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Amanda Costa: periferia mostrará modelo sustentável para o mundo
Amanda Costa lidera o Perifa Sustentável, que busca transformar as regiões marginalizadas em centro para a mudança do planeta.
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Camila de Lira em 23 de janeiro de 2023 5minutos de leitura
Amanda Costa - Foto: Ivan Pacheco
Enquanto os acordos e fóruns mundiais acontecem, a mudança climática já está na nossa porta. E está cobrando, principalmente, a população mais pobre. No âmbito internacional, já há discussões sobre como países mais pobres são os mais vulneráveis aos efeitos das alterações no clima. Uma pesquisa feita pelo Instituto Pólis mostrou que pessoas negras e pobres são as mais expostas aos riscos ambientais nas capitais do Brasil. Se o clima castiga, já era hora da periferia contra-atacar e mostrar que pode liderar as ações de sustentabilidade, como mostra Amanda Costa.
Ativista climática, jovem embaixadora da ONU, apresentadora e uma das mulheres mais poderosas do Brasil abaixo dos 30 anos segundo a Forbes, Amanda Costa é um exemplo de como é possível mudar os eixos das discussões. Costa é fundadora do Perifa Sustentável, uma organização sem fins lucrativos que promove ações sustentáveis educativas e diretas em periferias.
Amanda está na linha de frente tanto dos debates sobre políticas públicas, quanto na atividade com aqueles que serão mais afetados pelo aquecimento global. “A luta climática vai ser vencida nas cidades. A gente precisa pensar global, mas agir local. O objetivo é territorializar as grandes agendas contra a crise climática e em favor dos direitos humanos para todos, torná-la mais palpável para quem mora na periferia para que o dia a dia não fique distante daquilo que pode ser visto apenas como discursos bonitos e pomposos”, diz Amanda.
Periferia e centro
As cidades como um todo, no entanto, não são o foco de Amanda. Para ela, assim como para muitos, a transformação vem das bordas para o centro. “Eu costumo fazer um recorde e olhar para as margens, para as periferias, porque acho que são as periferias, esses lugares de encontro entre o centro e a borda, que a transformação sustentável vai estar de fato”, fala Amanda.
Quando a periferia estiver incluída nos debates e nas decisões, argumenta Amanda, a inovação será criada. “Precisamos aprender de fato com quem está na borda”, fala a ativista. Ela diz que o conhecimento da “quebrada” tem uma raiz no tradicional e no ancestral, com fortes influências africanas, o que pode ensinar a todos. A convivência em grupo, a forma de agir em comunidade e até mesmo em achar as soluções, em grupo, são exemplos.
Veja também o episódio 22 do podcast Habitability:
Bonn e Brasilândia
Formada em relações internacionais e moradora da Brasilândia, Amanda uniu os dois pontos de sua visão no Perifa Sustentável. “O Perifa Sustentável surgiu em 2019. Um pouco antes disso, eu passei em um programa da ONU de lideranças jovens e sustentabilidades e tive a oportunidade de participar de fóruns como a COP-23 em Bonn, e a COP-24, na Polônia. Uma das coisas que mais me incomodava era não me ver representada nesses espaços”, relembra Amanda.
Além de não ver a sua voz replicada nos espaços, com uma audiência formada majoritariamente por europeus e norte-americanos, Amanda ainda percebia que, ao voltar para casa, os assuntos não pareciam próximos das pessoas. Era como se o debate sobre as mudanças climáticas parasse na ONU.
Para popularizar a pauta climática, o Perifa Sustentável usa três áreas: educomunicação, ações territoriais e participação política. O último é o que faz os olhos de Amanda brilharem. “O advocacy climático é importante, pois é uma forma de acompanhar e pressionar os tomadores de decisões para que eles aprovem projetos de leis de mitigação, adaptação e contingência climática”, aponta Amanda, que atua de olho nos ODS da ONU.
“A periferia foi constantemente infantilizada, com a voz retirada e o poder reduzido. Eu acredito que, cada vez mais, os movimentos periféricos vão colocando a nossa narrativa e contando a nossa história a partir dos nossos olhares, das nossas perspectivas, a partir das nossas visões. Deixamos de ser objeto de estudo, mas os sujeitos que estudam”, afirma Costa. Mudar a narrativa também significa mostrar que na periferia há mais potência do que desespero, mais cultura do que dor e mais sustentabilidade do que violência.
Raça e sustentabilidade
Amanda levanta pautas como a proteção contra enchentes e contra a criação dos desertos alimentares para autoridades brasileiras, como a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. A ministra bateu na tecla da busca pela justiça ambiental em seu discurso de posse, num passo significativo, de acordo com a ativista, que, inclusive, estava em Brasília, acompanhando o evento.
Para a líder do Perifa Sustentável, o racismo ambiental é outro tema que precisa chegar nas pautas oficiais urgentemente. “Se tiramos o elemento da raça da discussão sobre sustentabilidade, eternizamos uma perspectiva que não leva em conta os mais vulnerabilizados. A gente chancela uma perspectiva racista que reverbera o olhar do colonizador”, diz Amanda.
Trazer a raça para o debate climático, para Amanda, é também trazer as narrativas de mulheres pretas de periferia para o centro. “Quando as mulheres que ocupam a base da pirâmide social vão se tornando não apenas objetos de pesquisa, mas os sujeitos que estão analisando, conseguimos reverter um processo injusto de utilização dos nossos corpos e das nossas narrativas, sempre centradas no serviço”, analisa Amanda.
Presente e futuro
Amanda lembra da sabedoria Sanfkora, um conceito da África Ocidental que indica que “a gente aprende com o passado, olha o presente e constrói o futuro”.
“Eu acredito que o futuro é feminino, mas para esse futuro ser feminino, precisamos primeiro dar voz para as mulheres. Queremos igualdade de direitos e oportunidades para começar a desenvolver uma visão mais harmoniosa do mundo”, fala Amanda.
Na cidade do futuro ideal de Amanda, hortas comunitárias, rios despoluídos e a igualdade social convivem. “Imagino casas movidas a energia solar, um sistema de ventilação de inclinação de janelas”, diz ela, citando tecnologias que não são exatamente digitais, mas não deixam de ser inovadoras.
Por fim, Amanda deixa uma provocação para todos: “qual é o presente que você deixa para o presente?”. A resposta de Amanda já está pronta: “a prática de construir mais pontes do que levantar muros”.
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