Agrovoltaica: solo fértil para alimentos e energia

A energia agrovoltaica pode maximizar o uso da terra nas regiões rurais e preservar os equipamentos ao mesmo tempo.

Por Redação em 18 de abril de 2023 4 minutos de leitura

agrovoltaica

Combinar o uso da terra para produzir alimentos e energia limpa, ao mesmo tempo, não só é possível como tem se mostrado uma técnica eficiente. De acordo com o estudo publicado na revista “Applied Energy” pelo professor de engenharia mecânica da Universidade de Cornell, Max Zhang, a técnica conhecida como “energia agrovoltaica” pode mudar de vez a percepção de que a instalação de painéis solares em sítios ou fazendas não é um investimento que vale a pena.

Segundo o artigo, cultivar plantações de todos os tipos sob os painéis solares tem se mostrado vantajoso para os agricultores, com casos de aumento nos lucros, redução no consumo de água e geração de renda adicional por meio da produção de energia. “Temos uma necessidade imperiosa de implantar energia renovável o máximo possível, para combater o impacto das mudanças climáticas. Mas, ao mesmo tempo, também há uma necessidade importante de preservar as terras agrícolas para a segurança alimentar”, diz Zhang no estudo.

Embora o conceito de agrovoltaica não seja uma novidade – ele foi mencionado pela primeira vez em 1980 pelo físico Adolf Goetzberger – foi somente a partir de 2012 que a ideia foi colocada em prática com o objetivo de estabilizar os rendimentos agrícolas em áreas vulneráveis às mudanças climáticas, fornecendo proteção climática para fortalecer a economia rural e os meios de subsistência.

Agricultura agrovoltaica, impulso à produtividade agrícola

Um dos benefícios de integrar produção de alimentos e energia solar foi comprovado também pelo estudo da Universidade do Arizona, publicado revista Nature. A publicação mostra que as culturas alimentares cultivadas sob a sombra de painéis solares podem gerar duas ou três vezes mais vegetais e frutas do que a agricultura convencional.

Os cientistas observaram as plantações de tomate chiltepin, jalapeño e tomate cereja crescerem em uma terra seca à sombra de painéis fotovoltaicos durante um projeto de pesquisa. De acordo com o levantamento, a proteção oferecida pelos painéis solares contra a luz solar direta e as altas temperaturas contribuíram para uma colheita mais abundante das três culturas. Além disso, a sombra dos painéis solares proporciona um ambiente mais fresco e úmido para o crescimento das plantas, o que ajuda a preservar a umidade do solo e reduz a necessidade de irrigação. Ou seja, solo mais preservado e mais eficiência hídrica.

O estudo de Zhang também comprovou a relação entre o uso dos painéis solares e o controle da temperatura. A instalação dos painéis a quatro metros acima de uma plantação de soja resultou em uma redução de temperatura de até 10 graus Celsius em comparação com a instalação de painéis solares a meio metro acima do solo. 

O resultado pode ser atribuído a vários fatores, incluindo a evapotranspiração, que remove o calor da superfície das plantações à medida que a água evapora, além da reflexão de raios solares pelas plantas e a ventilação melhorada proporcionada pela instalação mais elevada dos painéis solares sobre a agricultura.

Agricultura agrovoltaica no Brasil

A energia agrovoltaica foi aplicada no Brasil pela primeira vez no projeto Ecolume, localizado na região semiárida do Nordeste, com resultados surpreendentes. Foi possível observar um cultivo produtivo e sustentável, sem agredir o bioma da Caatinga, que é uma das principais características da região. O sistema agrovoltaico ainda trouxe benefícios econômicos, como o aumento da economia local e a geração de empregos verdes. Uma prova de que a combinação de agricultura e energia solar pode ajudar a promover um desenvolvimento sustentável em áreas rurais.

Segundo um estudo publicado na Revista do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, a região Nordeste apresenta um enorme potencial para a implantação desse sistema, devido aos altos índices de radiação solar e áreas agricultáveis. E o melhor: a solução também é promissora para a produção de alimentos e energia limpa em outras regiões do Brasil e do mundo.

Fazendas do futuro

Em seus estágios iniciais, o objetivo principal da agrovoltaica era maximizar a produção de energia em uma determinada área de terra. No entanto, à medida que a indústria cresce, os participantes, juntamente com legisladores e comunidades locais, começam a considerar vários objetivos para as matrizes solares.

Além da produção de energia, Max Zhang diz que o setor agora busca ser mais ecossistêmico e amigável ao meio ambiente e à comunidade. Tal abordagem pode mudar a forma como as comunidades locais veem as fazendas solares em suas áreas e até modificar o design dessas fazendas no futuro.

As recentes pesquisas são apenas o começo de uma abordagem mais holística que visa observar de forma mais abrangente as interações entre as colheitas e os painéis solares. “Não será fácil equilibrar as necessidades da agricultura e da energia solar, mas, com o tempo, será possível criar futuras fazendas solares que possam atender aos dois lados de forma positiva”, afirma Zhang.