Alerta climático: eventos extremos exigem planos estratégicos

Sob a ótica das enchentes no RS, Leandro Torres, especialista em Desastres, destaca o papel do planejamento para lidar com eventos climáticos extremos.

Por Nathalia Ribeiro em 10 de maio de 2024 13 minutos de leitura

Leandro Torres di Gregório (Foto: Divulgação)

Uma enchente devastadora assola o Rio Grande do Sul, deixando um rastro de destruição e luto. Com mais de 100 vidas perdidas e danos irreparáveis à economia agrícola do estado, a recuperação será um desafio árduo, com um caminho de meses, talvez anos. O especialista em Gestão de Emergências e Desastres, Leandro Torres Di Gregorio, ressalta a urgência do planejamento diante da perspectiva de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes. Para ele, o planejamento é fundamental para mitigar os danos e proteger vidas diante dessas crescentes ameaças.

Com formação em Engenharia Civil e doutorado em Gestão de Riscos e pós doutorado em Habitação Sustentável e Resiliente, iniciou sua atuação na área em 2009, contribuindo para um projeto da FAPERJ voltado para reconstrução em situações críticas. Após o desastre na Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011, no qual atuou in loco, Torres intensificou suas pesquisas sobre cenários emergenciais e ingressou no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres, dedicando-se a estudos de monitoramento até 2013. Atualmente, é professor do Departamento de Construção Civil na Universidade Federal do Rio de Janeiro e continua atuando como pesquisador na área de Gestão de Riscos e Desastres.

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Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini/ Governo do Estado do Rio Grande do Sul via Flickr

Com essa expertise, Leandro destaca a importância de planos abrangentes que contemplem medidas de prevenção, mitigação, monitoramento, alerta, execução emergencial, resposta e recuperação para lidar com cenários extremos. Em uma entrevista exclusiva concedida ao Habitability, o especialista enfatiza que tanto as cidades quanto a sociedade civil precisam focar em aumentar sua resiliência para reduzir os impactos de eventos catastróficos, como o que atingiu o Rio Grande do Sul.

Como os diferentes estágios da gestão de riscos podem ser coordenados de forma eficiente para garantir a segurança e a resiliência de comunidades e infraestruturas diante de potenciais desastres naturais e emergências?

Leandro Torres – Abrangendo desde a fase de prevenção, quando o risco ainda não está presente, até a determinação da ocupação segura de certas áreas. Nessa etapa, buscamos evitar que o risco se instale em locais perigosos, determinando até que ponto podem ser ocupados com segurança.

O segundo ponto é a mitigação, a segunda fase da gestão de riscos. Na mitigação, as pessoas já ocupam áreas perigosas, e o objetivo é minimizar e reduzir o risco por meio de medidas estruturais, como obras de engenharia, e também por medidas não estruturais. Além disso, existem outras fases na gestão de riscos, como a fase de resposta, que inclui operações de busca e salvamento e ações da Defesa Civil, como monitoramento, alerta e desocupação emergencial. Essa fase serve como uma interface entre a mitigação e a resposta ao desastre. Posteriormente, há a fase de recuperação do desastre, na qual se busca melhorar a resiliência do sistema, recuperando-o para garantir uma maior segurança no futuro.

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Foto: Mauricio Tonetto/Governo do Rio Grande do Sul via Flickr

Não adianta simplesmente recuperar para reproduzir o mesmo risco anterior. A recuperação deve ser feita visando a redução do risco futuro. Isso envolve uma integração de todas as fases da gestão de riscos. Além das fases mencionadas, existe a etapa de preparação, na qual se constrói capacidades institucionais, recursos humanos e procedimentos, além de promover articulações e protocolos entre os setores público, privado e terceiro. Essa etapa visa garantir que as outras fases funcionem, é uma etapa de criação de capacidade e fortalecimento institucional, colaboração entre os diversos atores envolvidos para fazer todas as fases funcionarem. Então, isso é gestão de riscos. Você abordar o problema em todas essas fases desde antes dele acontecer até o momento que já está instalado. 

Quais são os fatores-chave que podemos levar em consideração para identificar que uma catástrofe, como essa do Rio Grande do Sul, irá acontecer?

