Como o ChatGPT impacta as cidades

Como o ChatGPT afeta as cidades e comunidades? A solução pode trazer soluções importantes, como melhoria do trânsito, mas também desafios

Por Redação em 13 de dezembro de 2023 6 minutos de leitura

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O ChatGPT tem gerado debates e dúvidas. O tema é polêmico, dividindo opiniões – seja em um encontro informal, seja em uma reunião de trabalho ou em sala de aula. Isso porque a tecnologia pode facilitar a vida de muita gente ao agilizar procedimentos, mas, ao mesmo tempo, traz diversas incertezas. O ChatGPT pode reduzir a oferta de empregos ou substituir o ser humano em determinadas tarefas? A inteligência artificial poderá ser usada como instrumento em uma guerra? Como fica a citação de fontes? A IA generativa é um hype ou veio para ficar?

Atualmente, ainda não é possível mensurar as consequências do advento e da disseminação do ChatGPT, lançado em novembro de 2022 pela startup norte-americana OpenAI. Mas já há iniciativas que usam A IA para melhorar a vida das pessoas nas cidades. 

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Uma delas mira a educação ambiental da população. Essa é a aposta do ClimAI, robô de conversação – tal como o ChatGPT – criado pela startup brasileira Bion, para ajudar quem quer agir no combate às mudanças climáticas. O ClimAI pode responder perguntas relacionadas a tópicos como ciências climáticas, gestão de resíduos, economia circular, mobilidade urbana, energia renováveis, dentre outros. 

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Sinal verde para o ChatGPT 

A inteligência artificial também pode ajudar cidades a se tornarem mais sustentáveis. Um exemplo disso são as cidades que participam do projeto Green Light, do Google, ferramenta que usa IA para melhorar o tráfego urbano. Dentre as cidades que mais sofrem com os reflexos do trânsito intenso, uma brasileira foi contemplada: Rio de Janeiro.

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Evento “Sustentabilidade com o Google – Cidades”, realizado em SP (Foto: Reprodução/Blog do Google Brasil)

A solução funciona assim: o Google usa recursos de IA e dados do Google Maps para modelar padrões de tráfego e gerar informações, utilizadas para aprimorar os planos de semáforos. Ao otimizar e coordenar cruzamentos nas ruas, são criadas ondas de sinais verdes, ou seja, há um maior número de sinais abertos, o que melhora o fluxo de carros. Segundo o Google, a tecnologia ajuda a reduzir o congestionamento em até 30%.

Isso é bom para o meio ambiente, porque diminui a emissão de gases de efeito estufa nos cruzamentos em até 10%, uma vez que os carros não precisam acelerar novamente após parar em um semáforo fechado. De quebra, os motoristas economizam combustível – bom para o bolso deles e, de novo, para o meio ambiente. As demais cidades contempladas pelo programa são Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), Bali (Indonésia), Bangalore (Índia), Budapeste (Hungria), Haifa (Israel), Hamburgo (Alemanha), Hyderabad (Índia), Jacarta (Indonésia), Calcutá (Índia), Manchester (Reino Unido) e Seattle (Estados Unidos).

Ainda no âmbito urbano, o ChatGPT é o instrumento eleito pela prefeitura do município de Yokosuka, no Japão, para agilizar tarefas administrativas, tornando mais eficiente a produção de documentos oficiais, ao fornecer indicações de como tornar a linguagem governamental mais acessível para a população. Outro objetivo é equilibrar o déficit de trabalhadores, resultante da redução populacional.

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Já existe, também, um projeto apoiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que busca resolver o problema do alto número de moradias informais na América Latina e no Caribe, a partir do uso de IA, que identifica áreas com infraestrutura precária, possibilitando intervenções para reduzir a vulnerabilidade de tais locais. 

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As áreas industriais das cidades também podem se beneficiar da IA, que tem viabilizado soluções para a sustentabilidade na indústria, por meio de ferramentas disruptivas para eficiência energética, com alto impacto para redução de emissões de gases poluentes. Algumas dessas soluções e tendências foram destaque na Automation Fair 2023, feira global de inovação tecnológica para o setor industrial, realizada neste ano em Boston, nos Estados Unidos. Entre as soluções de eficiência energética proporcionadas pela IA estão a identificação de pontos de perda de energia em plantas industriais e as recomendações de economia, baseadas em dados processados em tempo real. Empresas podem usar, de forma autônoma, diferentes fontes de energia ao longo do dia, de acordo com o contexto específico das tarifas ou conforme o desempenho de painéis solares. 

Robôs marinhos 

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O pesquisador Jim Bellingham (esquerda) junto com a equipe do MBARI (Monterey Bay Aquarium Research Institute) testando robô flutuador autônomo – Foto: Todd Walsh/MBARI/Divulgação

Identificação por meio de inteligência artificial também é a chave para cientistas entenderem melhor a crise climática. Durante o South by Southwest (SXSW), pesquisadores da Universidade Johns Hopkins mostraram como a IA tem ajudado na criação de sistemas que apontam os efeitos da crise climática, como mapas que monitoram, em tempo real, as emissões globais de gases poluentes, além de robôs autônomos que captam dados no fundo dos oceanos. Segundo eles, soluções nessa área estão reunidas no campo da inteligência do clima, que engloba dados, algoritmos e ferramentas de IA, instrumentos que os tomadores de decisão precisam para operar diante das mudanças climáticas.

