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Do passado sombrio à revitalização verde: a reforma do Bunker St. Pauli
O Bunker St. Pauli transforma passado sombrio com um novo propósito sustentável, oferecendo uma visão de futuro em meio à natureza e memória.
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Nathalia Ribeiro em 15 de janeiro de 2025 5minutos de leitura
Foto: SON-Media/ Shutterstock
Dormir em um antigo bunker nazista pode parecer um tanto chocante para muitos, mas o Bunker St. Pauli em Hamburgo, na Alemanha, oferece exatamente essa experiência. Construído em 1942 como um abrigo antiaéreo durante a Segunda Guerra Mundial, o local passou por uma transformação significativa. Após uma reforma extensa que custou cerca de 100 milhões de euros (aproximadamente R$ 593 milhões), o bunker renasceu como um destino multifuncional e cultural.
Reimaginado como uma montanha verde, o complexo agora apresenta amplos jardins que cobrem o topo da estrutura histórica da época da guerra. Batizado de Green Bunker, o local passou por um extenso processo de restauração para abrigar restaurantes, um hotel, espaços para eventos e um parque urbano no telhado. Além de suas novas funções como centro de lazer e hospitalidade, a estrutura ainda preserva a história mantendo um memorial dedicado às vítimas do nazismo.
Essa transformação não só preserva a memória histórica, mas também oferece uma nova visão de futuro ao integrar elementos culturais e de bem-estar em um espaço que anteriormente estava associado a um passado sombrio. Será que essa abordagem representa um caminho para trazer uma utilidade urbana renovada a um local que, no passado, desempenhava um papel negativo para a sociedade?
Renascimento e inovação urbana do Bunker St. Pauli
Construído durante a Segunda Guerra Mundial, utilizando trabalho forçado, o Bunker St. Pauli foi originalmente projetado como uma fortaleza antiaérea para proteger a população alemã dos ataques aliados. Hoje, porém, essa estrutura histórica renasceu como um exemplo de transformação e reinterpretação. O hotel REVERB by Hard Rock é uma adição que homenageia a rica herança musical de Hamburgo, cidade onde os Beatles deram seus primeiros passos na carreira nos anos 1960. Localizado no bairro de Karoviertel, o bunker, que anteriormente evocava a guerra, agora é um símbolo de renascimento e inovação urbana.
Além dos 134 quartos modernos equipados com tecnologia de ponta, coworking e checkin automatizado, o complexo também é acessível ao público geral e dispõe de opções de lazer, como o café e bar Constant Grind, a Rock Shop e o jardim Green Beanie na cobertura, que inclui um bar e uma passarela oferecendo vistas panorâmicas da cidade.
A reforma foi realizada como parte do projeto HafenCity, um investimento de € 10 bilhões (cerca de R$ 61,5 bilhões) para transformar a paisagem urbana de Hamburgo, adaptando edifícios associados ao passado bélico da Alemanha e criando novos marcos de renascimento e inovação urbana.
Ressignificando o Bunker St. Pauli com sustentabilidade e memória
Na Alemanha, a relação com o passado nazista é delicada e frequentemente polêmica. A preservação de estruturas históricas dessa época suscita um dilema constante entre recordar os erros do passado e reconfigurar essas memórias de maneira construtiva, mas respeitosa.
No Green Bunker, esse equilíbrio foi buscado. Painéis informativos foram instalados para contextualizar a história do local, explicando seu papel durante os bombardeios e destacando o uso de trabalho forçado em sua construção. Nos próximos anos, espaços memoriais adicionais devem enriquecer o entendimento do público sobre o período sombrio da sua origem.
Após a guerra, as forças aliadas consideraram demolir a estrutura, mas os custos e riscos associados à destruição massiva fizeram com que o bunker permanecesse de pé. Durante décadas, ele foi reaproveitado para fins diversos, como abrigar lojas, estúdios de arte e eventos culturais. Foi somente nos últimos anos, impulsionada pelo interesse crescente em soluções urbanas sustentáveis, que a ideia de transformá-lo em um empreendimento verde ganhou força. Essa visão trouxe novas possibilidades para o local, que agora abriga um jardim urbano e painéis solares em sua superfície.
Carandiru: de complexo penitenciário a área de convivência
Foto: Luiz Barrionuevo/ Shutterstock
No Brasil, um exemplo de transformação urbana é o Parque da Juventude, localizado na zona norte de São Paulo. Onde hoje se encontra esse amplo espaço de convivência, funcionou o Carandiru, um dos maiores complexos penitenciários do País. O local foi marcado por fatos sombrios, como o Massacre do Carandiru, mas agora simboliza a capacidade de ressignificar espaços marcados pela violência.
Inaugurado em 2003, o Parque da Juventude é um dos destinos mais frequentados da zona norte da capital paulista. Com uma área de 240 mil m², o complexo reúne opções esportivas, culturais e recreativas, tudo isso dividido em três áreas distintas, cada uma com características únicas que atendem a diferentes interesses do público.
A primeira é o Parque Esportivo, que foi a área inicial do projeto. Nesse espaço, os visitantes encontram oito quadras poliesportivas, duas quadras de tênis, pistas de skate e patins, além de uma pista de cooper. Infraestruturas como vestiários, áreas de descanso e aulas gratuitas de diversas modalidades esportivas tornam o local ideal para atividades físicas e lazer.
O Parque Central é o coração verde do complexo, com 95 mil m² de jardins, bosques e alamedas. Ele também abriga uma pequena área preservada de Mata Atlântica, proporcionando contato com a natureza em meio à cidade. Passarelas preservadas do antigo presídio oferecem uma perspectiva histórica do local, enquanto atividades como arvorismo e a permissão para entrada de animais de estimação ampliam as opções de lazer para toda a família.
Já o Parque Institucional concentra iniciativas voltadas à educação e à cultura. Nele, encontram-se a Escola Técnica Estadual (ETEC), um posto do programa Acessa SP, que disponibiliza internet gratuita em mais de cem computadores, e a Biblioteca de São Paulo, um espaço moderno de 4 mil m² distribuídos em dois andares, com mais de 30 mil livros.
Um encontro entre memória, cultura e renovação urbana
Foto: Luiz Barrionuevo/ Shutterstock
No entanto, o Parque da Juventude é também um portal para a memória e a história. Ruínas e estruturas preservadas do antigo presídio Carandiru foram integradas ao projeto do parque, conectadas por decks que convidam os visitantes a explorar o local onde, outrora, funcionava o complexo penitenciário.
Elementos como os muros e a passarela de vigia, antes barreiras que simbolizavam o isolamento, permanecem como marcas históricas. Esses vestígios foram ressignificados pela arquiteta paisagista responsável pelo projeto, que trouxe novos significados ao transformar o antigo observatório em um espaço caminhável. Através de estruturas metálicas com escadas de acesso, os visitantes podem percorrer o local, revivendo parte de sua história enquanto apreciam as novas paisagens e a vista para o córrego Carajás.
Além de resgatar a memória, o parque oferece uma rica programação cultural que celebra a diversidade. Palco de shows e festivais com grandes artistas nacionais, o espaço também acolhe eventos variados, como apresentações teatrais e circenses, mostras de arte, encontros religiosos e festivais temáticos.
Tanto o Bunker St. Pauli, na Alemanha, quanto o Parque da Juventude, no Brasil, transformam o peso de sua história em inspiração para o presente, proporcionando um espaço que une memória, convivência e expressão artística em harmonia com a natureza.
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