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Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini/ Agência Brasil

Leandro Torres – Primeiro precisamos entender o conceito de risco. O risco é uma grandeza que combina basicamente duas ou três dimensões. Primeiramente, envolve a ameaça, que é a possibilidade de um evento ocorrer com uma certa recorrência em um determinado ambiente. Essa ameaça é caracterizada por sua magnitude e probabilidade de ocorrência. 

Por outro lado, temos a vulnerabilidade, que são as características do sistema exposto à ameaça, tornando-o propenso a sofrer danos. Existe a vulnerabilidade das pessoas, a institucional, a empresarial e também de infraestrutura. Ela é multifacetada. Existe a vulnerabilidade relacionada às características das construções e edificações que as tornam mais ou menos propensas a sofrer danos e prejuízos durante um evento extremo. 

Além disso, há a exposição, que refere-se a exposição aos elementos que estão suscetíveis a sofrer danos dentro de uma área afetada pela ameaça. Por exemplo, quando implementamos um sistema de alerta para informar às pessoas que devem sair de uma área perigosa, é crucial apontar para um local seguro para onde elas devem se dirigir. Nesse processo, não estamos eliminando a vulnerabilidade das pessoas, mas sim, reduzindo sua exposição ao risco. Portanto, quando falamos em reduzir o risco de desastres, estamos nos referindo a diminuir esses três aspectos: reduzir a ameaça, no caso, as inundações, diminuir a vulnerabilidade dos expostos e reduzir a exposição a esses perigos. É assim que conseguimos diminuir o risco.

Como são identificadas e analisadas as áreas vulneráveis ​​a inundações e como essas informações são utilizadas para planejar e implementar medidas de mitigação de riscos?

Leandro Torres – É fundamental compreender como a ameaça se espalha pelo território. Se estamos lidando com inundações, como no Rio Grande do Sul, precisamos identificar as áreas que serão afetadas por diferentes padrões de chuva e entender como ocorrerá esse processo de inundação. É necessário determinar quais regiões serão inundadas e qual será a altura do nível da água nessas áreas. Isso é crucial, pois as medidas a serem tomadas variam consideravelmente dependendo do nível de inundação. Por exemplo, lidar com água até o tornozelo é completamente diferente de lidar com água que atinge os telhados das casas.

Outras características também são importantes, como a velocidade da água. Basicamente, isso constitui o entendimento da ameaça. Isso deve ser feito para diferentes cenários. Não basta apenas determinar onde ocorrerão as inundações; é necessário compreender em que cenário de chuva isso acontecerá. Para isso, é realizada uma análise de engenharia que envolve simulações e modelagem matemática e computacional. Como resultado desses estudos, obtemos a distribuição das áreas inundadas, a altura das lâminas d’água e, eventualmente, a velocidade do fluxo, que são parâmetros cruciais na avaliação dos danos durante um desastre. 

HBT – O que tem sido comum ultimamente são as autoridades declarando que “não tinha como prever” esses eventos climáticos extremos. No entanto, você está dizendo que é possível prever essas situações. Então, medidas preventivas poderiam ter sido tomadas pelas autoridades para proteger e orientar a população?

Leandro Torres – Sim, sem dúvidas, é possível prever. É claro que, em cenários extremos, existe uma margem de erro. Isso se deve ao fato de que, ao realizar estudos, é necessário calibrar os modelos, ou seja, ajustá-los com base em situações observadas no passado, utilizando dados históricos. No entanto, em situações mais agressivas, como aquelas para as quais possivelmente não existem registros históricos, essa calibração pode se tornar mais desafiadora.

Em relação ao Rio Grande do Sul, temos registros da enchente de 1941, que representam um bom ponto de partida para análises. Utilizando esses registros, seria possível realizar projeções, cientes de que estas tendem a ter uma margem de erro maior do que os cenários convencionais, que ocorrem com maior frequência e menor impacto. Apesar dessa margem de erro, é importante não ignorar essas projeções e levá-las a sério. O que está faltando são gestores, principalmente os do setor público, compreenderem o que é possível de ser feito e estarem abertos a ouvir as opiniões e soluções apresentadas, transformando-as em ações concretas. Sem dúvida, essa tragédia poderia ter sido antecipada de forma mais eficiente do que foi feito.

