Ajudar as cidades a diminuírem a quantidade de lixo também pode ser papel do design urbano e da arquitetura.
O lixo urbano é um desafio para as cidades. Principalmente para as grandes capitais e centros urbanos de alta densidade populacional. Afinal, nesses espaços, as sobras em excesso podem afetar diretamente a saúde da população e do meio ambiente em geral. Além de toda a complexidade para gerir os resíduos, é preciso ir além, na fonte do problema, ou seja, reduzir a geração. Cidades como Nova Iorque e Hong Kong têm usado o design urbano e a arquitetura para encontrar soluções para esses problemas e servir de exemplos para megalópoles pelo mundo.
Em Nova Iorque, o Centro de Zero Waste Design (CfZWD) opera seguindo um “mote”: o lixo é uma falha do design. A partir disso, eles trabalham para implementar estratégias junto a prédios e áreas urbanas para facilitar a circulação de materiais e atingir o objetivo de “zero lixo”. Em Hong Kong, a atuação fica por conta de organizações, como o Business Enviroment Council e a Renergii Asia.
A redução de lixo começa nos prédios. Segundo achados de ambas grandes cidades, os edifícios precisam ser planejados para armazenar todos os fluxos de resíduos dos moradores ou usuários do espaço. Além disso, precisam ser pensados para ter equipamentos que viabilizem a redução do volume de lixo.
Em função do elevado preço da área útil em regiões de alta densidade, o desafio de criar mais espaços que os exigidos por regulamentos se torna ainda maior. A questão é que tais regulamentações focam mais no descarte individual do que no coletivo. Esse foi o ponto em comum identificado tanto em Hong Kong, quanto em Nova Iorque: a área de armazenamento “regulamentar” não era boa para fazer uma gestão completa dos múltiplos resíduos.
Ao criar um espaço para o lixo, é preciso já pensar em como ele será dividido, transportado e movido das latas para os caminhões ou locais de coleta. A saída? Dar incentivo para os desenvolvedores criarem esses espaços já na planta. Um desses incentivos são os dados. Em Nova Iorque, a CfZWD criou uma calculadora de lixo para ajudar os empreendimentos a entender não só quanto vão produzir, mas quanto de área precisam utilizar para a gestão do lixo.
Em Hong Kong, a saída do município foi deixar de contabilizar as áreas voltadas para gestão de resíduos nos prédios como zoneamento ou área total do prédio.
Compactadores podem ajudar a reduzir o volume de lixo, papelão e outros materiais. O lixo vindo de alimentos, por exemplo, é composto principalmente de água. Equipamentos como esses podem reduzir em até 90% o volume e o peso do lixo nos prédios e reduzir os odores, tornando-o menos atrativos para pragas urbanas. Além de mais fáceis de manejar.
O design também pode facilitar o rastreamento dos resíduos e ajudar que a separação dele funcione. Em Nova Iorque existem incentivos financeiros para comércios que produzem menos volume de resíduos recicláveis. A cidade já imagina criar o mesmo incentivo para moradores. Para isso funcionar, o design dos espaços urbanos também precisam privilegiar a divisão do lixo. Isso porque, a partir da análise do lixo dividido, o município consegue entender quanto de volume de resíduo reciclável ou orgânico um prédio gera. É como um “relógio de luz”, só que dos resíduos.
Por exemplo, os escritórios devem ter estações de resíduos centralizadas para todos os fluxos de resíduos diários, em vez de fornecer uma lixeira de mesa para lixo e lixeiras centrais para reciclagem. A sinalização deve ser clara e consistente em todo o edifício.
Como cada cidadão conta bastante na hora de reduzir o lixo produzido pela cidade, diminuir o volume de plástico e papel utilizado em embalagens individuais tem que ser um esforço urbano. Em Hong Kong, a iniciativa de aumentar bebedouros públicos pela cidade ajudou a diminuir o lixo de copos e garrafas plásticas. O projeto distribuiu 1,5 mil bebedouros e 300 “vending machines” de água de graça (onde cada cidadão poderia encher sua própria garrafinha), com a localização desses pontos demonstradas por aplicativo.
Incentivar o consumo “colaborativo”, onde se prioriza o uso compartilhado, trocado ou alugado de certos objetos e bens também ajuda a reduzir a produção de lixo. Afinal, se a pessoa utiliza uma máquina, por exemplo, e repassa para outro utilizar, o consumo é reduzido, e diminui os fluxos de lixo pela cidade. Os “smart plannings”, ou planejamentos inteligentes de espaços públicos, entram na conversa como maneira de utilizar os espaços de maneira mais eficiente. Programas de espaços flexíveis e compartilhados dentro de prédios públicos, nesse sentido, são um caminho possível para o zero waste. Em Nova Iorque, algumas bibliotecas funcionam em horários diferentes como espaços de coworking e permitem que restaurantes se instalem no espaço. Ao aproveitarem melhor a área, combate-se a subutilização e ainda evita-se, consequentemente, a abertura de novas áreas.
