O Sol é para todos: energia solar muda a vida em áreas remotas

Muito além da transição energética! Energia solar rompe décadas de escuridão em comunidades remotas do Brasil.

Por Redação em 10 de novembro de 2023 5 minutos de leitura

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Foto: Assessoria /Equatorial Alagoas

Um século. Essa foi a longa espera da comunidade quilombola Pixaim, localizada no sul de Alagoas, pela tão aguardada chegada da energia elétrica. As décadas de escuridão foram rompidas com a instalação de placas de energia solar. Com elas, situações diárias que, para a maioria das pessoas, são triviais, como ter uma lâmpada acesa ou uma geladeira funcionando em casa, estão sendo pouco a pouco assimiladas.

Imerso nas dunas da Área de Proteção Ambiental (APA) de Piaçabuçu, o povoado de Pixaim, certificado como quilombola pela Fundação Cultural Palmares desde 2009, é uma das tantas comunidades remotas que ainda lutam por direitos básicos para a subsistência. Relatos dos moradores destacam a carência de elementos essenciais. Mas, assim como na comunidade de Alagoas, em outras regiões do País a energia do Sol também está mudando esse cenário e transformando vidas.

Transformação que vem do Sol

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Foto: Carlos Madeiro/UOL

Devido à sua localização em uma Área de Proteção Ambiental (APA) com dunas móveis, a instalação de energia por meio de fiação convencional não era tecnicamente viável. Como alternativa, foram implementadas placas de captação de energia solar, fornecendo a cada residência placas solares, um gerador e pontos de energia para uso de equipamentos.

Pixaim foi a primeira comunidade em Alagoas a se beneficiar do projeto da companhia energética Equatorial Alagoas, o “E+ Comunidades Solares”. O investimento totalizou R$ 700 mil e incluiu a doação de uma geladeira para cada família.

Em entrevista ao G1, o presidente da Equatorial Alagoas, Humberto Soares, explica como a solução funciona. “Esse equipamento gera energia durante o dia, armazena energia em uma bateria e a comunidade pode utilizar durante a noite também. Estudamos tecnicamente como poder atender. Uma rede elétrica convencional tem uma dificuldade muito grande de atender a essa comunidade. Existem muitas dunas. Existe muita água. Então a tecnologia adequada agora está acontecendo, que é a energia solar”, afirma Soares.

Impacto da eletrificação

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Foto: Assessoria/Equatorial Alagoas

Em plena era digital, cerca de 4 milhões de cidadãos enfrentam a ausência de acesso à energia elétrica no Brasil, segundo os dados demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São pessoas privadas de recursos básicos, como conservação de alimentos, além de meios para se comunicar, acesso a uma educação de qualidade e a oportunidade de aprimoramento em suas atividades agroextrativistas.

A lacuna representa um obstáculo para o desenvolvimento e o progresso dessas comunidades e sublinha a urgência de ações coordenadas e políticas eficazes para garantir a distribuição equitativa e o acesso universal à eletricidade.

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Antes da chegada da energia elétrica na comunidade de Pixaim, por exemplo, apenas candeeiros e velas iluminavam as noites. A limitação à iluminação é apenas uma entre tantas. Os moradores também tinham que consumir seus alimentos perecíveis rapidamente ou usar o complicado processo de conservação usando métodos ancestrais, além de estarem expostos a riscos de acidentes causados pelas velas e aos efeitos nocivos do combustível usado nos candeeiros. A eletricidade, portanto, não apenas iluminou as casas, mas também abriu portas para uma nova era de oportunidades e qualidade de vida.

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Na Bahia

A comunidade isolada de Xique-xique, localizada na cidade de Remanso, no norte da Bahia, também testemunhou a implementação do primeiro sistema de micro rede de energia completamente sustentável do Brasil. Este marco histórico representa o primeiro acesso ininterrupto à eletricidade na região em 90 anos.

Através da instalação de uma usina solar e de uma rede de distribuição realizada pela Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), cerca de 110 residências, abrigando aproximadamente 400 moradores, agora têm acesso a energia elétrica de forma contínua.

No âmbito desse projeto, a comunidade de Xique-xique viu não apenas a introdução de eletricidade, mas também a implementação de uma escola, um poço artesiano comunitário e o fortalecimento da associação de moradores. Conforme destacado pela Coelba, o sistema recém-inaugurado assegura um consumo médio de 80 quilowatt-hora (kWh) por residência, durante todo o mês.

A comunidade de Xique-xique se sustenta principalmente pela agricultura familiar e pela produção artesanal de mel. Com a chegada da eletricidade, a Coelba proporcionou um auxílio adicional doando mais de 90 geladeiras aos moradores. Além disso, os moradores se beneficiarão ao se inscreverem no programa da Tarifa Social, que oferece descontos de até 65% na conta de luz para consumidores de baixa renda.

Mais luz para a Amazônia

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Embora a Amazônia gere 25,5% da energia do Brasil, por meio das maiores hidrelétricas do país, como Tucuruí e Belo Monte (PA), ela só consome 8,5%. Segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), em torno de 19% da população que vive em terras indígenas, 22% daqueles que residem em unidades de conservação e 10% dos assentados rurais, que vivem na Amazônia Legal, não possuem energia elétrica, totalizando cerca de 1 milhão de brasileiros.

Por meio do programa do Governo Federal Mais Luz para a Amazônia, criado em 2020, a Energisa – empresa responsável pela distribuição de energia elétrica na região – tem como finalidade melhorar o fornecimento de energia solar à população residente em regiões remotas da Amazônia Legal, que, devido às características geográficas e ambientais, não são atendidas pela rede de distribuição elétrica convencional. A meta é a universalização do acesso à energia na Amazônia até 2028. Ano passado, no entanto, só 5% da meta prevista para o período foi atingida.

Brasil é potência na energia solar

Nos últimos anos, a demanda por energia solar entre as classes C e D no Brasil disparou, impulsionada por uma combinação de queda de custos e avanços tecnológicos. Essa tendência está abrindo caminho para que um contingente cada vez maior de famílias adquira e instale painéis solares. Além disso, iniciativas como a Revolusolar e a Insolar estão levando projetos sociais que visam o abastecimento de energia elétrica em comunidades carentes.

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O Brasil, com sua abundante incidência do Sol, é um terreno fértil para a adoção da energia solar. Sua localização privilegiada, próxima à linha do Equador, oferece dias mais longos e maior intensidade de radiação solar durante todo o ano, conferindo-lhe uma vantagem significativa em relação a muitos outros países do mundo. Segundo o Atlas Geográfico, a variação do potencial solar no país varia entre 4.444 Wh/m² e 5.483 Wh/m² diariamente.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), são mais de 2.200 horas anuais de luz solar. Esse abundante recurso energético traduz-se em uma capacidade de produção equivalente a 15 trilhões de megawatts. Mesmo o local menos ensolarado do Brasil é capaz de gerar mais energia do que o lugar mais ensolarado da Alemanha, um país renomado por seu consumo de energia por meio de sistemas fotovoltaicos.

Esse potencial da energia solar no Brasil coloca o país em posição de destaque na transição energética global para fontes mais limpas e sustentáveis. Antes disso, porém, deve ser explorado como catalisador de transformação social para todo o território nacional, equalizando as condições para o acesso ao básico.