Porém, não se trata apenas de antecipar eventos, mas também de preparar todo um sistema de resposta, envolvendo tanto a população quanto os órgãos públicos e o setor privado para esses cenários. É essencial ter um plano bem elaborado, baseado em cenários e considerando cada vez mais cenários agressivos, que é a tendência. A partir desse ponto, é necessário desenvolver diferentes planos de ação para diversas situações, utilizando os estudos como base.

Como seria esses planos de ação na prática?

Leandro Torres – Por exemplo, eu tenho o meu plano municipal de redução de riscos. Este plano identifica as obras e medidas que podem ser implementadas para reduzir o risco de inundação e outros desastres. Entre essas medidas, estão a construção de diques, a implementação de piscinões e reservatórios de retenção, entre outras estruturas de engenharia. Em resumo, o plano municipal de redução de riscos consiste em uma lista de obras, acompanhada de estimativas orçamentárias e uma análise de impacto. Essa análise considera se vale a pena realizar determinada obra, levando em conta o impacto que terá na comunidade. 

Vale ressaltar que, mesmo com a implementação dessas obras, é essencial manter um sistema de monitoramento eficaz para garantir a segurança contínua. O plano de alerta e desocupação emergencial é outra iniciativa crucial. Ele visa garantir a segurança da população em momentos de perigo iminente. No entanto, para que esse plano funcione efetivamente, é necessário ter informações precisas e antecipadas. Por exemplo, ao fornecer avisos com precisão sobre as áreas afetadas pela inundação, é possível selecionar com mais assertividade as regiões que precisam ser evacuadas. Isso evita uma mobilização caótica da Defesa Civil, permitindo direcionar os esforços de forma mais eficiente.

Dentro dessa dinâmica de eventos climáticos extremos, como os atuais modelos de previsão climática se comportam? É possível confiar neles?

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Leandro Torres – Existem duas partes do problema da previsão. Em primeiro lugar, temos a previsão da chuva, a qual é realizada pelos meteorologistas. Essa previsão apresenta suas próprias dificuldades e incertezas, mas, à medida que nos aproximamos do momento previsto, a acurácia tende a aumentar e a precisão se torna mais elevada. No entanto, quando a previsão é feita para um horizonte de tempo mais distante, a margem de erro também aumenta. Mas isso está relacionado ao sistema atmosférico em questão.

Então, existem sistemas mais previsíveis, nos quais é possível prever eventos com maior precisão. Por exemplo, recentemente, no Rio de Janeiro, em Petrópolis, foi possível prever com antecedência um evento adverso, permitindo que o município tomasse todas as providências necessárias. Embora sempre haja espaço para melhorias, de maneira geral, o município estava preparado para lidar com a situação, o que minimizou a gravidade da tragédia. No entanto, há sistemas que só é possível identificar o evento quando está prestes a ocorrer. Portanto, é essencial que todo o sistema de resposta esteja bem preparado para agir rapidamente nessas situações.

E qual seria a segunda parte do problema de previsão?

Leandro Torres – A segunda parte do problema envolve a previsão da inundação, que é realizada por meio de modelos computacionais. Às vezes não é viável executar esses modelos instantaneamente no momento em que um alerta é emitido, devido à demanda computacional e ao tempo necessário para processar os dados, especialmente em modelos mais refinados, que requerem mais recursos computacionais e tempo para gerar resultados precisos. Então, rodar os cenários com antecedência. Isso significa que os cenários de diferentes eventos, como diferentes padrões de chuva, devem ser simulados previamente. 

À medida que a situação se aproxima do cenário previsto, é escolhido o cenário mais próximo da realidade e os planos de ação alinhados a ele são implementados. É por isso que todos os planos, treinamentos e preparativos devem ser baseados em cenários. Do contrário, corremos o risco de nos prepararmos para um cenário específico e nos depararmos com uma situação completamente diferente quando o evento ocorre. Por exemplo, em um cenário de inundação “X”, um ponto de apoio pode estar estrategicamente localizado em uma área considerada segura e que não será afetada pelo evento.

