável no futuro.”
O impacto da The Sphere na natureza
Novos empreendimentos semelhantes ao Sphere podem estar em vias de surgir. Segundo o crítico de arquitetura da Universidade de Yale, Christopher Hawthorne, em seu artigo no New York Times, a construção levanta a intrigante questão da “capacidade contínua da arquitetura tradicional de competir com a magia digital pela atenção do público”.
Com base nas observações concedidas para o Los Angeles Times, Joshua Vermillion, professor de arquitetura da Universidade de Nevada, em Las Vegas, é evidente que a arquitetura enfrentará uma crescente pressão para integrar infraestruturas digitais em novos empreendimentos.
Enquanto alguns podem se inspirar e imitar a ideia original do Sphere, novos projetos poderão se dedicar a “empurrar os limites ainda mais”, de acordo com Vermillion. Ele questiona: “O que isso implica para os horizontes urbanos? Eu acredito que isso intensifica a importância da interação e transformação do nosso ambiente construído – tanto dos edifícios em si quanto dos espaços públicos entre eles”, declara o professor. Este debate instigante sobre o futuro da arquitetura reflete a crescente influência da tecnologia digital e a necessidade de reimaginar a interação entre o ambiente construído e o mundo virtual.
Preocupações de alcance mais amplo também estão em pauta. Em Londres, onde os gestores têm planos para erguer a próxima esfera, relatos publicados pela revista Smithsonian indicam que os moradores estão apreensivos em relação à poluição luminosa. Embora Las Vegas já enfrente um excesso de poluição deste tipo – e a Sphere possa ser reprogramada para amenizá-la – há inquietação de que em outros locais essa iluminação excessiva possa perturbar a vida selvagem local, conforme observado por Kevin Houser, especialista em engenharia da Oregon State University com foco em fontes de luz e design de iluminação.
“Esta é obviamente uma maravilha tecnológica impressionante. Eu adoraria experimentar o interior. Mas o exterior é preocupante. Não aceito o argumento de que Las Vegas já está tão degradada que mais poluição luminosa é apenas uma gota no oceano. Embora a iluminação exterior tenha funções úteis, os benefícios e os custos devem ser sempre ponderados”, disse ele em publicação em seu perfil no Linkedin. “Sinto falta das noites cheias de vaga-lumes que vivi na minha juventude. As atitudes e ações da sociedade em relação à iluminação exterior noturna são fatores-chave para o seu desaparecimento. É claro que não são apenas os vaga-lumes, embora possamos, até certo ponto, considerá-los um marcador da saúde do ecossistema”, complementa Houser.
A flora e a fauna contam com um ciclo regular de dia e noite para assegurar uma série de comportamentos essenciais à sua sobrevivência. Isso inclui o sono, a alimentação, a proteção contra predadores e o processo reprodutivo. A presença de luz artificial durante a noite interfere diretamente nesses padrões comportamentais. Neste contexto, a necessidade de um equilíbrio cuidadoso entre o avanço da tecnologia e a preservação dos ritmos naturais é cada vez mais crucial para garantir a harmonia entre a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento humano.
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