Como seria a cidade daqui a 100 anos? E se ela fosse criada do zero? Propostas inusitadas aliam inovação e imaginação e convidam à reflexão.
Por
Ana Cecília Panizza em 26 de junho de 2024 5minutos de leitura
Foto: Reprodução/Terreform
Diante da previsão do aumento do nível do mar na cidade de Nova Iorque, a Organização Não-Governamental (ONG) americana Terreform propôs uma solução intrigante e provocativa, em linha com seu modelo de inovação colaborativa que inclui a especulação e não está necessariamente vinculada à viabilidade prática do projeto como um todo: em vez de investir apenas em esforços de mitigação e construir resiliência, e se deixarmos os rios East e Hudson submergirem partes de Manhattan e reconstruirmos uma nova cidade nos rios circundantes?
Segundo o descritivo do projeto, batizado de “Cidade Pós-Carbono”, a ideia é “aceitar o inevitável e nos preparamos para as consequências imaginando a Cidade-Estado Pós-Carbono, uma futura Manhattan limpa por meio da da inversão física e espacial dos rios East e Hudson”. Para os criadores, se Manhattan for reestruturada para ser proativa na redefinição do clima, outras cidades poderão seguir o exemplo e se renovarem.
Uma nova Nova Iorque a partir de Manhattan
O nome “Cidade Pós-Carbono” remete à produção de gás carbono das cidades, que, conforme lembra a ONG, é incorporada à vida cotidiana e resulta em alterações climáticas. A premissa é uma cidade que priorize a mitigação das mudanças climáticas, pautada no equilíbrio quanto ao uso de recursos naturais: a própria cidade garantiria que todas as necessidades fossem atendidas, dentro de suas fronteiras. O abastecimento de alimentos, água e energia, além dos resíduos e até mesmo o ar, seriam examinados e calculados de forma sensata.A premissa já integra projetos de resiliência, como o Oceanix Busan, em Busan, considerada a segunda maior cidade da República da Coreia, com 3,4 milhões de habitantes. Nele, cada bairro é projetado para servir a um propósito específico. As plataformas são acompanhadas de painéis fotovoltaicos e estufas para que os moradores produzam seus próprios alimentos, tanto em áreas de cultivo (hortas e pomares na superfície) quanto em dispositivos submersos (frutos do mar e algas) e a água potável é obtida por processos de dessalinização da água do mar.
Na cidade pós-carbono, erguida com pneu reciclado – o principal material de base para os blocos de construção – Manhattan passaria a ser uma fábrica de algas para sequestrar carbono e fornecer aminoácidos para a produção de alimentos e biomassa para geração de energia. “A forma como fornecemos nutrientes, transportes e abrigo seria atualizada. Os edifícios dilapidados seriam substituídos pela agricultura vertical e novos tipos de habitação iriam se juntar a formas mais limpas e verdes de circular na cidade”, explica os criadores no site dedicado ao projeto.
“O que antes eram ruas tornam-se artérias sinuosas de espaços habitáveis, repletos de fontes de energia renováveis, veículos verdes de baixa tecnologia para mobilidade e zonas produtivas de nutrientes. A antiga rede viária poderia fornecer a base para novas redes flexíveis. Ao reestruturar as ruas obsoletas, podemos criar caminhos robustos e ecologicamente ativos”, continua a publicação, que defende uma paisagem urbana elevada – que ajudaria a reter a água da chuva – com mais de 200 espécies de plantas, além de espaços verdes recreativos e modernos equipamentos solares.
O subsolo passaria a ser uma área pública convidativa com espaço verde no meio deste ambiente metropolitano que hoje é ocupado por mais de 1 milhão de pessoas por dia – esse é o volume médio diário de passageiros no metrô nova-iorquino. Além disso, transporte ferroviário de média velocidade seria a alternativa aos carros, com linhas que cruzariam a cidade, atravessando os rios. A ferrovia Highline seria convertida em uma rua com papel de espinha dorsal ecológica restauradora de Nova Iorque. Trens de carga não mais existiram.
Embora radical, o projeto tem inspiração em iniciativas reais, como o Million Trees NYC, que visa ampliar a floresta da cidade por meio da plantação de um milhão de árvores em ruas, parques e áreas (públicas e particulares), o que pode aumentar a floresta urbana de Nova Iorque em 20% e melhorar a qualidade de vida de quem vive por ali.
Para sua autossuficiência em alimentos, é proposto o sistema de aquaponia (produção integrada de peixes e vegetais tendo como base a recirculação de água e nutrientes) em fazendas verticais, que podem produzir até 800% mais produtos do que a agricultura tradicional em um espaço equivalente, com 90% a 95% menos água e energia. “As fazendas verticais podem multiplicar a potência do cultivo de alimentos, produzindo muito mais alimentos do que a agricultura convencional e utilizando menos espaço e energia”, defende o grupo.
Fundada em 2006 nos Estados Unidos e sediada no Brooklin, a ONG realiza pesquisas em arquitetura e design urbano para ajudar a tornar cidades do mundo mais sustentáveis a partir da união entre ecologia e urbanismo. Os projetos são elaborados a várias mãos, por profissionais voluntários – arquitetos, urbanistas, engenheiros e cientistas.
A Nova Iorque de 2106
Com o mesmo objetivo de provocar a reflexão e instigar a imaginação e a criatividade em busca de soluções disruptivas para os desafios globais de sustentabilidade, outro projeto do grupo – “Nova Iorque 2106: Cidade Autossuficiente” – convida para um exercício desafiador de imaginar a cidade daqui a 100 anos, propondo uma transformação radical por meio da sustentabilidade, que resultaria – assim como na proposta “Cidade Pós-Carbono” – em uma cidade autossuficiente em suas principais necessidades como energia, alimentos, água, emprego, habitação, transporte, processamento de resíduos, vida cultural – no ano de 2106.
O projeto sugere cobrir Nova Iorque – atualmente com cerca de 8,3 milhões de habitantes – de espaços verdes e jardins verticais, além de fazendas urbanas para viabilizar a autonomia da cidade em recursos naturais.
A ONG propõe também transferir 50% do espaço ocupado hoje por veículos para uso exclusivo de pedestres e transporte público. E já estima que 60% da população da cidade irá para o trabalho caminhando até o ano de 2038. Nova Iorque tem atualmente cerca 2,1 milhões de carros registrados, segundo o Departamento de Veículos Motorizados do Estado. “O nível radicalmente novo de sustentabilidade”, como defende os criadores do projeto, a torna um paraíso para quem caminha.
O projeto foi um dos participantes do concurso “Cidade do Futuro”, do History Channel. A competição exigia que cada equipe projetasse a Nova Iorque do século 22 por um prêmio de US$ 10 mil. Embora o projeto não tenha sido o vencedor, recebeu menção de melhor apresentação em meio a propostas peculiares em resposta ao desafio de imaginar a cidade em 2106, procurando elevados níveis de inovação e sofisticação tecnológicas,que rompam as barreiras das análises pragmáticas, do viável e do possível, em prol de um exercício de imaginação e criatividade que visa fomentar à criação das soluções disruptivas que os complexos, profundos e urgentes desafios globais demandam. O reconhecimento talvez seja pelo convite ao protagonismo: “esta próxima versão de Nova Iorque depende de planejamento e preparação. Esta próxima versão de Nova Iorque depende de nós”. Seja ela qual for!
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