A cidade também é feita de sonhos, mostra Léo Martins

Criador do Instituto O Grito, líder social mostra que a transformação urbana e da sociedade começa com o sonho.

Por Redação em 14 de novembro de 2022 3 minutos de leitura

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Quando era criança, Léo Martins tinha um sonho: andar na parte de trás da caminhonete que levava seus pais para o trabalho nos campos de café e cana no Sul de Minas Gerais. O veículo que rasgava pelas ruas de terra o encantava. No dia em que conseguiu subir no veículo e dar uma volta, Léo entendeu o poder de sonhar e, principalmente, de realizar seus sonhos. Já adulto, a caminhonete é outra. “Quero acabar com a pobreza no Brasil”, fala Léo.

Foi ao acreditar em sua comunidade, em Ribeirão das Neves, uma das cidades mais pobres do Brasil, que Léo Martins criou o Instituto O Grito em 2016. O projeto que nasceu de um trabalho missionário de rua de lazer para as crianças e se transformou em um lugar para o ensino de cultura, esporte e qualificação profissional. Em seis anos, a entidade já beneficiou mais de 230 mil pessoas direto e indiretamente e, agora, faz parte de um seleto grupo de organizações que integram a rede Gerando Falcões.

“Sou conhecido por acreditar nas coisas. Tenho um quadro em casa que diz ‘believe’. É o nome da minha sala no Instituto. Se a gente não acreditar, nunca vai alcançar nada”, diz Léo Martins. Os sonhos o ajudaram a reconstruir a cidade. O líder social cresceu em ambientes onde a exclusão social era a regra, tanto na zona rural de Minas Gerais, quanto em bairros periféricos de Belo Horizonte. “Fazia entrevistas de emprego e as pessoas faziam pouco quando falava que morava em Ribeirão das Neves, chamavam de Ribeirão das Trevas”, lembra.

Vai um sorvete, Léo Martins?

O jogo mudou por causa de brincadeiras de rua e de sorvete. Em 2013, Léo ao ser convidado para assumir um trabalho missionário na igreja local, teve a ideia de criar uma rua de Lazer no bairro. “Não tínhamos grana para comprar aquelas paradas chiques de ruas de lazer, o que fizemos foi criar uma com espaço para brincadeiras de rua. Tipo amarelinha, pega bandeira, bolinha de gude, corrida de saco. Chegamos a ter 400 crianças participando desses espaços”, lembra.

Com isso, Léo Martins e seus amigos foram chamados para ir a outros bairros da periferia, até mesmo no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, para replicar as ruas de lazer. Fazer esse espaço de entretenimento gratuito o tornou conhecido entre os pequenos do bairro. As cobranças das crianças chegaram no ápice quando Léo estava reformando uma lojinha do seu sogro.

“Eles passavam lá e ficavam brincando, mexendo na areia e me perguntando se ali ia ser uma sorveteria. Todos os dias elas iam lá e me perguntavam da sorveteria. A insistência me fez perceber que aquelas crianças não estavam pedindo sorvete, elas estavam me pedindo a oportunidade de tomar um sorvete. E esse era o meu lugar no mundo: dar a oportunidade para elas tomarem os sorvetes que elas quiserem. Para elas viverem a infância do jeito que queriam. Terem uma nova perspectiva de vida”, fala Martins. O espaço não se tornou uma sorveteria, mas a sede do Instituto O Grito.

Com quantos sonhos se cria uma cidade?

No Instituto O Grito, o trabalho socioemocional, a escuta ativa, passa desde desenho até escrita criativa, passando por música e teatro. Há oficinas de profissionalização e de esportes variados. A chance dada para crianças e jovens é de ter meios para expressarem o que sentem e o que vivem. “Para onde vai o que vc não fala?” O projeto tem parcerias com a Secretaria de Educação da cidade e com escolas como o Senac.

Por ter passado pelas dificuldades da desigualdade, Martins mapeou o que seria necessário para as crianças dali voltassem a sonhar. “A falta de oportunidade e a desigualdade social roubam os nossos sonhos ali na juventude. Se a gente não tiver ninguém para dar a mão para a gente, nós teremos nossos sonhos roubados pela desigualdade social”, observa.

O sonho de Léo Martins se multiplicou pela cidade. Para ele, é desse material que os bairros precisam ser formados. “Não importa o quanto a gente tem na conta e não importa o espaço físico que a gente tem, mas sim o que carregamos dentro de nós, a capacidade de sonhar e acreditar nos sonhos, e fazer com que se tornem realidade”, finaliza o líder social.