Porém, no cenário “Y”, esse mesmo ponto de apoio, que era seguro no cenário anterior, pode estar localizado em uma área inundada ou imprópria para uso na prática. Isso destaca como as circunstâncias podem drasticamente alterar a logística e as necessidades operacionais. Por isso, há algum tempo, temos trabalhado incansavelmente para conscientizar os órgãos sobre a importância de simular diversos cenários e elaborar planos específicos para cada um deles.

No segundo semestre de 2023, o Rio Grande do Sul enfrentou grandes enchentes. E agora, menos de seis meses depois, nos encontramos novamente diante de uma situação extrema. Na sua visão, o que justifica a repetição desses eventos em intervalos tão curtos?

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Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini/ Agência Brasil

Leandro Torres – Na minha visão, o entendimento mais adequado para essa questão está intimamente ligado às mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global. O que se percebe é que existe uma correlação direta entre a emissão de gases do efeito estufa, que começou a aumentar significativamente desde a Revolução Industrial, e a ocorrência de eventos climáticos extremos baseados no aumento da temperatura global. Essa correlação é um sinalizador de que a atividade humana contribui para esse aquecimento, principalmente a atividade produtiva, baseada em emissões de carbono e outros gases de efeito estufa.

Além disso, o processo de urbanização, quando não pensado adequadamente, favorece essa disponibilidade de água para o ciclo hidrológico. Hoje, as cidades são altamente impermeabilizadas, a infiltração de água no solo é baixa em comparação com áreas naturais, então o volume que escoa superficialmente é muito alto, excedendo o que seria esperado em uma cidade projetada para absorver água.

E justamente um dos problemas que as cidades do Rio Grande do Sul estão enfrentando é o escoamento superficial lento. 

Leandro Torres – Sim. O aumento do nível do mar agrava os desafios relacionados ao escoamento da água. Isso pode afetar significativamente cidades costeiras e áreas baixas, exigindo que elas considerem essas possibilidades em seus cenários de adaptação às mudanças climáticas. É importante destacar isso, pois às vezes pode parecer que o derretimento das geleiras está distante, mas suas consequências podem ser sentidas globalmente.

Como você avalia a importância de as empresas do setor da construção, como construtoras, adotarem medidas de resiliência climática em seus projetos de empreendimentos? 

Leandro Torres – É interessante que as construtoras incorporem esse conceito em seus empreendimentos. Por exemplo, no Sul, se determinados prédios tivessem sido construídos de uma certa maneira, poderiam até mesmo servir como abrigos para os próprios moradores. Eles não precisariam necessariamente evacuar a região. Se os apartamentos estivessem projetados para esse cenário específico, o prédio poderia ser um refúgio seguro. 

Nos Estados Unidos, quando ocorrem tornados ou furacões, muitas edificações possuem bunkers, áreas que garantem a segurança dos moradores durante a ocorrência dessas ameaças. É essencial que as construtoras incorporem esse conceito de gestão integral de riscos em suas atividades e produtos. Isso está se tornando cada vez mais importante e pode até mesmo se tornar um diferencial do produto. 

Há muita discussão sobre as doenças que as vítimas e os socorristas das enchentes podem contrair. De que forma as mudanças climáticas representam uma das principais ameaças à saúde pública?

socorristas das enchentes
Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini/ Secom

Leandro Torres – Existem diversos fatores que contribuem para o aumento de doenças, especialmente devido às mudanças climáticas. Durante ondas de calor e de frio, isso se torna bastante evidente, pois algumas pessoas não lidam bem com temperaturas extremas, seja para mais ou para menos. Na Europa, em particular, ocorrem muitos óbitos durante ondas de calor, especialmente entre a população mais idosa. 

Na situação de enchentes, tem o contato com a água contaminada. Se analisarmos nossa rede de águas pluviais, perceberemos que ela recebe carga de esgoto em muitos casos, seja de forma ilegal ou por interligações impróprias. Em algumas regiões da cidade, há sistemas separados, enquanto outras não têm essa distinção. O sistema separador absoluto, por exemplo, mantém o esgoto separado da galeria de água da chuva. No entanto, se isso não ocorre, a galeria de águas pluviais acaba recebendo efluentes de esgoto, pois o tratamento primário nas fossas e filtros nem sempre são realizados com eficiência.

