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10 anos para restaurar o planeta, 10 ações que fazem a diferença
Projetos regionais em todo o mundo estão liderando a restauração de ecossistemas, oferecendo soluções aos desafios de cada região.
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Redação em 12 de junho de 2024 9minutos de leitura
Os incêndios florestais estão se tornando mais frequentes e devastadores, deixando um rastro de destruição nas florestas da Califórnia e nas zonas úmidas da Argentina e do Brasil. Nos oceanos, os recifes de corais estão sendo afetados pelo aumento da temperatura e da acidez das águas. O solo está sofrendo com a degradação agravada pelo uso excessivo de fertilizantes químicos e pesticidas na China, o que ameaça tanto o meio ambiente quanto a economia das comunidades rurais. Apesar dos danos causados ao planeta, há esperança para restaurar o planeta: a restauração de ecossistemas degradados.
De acordo com a ONU, a humanidade detém tanto o poder quanto o conhecimento necessários para reverter os danos e restaurar o Planeta, a começar pelas terras e oceanos, desde que medidas sejam implementadas imediatamente: até 2030, o mundo precisa reduzir quase pela metade as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) para evitar (mais) consequências climáticas catastróficas.
Esse é o principal motivo pelo qual as Nações Unidas lançaram a Década da Restauração de Ecossistemas e reconheceu 10 projetos. Em conjunto, essas iniciativas têm como objetivo restaurar mais de 68 milhões de hectares de terra, uma área que ultrapassa a dimensão de países como Mianmar, França ou Somália, e gerar quase 15 milhões de empregos.
Para a ONU, esta década representa uma oportunidade para unir esforços em prol da restauração e conservação dos ecossistemas, visando o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A estratégia inclui a implementação de um sistema de monitoramento dos ecossistemas restaurados e a promoção de mecanismos de financiamento em larga escala.
Além disso, busca-se fortalecer a capacidade técnica para impulsionar e executar com êxito iniciativas para restaurar o Planeta e intensificar os esforços para aumentar o financiamento destinado ao Fundo Fiduciário Multi-Parceiros (MPTF) da Década das Nações Unidas, considerando contribuições adicionais, tais como as unidades de restauração propostas pelo Paquistão e Peru, além de uma iniciativa direcionada à Somália e outros países afetados pela seca.
Para Tim Christophersen, coordenador da Década da Restauração no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em entrevista ao portal da ONU, ‘’ecossistemas saudáveis são essenciais para que os objetivos de clima e desenvolvimento sejam alcançados. No entanto, é necessário que a restauração e os esforços para descarbonizar a economia estejam atrelados”. Pelas projeções da instituição, até 2030, o mundo precisa reduzir quase pela metade as emissões de gases de efeito estufa para evitar consequências climáticas catastróficas.
Conheça a seguir as iniciativas que vem demonstrado que, sim, é possível restaurar o Planeta!
Iniciativas de referência
1. Pacto Trinacional da Mata Atlântica
O Pacto Trinacional da Mata Atlântica teve seu trabalho de restauração florestal reconhecido pela ONU como uma das iniciativas mais promissoras e relevantes globalmente para restaurar o Planeta.
O objetivo é criar corredores de vida selvagem para espécies ameaçadas, como a onça-pintada e o mico-leão dourado, além de garantir o abastecimento de água para as comunidades e a natureza. Os esforços também visam combater e adaptar-se às mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que geram milhares de empregos na região. Até o momento, cerca de 700 mil hectares já foram restaurados, com a meta de recuperar mais 1 milhão de hectares até 2030. A longo prazo, o objetivo é alcançar a marca de 15 milhões de hectares até 2050.
2. Restauração Marinha em Abu Dhabi
Os Emirados Árabes Unidos estão empenhados em proteger a segunda maior população mundial de dugongos, focando seus esforços na restauração de leitos de ervas marinhas, essenciais para a dieta desses mamíferos marinhos, além de recifes de coral e manguezais ao longo da costa do Golfo. O projeto em curso no emirado de Abu Dhabi também visa melhorar as condições para diversas outras espécies de plantas e animais, incluindo quatro tipos de tartarugas e três espécies de golfinhos.
As comunidades locais, por sua vez, são favorecidas com o renascimento de várias das 500 espécies de peixes encontradas na região, além de oportunidades expandidas para o ecoturismo. Abu Dhabi está buscando assegurar que seus ecossistemas costeiros estejam preparados para enfrentar os desafios do aquecimento global e do desenvolvimento acelerado das áreas costeiras, especialmente considerando que o Golfo já é um dos mares mais quentes do mundo. Até o momento, aproximadamente 7,5 mil hectares de áreas costeiras já foram restaurados, com mais 4,5 mil hectares em processo de restauração até 2030.