IA pode ser inimiga?

Por outro lado, a inteligência artificial também corre o risco de ser apontada como inimiga do meio ambiente. Isso porque tecnologias como o ChatGPT consomem mais energia elétrica do que outras formas de processamento de dados, com altos índices de emissão de dióxido de carbono.

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A razão é que IA exige mais processadores – e mais poderosos – trabalhando por muito tempo. A ascensão da IA leva a um significativo aumento do número de data centers, que são instalações que abrigam a infraestrutura de tecnologia da informação, para processar, gerir e armazenar dados. Empresas como Amazon, Google e Meta constroem cada vez mais essas grandes instalações. Estima-se que a viabilização do GPT3, modelo de IA lançado em 2020 que usa linguagem escrita e que inspirou o ChatGPT, consumiu 1,3 Terawatt/hora, o que representa mais energia do que 120 casas consumiriam em um ano.

Os cálculos foram feitos pelo pesquisador Gustavo Macedo, que estuda inovação no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) e reúne números sobre esse impacto ambiental. A solução para essa questão, no entanto, já existe: armazenamento em nuvem, reduzindo a necessidade de instalações físicas para isso.

ChatGPT bebe água 

Não é só muita eletricidade que IA consome: água também. Segundo Macedo, um estudo de pesquisadores das Universidades da Califórnia e do Texas, nos Estados Unidos, descobriu que o treinamento do ChatGPT consumiu 700 mil litros de água, o equivalente ao necessário para produzir cerca de 350 carros.

O treinamento de IA envolve alimentar algoritmos com enormes volumes de dados relevantes, permitindo que a máquina identifique padrões e crie conexões significativas. É um processo que capacita um modelo de inteligência artificial a aprender a partir desses dados (machine learning). Para cada 20 a 50 perguntas que o ChatGPT responde, a correspondência de consumo é de 500 ml de água. Isso é multiplicado por milhões de usuários, o que gera significativo impacto ambiental global.

Preocupados com isso, pesquisadores inauguraram uma área de estudo chamada Green AI, ou IA Verde, para ajudar a frear esse aumento de consumo de recursos. Eles sugerem, por exemplo, adotar computação descentralizada em vez de grandes data centers, com equipamentos menores, que não exigem armazenamento de dados numa central, consumindo assim menos energia; nesse caso pode-se até usar energia solar residencial para a análise de dados necessária. Esse método de uso de IA é chamado de “edge learning” (aprendizado nas bordas), em contraponto ao “machine learning” (aprendizado de máquina).

Os especialistas lembram que as emissões de carbono de IA podem diminuir muito se os responsáveis administrarem melhor quais servidores usam (por localidade), e em quais horários. Com isso, podem optar pelo máximo possível de energia limpa nos lugares e períodos em que ela estiver disponível, o que pode reduzir as emissões em 20% nos modelos de IA de grande porte e em até 80% nos modelos mais simples. Outra opção (além da nuvem) é instalar os data centers em lugares frios, reduzindo o uso de energia para garantir a refrigeração necessária no ambiente em que ficam os equipamentos. 

Pobres enriquecem dados 

Os problemas não estão apenas na letra “E” da sigla ESG (que em inglês significa environmental, social and governance, e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização). A inteligência artificial está gerando uma crise no âmbito social, no “S” da sigla, sobre a qual pouco se fala: milhares de pessoas, principalmente de baixa renda, trabalham à exaustão para fazer o ChatGPT funcionar, conforme denuncia reportagem da BBC.

A chamada “força de trabalho oculta”, nome dado a esse grupo pela organização sem fins lucrativos Partnership on AI (PAI), é composta por pessoas subcontratadas por grandes empresas de tecnologia, geralmente em países pobres do Hemisfério Sul, para treinar sistemas de IA, realizando a tarefa árdua de rotular milhões de dados e imagens. Na indústria de tecnologia, a atividade é chamado de “enriquecimento de dados”. Apesar de ser um trabalho essencial para o desenvolvimento da IA, o trabalho é o elo mais pobre da cadeia produtiva das grandes empresas de tecnologia. Segundo a PAI, pesquisas revelam precárias condições de trabalho enfrentadas por esses trabalhadores.  

A IA e o ChatGPT levam a uma nova fase na relação das comunidades e das cidades com as máquinas, com implicações econômicas e sociais ainda desconhecidas para os próximos anos. Mas, uma coisa é certa: IA e Agenda ESG são o centro das atenções. Os temas foram apontados pelos executivos brasileiros como as duas principais tendências nos negócios em 2024, de acordo com a pesquisa Panorama 2024, da Amcham Brasil, realizada em parceria com a consultoria Humanizadas. O estudo mostra dez grandes tendências que os negócios vão seguir. Do total de entrevistados, 60% apontaram a IA e 51% indicaram Agenda ESG.