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Eduardo Avila acredita na revolução. E ela será movida a luz solar
Diretor da Revolusolar, Eduardo Avila apresenta um modelo de negócios que torna a energia limpa acessível para todos
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Camila de Lira em 12 de dezembro de 2022 4minutos de leitura
Localizados no topo da cidade do Rio de Janeiro, os bairros de Chapéu Mangueira e Babilônia não têm exatamente problemas para garantir um lugar ao sol. Aliás, sol é o que não falta por ali. As oportunidades de ganhar dinheiro e de infraestrutura, no entanto, são mais escassas. Ao juntar os dois elos dessa questão, Eduardo Avila ajudou a criar a RevoluSolar, projeto que fez o sol trabalhar em favor dos moradores dos morros no Rio de Janeiro.
A organização sem fins lucrativos é responsável pela criação da 1ª Cooperativa Solar em favelas. A RevoluSolar levou painéis fotovoltaicos para comércios e escolas de morros no Rio de Janeiro e criou uma rede de energia limpa, que contribui para reduzir as contas dos moradores da região pela metade. Eduardo e a RevoluSolar fizeram parte dos homenageados do 1° Prêmio Habitability.
A grande bandeira que Eduardo Avila levanta – e aponta para o sol – é a da transição energética justa. “Apenas mudar a fonte de energia e combustível para renováveis não trará a resposta. É preciso se perguntar quem está ganhando e quem está perdendo com a transição feita agora. E, hoje em dia, não são os pobres que estão ganhando. Pensamos em uma transição energética que descarbonize sim, mas que aproveite as oportunidades de transformação social e a redução de desigualdades”, ressalta.
Segundo Avila, a transição energética justa requer mão de obra capacitada, atrai empreendimentos focados em energias renováveis e, com isso, gera emprego e renda.
Falta de luz nunca mais
A RevoluSolar começou em 2015, a partir de uma pergunta mais simples: o que a comunidade sente em relação ao fornecimento de energia elétrica?
A pergunta fomentou uma pesquisa entre os moradores de Chapéu Mangueira e Babilônia. “Para as pessoas, a favela só tem “gato” [sistemas ilegais de luz], mas as pesquisas mostraram que 60% da população das comunidades está regularizada e sofrendo para pagar a luz em dia. E o pior, sofrendo com um serviço muito ruim, que cai duas ou três vezes por semana”, fala Eduardo.
Eduardo também percebeu que aqueles que não tinham ligação legal com o sistema de fornecimento de energia elétrica queriam regularizar a situação. “A conta de luz é um comprovante de residência e de dignidade muito forte. Eles gostariam de estar regularizados, só não tinham como”, diz Eduardo.
De 2015 para 2022, o trabalho da RevoluSolar não só equilibra o custo da tecnologia, mas a sua instalação. A ONG já beneficiou 34 famílias, com painéis instalados em 20 lugares nesses bairros. A projeção é chegar até o final deste ano em 20 outros pontos.
Além de instalar os painéis, o projeto faz um trabalho educacional com a população. Por meio de oficinas e ensino da técnica, a RevoluSolar forma pessoas capazes de instalar, manter e gerenciar projetos de energia solar dentro de suas comunidades. “Os moradores estão cada vez mais assumindo o protagonismo e a autonomia quando o assunto é energia solar”, fala Eduardo, ressaltando a importância da qualificação desses profissionais para o desenvolvimento econômico local.
Eduardo Avila: mais transformações sob o sol
“A próxima revolução não é mais do ponto de vista da tecnologia, pois seu custo já se reduziu o suficiente. O que precisamos é uma evolução nos mecanismos de financiamento, combinados com modelos de negócio e políticas públicas que tornem a energia solar uma realidade viável para todos os brasileiros”, afirma Avila.
O diretor da ONG comenta que um impedimento para a entrada de muitos, principalmente as populações vulneráveis, é o custo inicial da instalação dos painéis de energia solar.
“É um equipamento que dura trinta anos, mas a pessoa tem que fazer um investimento inicial no momento zero dessas placas. A maioria dos brasileiros pertence à classe C e D, e não tem o dinheiro para investir nas placas, mas tem uma renda mensal que permite o pagamento mensal dessa energia solar, com economia na conta de luz”, explica.
Para chegar na democratização e acessibilidade total da energia solar, explica Eduardo, é preciso fazer um tipo de financiamento inicial para a instalação dos painéis e diluir esse custo mês a mês, em uma espécie de condomínio. O modelo de negócios que a RevoluSolar está testando é uma “assinatura” mensal dos painéis, que deixa o valor da energia elétrica total menor do que a metade da conta mensal das pessoas.
Este modelo será um ensinamento das favelas do Rio de Janeiro para todas as nações que projetam usar energia solar de maneira massiva. “A receita gerada pela energia excedente pode ser usada para pagar a operação e manutenção das placas instaladas e a expansão do sistema”, diz Ávila.
A mudança começa em casa
Segundo Avila, 46% dos brasileiros gastam mais da metade do orçamento familiar com contas de luz e gás, ou seja, com energia. “Temos um problema gigantesco para resolver no Brasil”, diz.
A conta de energia alta, além da infraestrutura, é um impedimento para muitos desfrutarem os seus lares com conforto. “Ter medo da conta de luz não é habitar com dignidade. Estamos falando do básico: uma luz ligada para estudar, ligar o ventilador para não ter mosquito”, exemplifica Eduardo.
“O habitar é muito mais do que viver nessas quatro paredes. É preciso conforto, crescimento. Acredito no papel central de melhorar a qualidade da habitação para induzir o desenvolvimento de todas as outras áreas na vida das pessoas”, opina.
Mudar o habitar, finaliza Eduardo Avila, é também transformar a cidade e o país em um lugar mais justo e com oportunidades para todos.
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