3. Grande Muralha Verde
A Grande Muralha Verde, uma iniciativa lançada pela União Africana em 2007, está em pleno andamento para transformar paisagens áridas em ambientes verdes e produtivos em toda a África. O objetivo é combater os efeitos prejudiciais da desertificação e da mudança climática, ao mesmo tempo em que oferece esperança e sustento para milhões de famílias em comunidades vulneráveis.
Com foco inicial na região do Sahel, a iniciativa visa restaurar savanas, pastagens e terras agrícolas em 11 países, formando um cinturão verde que se estende por milhares de quilômetros. Além de proteger o solo e a biodiversidade, a Grande Muralha Verde busca criar oportunidades econômicas significativas para as comunidades locais.
O objetivo é restaurar 100 milhões de hectares de terra degradada, uma área equivalente ao tamanho do Egito. Além disso, o projeto visa sequestrar 250 milhões de toneladas de carbono, contribuindo para os esforços globais de combate às mudanças climáticas. No quesito social, espera-se que a iniciativa também gere 10 milhões de empregos.
4. Recuperação do Rio Ganges
O Ganges, um rio reverenciado há milênios como sagrado na Índia, está no centro de uma campanha de restauração liderada pelo governo indiano para combater a poluição e revitalizar suas margens. Com mais de 520 milhões de pessoas dependendo de suas águas ao longo de sua bacia, a iniciativa visa trazer uma série de benefícios para as comunidades que vivem ao seu redor.
Uma das principais estratégias é o reflorestamento das áreas ao redor do Ganges, juntamente com a promoção da agricultura sustentável. O objetivo é trazer de volta não apenas a vitalidade do rio, mas também espécies-chave de vida selvagem, como os golfinhos de rio, tartarugas-de-casca, lontras e o peixe hilsa shad.
Até o momento, o governo indiano investiu até US$ 4,25 bilhões. Mais de 230 organizações estão envolvidas, trabalhando juntas para restaurar trechos significativos do rio. Já foram restaurados 370 km de sua extensão, enquanto 30 mil hectares reflorestados, com uma meta ainda mais ambiciosa, de 135 mil hectares até 2030.
5. Iniciativa de Montanha Multi-países
As regiões montanhosas do mundo enfrentam desafios crescentes devido aos efeitos da mudança climática, que estão alterando drasticamente seus ecossistemas. No entanto, iniciativas inovadoras em países como Sérvia, Quirguistão, Uganda e Ruanda estão mostrando que a restauração pode ser importante na proteção dessas áreas e na promoção da sustentabilidade.
Em Uganda e Ruanda, onde habitam algumas das últimas populações remanescentes de gorilas de montanha, a proteção do habitat tem sido fundamental para a sobrevivência dessas espécies ameaçadas. Nos últimos 30 anos, graças a medidas de conservação, o número de gorilas duplicou.
No Quirguistão, os pastores estão adotando práticas mais sustentáveis para gerir as pastagens, beneficiando não apenas o gado, mas também espécies como o ibex asiático. Como resultado, os leopardos da neve estão lentamente se recuperando, mostrando que a restauração pode ajudar a restaurar o equilíbrio nos ecossistemas de montanha.
Na Sérvia, as autoridades estão implementando medidas para expandir a cobertura florestal e revitalizar pastagens em áreas protegidas. Essas ações não apenas proporcionam habitat para espécies como os ursos marrons, que estão retornando às florestas, mas também ajudam os ecossistemas a se recuperarem de incêndios florestais e outras perturbações.
6. A voz das Ilhas
Vanuatu, Santa Lúcia e Comores estão na vanguarda de uma iniciativa que visa ampliar a restauração de ecossistemas únicos enquanto impulsiona o crescimento econômico sustentável para ajudar as comunidades insulares a se recuperarem dos impactos da pandemia da Covid-19.
Essa iniciativa de referência tem como objetivo principal a redução das pressões sobre os recifes de coral, que são particularmente vulneráveis aos danos causados por tempestades, visando permitir a recuperação dos estoques de peixes. Além dos recifes de coral, os ecossistemas alvo para restauração incluem leitos de ervas marinhas, manguezais e florestas.
Mais do que simplesmente restaurar o ambiente, esta iniciativa visa criar uma “caixa de ferramentas” de soluções para o desenvolvimento sustentável das ilhas. Isso implica promover a recuperação dos ecossistemas e integrar práticas econômicas que respeitem e preservem o meio ambiente.
Além disso, a iniciativa busca ampliar a voz das nações insulares perante os desafios da mudança climática, que incluem a elevação do nível do mar e a intensificação das tempestades. Ao fazer isso, busca-se garantir a sobrevivência dessas comunidades e promover uma abordagem global que leve em consideração as necessidades e os desafios enfrentados por essas nações.
7. Iniciativa de Conservação Altyn Dala
O esforço da Iniciativa de Conservação Altyn Dala no Cazaquistão visa reverter o declínio das vastas estepes da Ásia Central, mas também proteger espécies emblemáticas como o Saiga, cuja existência está ameaçada pela caça desenfreada e pela degradação do habitat. Ao longo dos anos, a iniciativa demonstrou resultados promissores, não apenas recuperando a população do Saiga, mas também contribuindo para a preservação de ecossistemas vitais para a biodiversidade regional e, consequentemente, dando a sua contribuição para a meta de restaurar o Planeta.
O renascimento da população de Saiga, que declinara para apenas 50 mil em 2006 e atingiu a marca de 1,3 milhão em 2022, é um testemunho do sucesso. Além de sua eficácia na revitalização e proteção das estepes, a iniciativa desempenhou um papel fundamental na preservação das áreas úmidas, que servem como refúgio para aproximadamente 10 milhões de aves migratórias. Entre elas, destacam-se espécies como o abibe sociável, o ganso de peito vermelho, o pato de cabeça branca e o grou siberiano, cuja sobrevivência depende da preservação desses ecossistemas.
8. Corredor Seco da América Central
A restauração dos ecossistemas no Corredor Seco da América Central surge como uma resposta aos desafios enfrentados por esta região diante das mudanças climáticas. Com ondas de calor intensas e chuvas imprevisíveis, as comunidades e os ecossistemas do Corredor Seco tornaram-se especialmente vulneráveis. Em 2019, a seca deixou 1,2 milhão de pessoas dependentes de ajuda alimentar.
A iniciativa, que abrange seis países – Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá – concentra-se na revitalização das paisagens por meio de métodos agrícolas tradicionais, visando aumentar a produtividade e a resiliência dos ecossistemas. Por exemplo, a implementação de sistemas agroflorestais, que combinam culturas como café, cacau e cardamomo com a cobertura de árvores, não apenas promove a fertilidade do solo e a disponibilidade de água, mas também preserva a rica biodiversidade das florestas tropicais originais. Até 2030, a meta é restaurar 100 mil hectares de terra e criar 5 mil empregos permanentes.
9. Iniciativa na Indonésia
A comunidade costeira de Demak, em Java, na Indonésia, enfrentou sérios problemas como erosão, inundações e perda de terras devido à remoção de manguezais para tanques de aquicultura, além de outros fatores, como a subsidência do solo e a expansão da infraestrutura. Para lidar com esses desafios, uma iniciativa pioneira da Restauração Mundial optou por construir estruturas ao longo da costa, feitas com materiais naturais, em vez de simplesmente replantar árvores de mangue.
Essas estruturas, que se assemelham a cercas, têm o objetivo de suavizar as ondas e reter sedimentos, criando um ambiente propício para a regeneração natural dos manguezais. Graças a esse esforço, 199 hectares de manguezais foram restaurados. Como complemento, os agricultores receberam treinamento em técnicas sustentáveis que impulsionaram a produção de camarão. Além disso, os manguezais, por servirem como lar para diversos organismos marinhos, contribuíram para o aumento das capturas dos pescadores próximos à costa.
10. Shan-Shui na China
Uma iniciativa está em andamento na nação mais populosa do mundo, combinando 75 projetos de larga escala para restaurar diferentes tipos de ecossistemas, desde áreas montanhosas até estuários costeiros. Lançados em 2016, os projetos visam se alinhar com os planos nacionais de uso do solo, operando em escalas que cobrem paisagens inteiras ou bacias hidrográficas e abrangendo áreas agrícolas, urbanas e naturais, com o objetivo de impulsionar várias indústrias locais.
Todos os projetos têm metas específicas para promover a biodiversidade e contribuir para restaurar o Planeta. Um exemplo é o Projeto das Nascentes do Rio Oujiang, na província de Zhejiang, que une o conhecimento científico com práticas agrícolas tradicionais, como a terraplenagem em declive e o cultivo combinado de plantações com a criação de peixes e patos, visando tornar o uso da terra mais sustentável. Até o momento, aproximadamente 2 milhões de hectares já foram restaurados, com uma meta de chegar a 10 milhões de hectares até 2030.
Com a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas em pleno curso até 2030, coincide-se o prazo final para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A pressão é alta, pois a falha em deter e reverter a degradação dos ecossistemas terrestres e aquáticos coloca em risco cerca de 1 milhão de espécies, ameaçadas de extinção. No entanto, a ONU destaca que a restaurar o Planeta a partir de apenas 15% dos ecossistemas em áreas prioritárias, melhorando os habitats, tem o potencial de reduzir as extinções em até 60%.
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