O que significa que durante uma inundação, o que emerge dessas galerias não é apenas água da chuva, mas também água misturada com esgoto, o que contribui significativamente para a propagação de doenças. Além disso, há a questão dos ratos, que podem transmitir leptospirose. Portanto, o contato com essa água contaminada é um dos principais fatores responsáveis pela incidência de diversas doenças nesse momento. 

Contudo, um aspecto crucial da saúde que muitas vezes passa despercebido é o impacto na saúde mental. Os traumas resultantes de situações como essa são significativos, exigindo uma atenção especial à saúde mental a longo prazo. O tratamento adequado envolve acompanhamento contínuo e outros elementos. 

Quais seriam esses outros elementos que poderiam ser agregados para esse tratamento de saúde mental?

Leandro Torres – A estabilidade habitacional. Com incentivos governamentais e recursos disponíveis durante períodos emergenciais, seria possível desenvolver soluções habitacionais prontas para uso. Utilizando esses recursos emergenciais, o ideal é construir rápido e garantir a segurança residencial das pessoas afetadas. Durante esse período especial, do ponto de vista do setor público, não há necessidade de licitações, o que favorece esse tipo de solução. Proporcionar moradia para quem perdeu tudo tem um impacto psicológico extremamente positivo. 

Além disso, o desemprego resultante desses eventos afeta não apenas os indivíduos, mas também as empresas. Como resultado, os empregos são afetados e muitas vezes as pessoas perdem seus meios de subsistência. Quando alguém enfrenta uma situação como essa, não perde apenas sua casa, mas todo um modo de vida. É crucial compreender que isso tem um impacto significativo nas oportunidades disponíveis até para os filhos e filhas dessa pessoa, afetando não apenas a geração atual, mas também as futuras dessa família. Por isso, é essencial garantir oportunidades de trabalho para que as pessoas possam retornar ao mercado de trabalho. 

Se eu tivesse que destacar uma segunda grande contribuição que o mercado privado poderia oferecer, além da mudança na filosofia dos empreendimentos, seria fornecer também esse tipo de abordagem responsável, ambientalmente consciente. Isso incluiria oferecer oportunidades de trabalho para aqueles que perderam seus meios de subsistência. 

Do ponto de vista da legislação ambiental, temos diversas questões relacionadas à flexibilização de leis nos últimos anos. Pode-se imaginar que agora teremos ações mais efetivas em relação ao meio ambiente. Diante desse cenário, quais seriam as principais medidas urgentes a serem implementadas para garantir uma proteção ambiental mais efetiva?

Leandro Torres – Existe uma necessidade que ainda não está adequadamente abordada nas leis. Os planos atualmente estão muito fragmentados. Como discutimos anteriormente, o plano de gestão integral do risco, que abrange desde a prevenção até a recuperação, deveria ser obrigatório. Isso inclui medidas de prevenção, mitigação, monitoramento, alerta, execução emergencial, resposta e recuperação. Essas fases e suas medidas devem ser contempladas de forma abrangente. Deveria haver uma legislação que obrigue os municípios a realizar estudos de cenários e ameaças, especialmente relacionados às chuvas e deslizamentos.

Por fim, quais são os principais desafios que o governo do Rio Grande do Sul vai ter do ponto de vista ambiental, mas também na parte de reconstrução pós enchentes?

Leandro Torres – O desafio principal agora é concluir a fase de resposta, que é a etapa em que estamos atualmente. Este processo ainda tem muitas lacunas que precisam ser abordadas. É comum que as pessoas fiquem sem sinal de celular durante os períodos de chuva. Muitas vezes, o sinal de celular delas depende do wi-fi em casa, já que não têm acesso a planos pré-pagos de internet. Isso significa que essas pessoas ficam incomunicáveis. 

Então, possivelmente, há muitas pessoas que estão incomunicáveis há um longo período, necessitando de socorro. É necessário realizar uma busca mais intensiva e detalhada, talvez utilizando tecnologias como drones para identificar situações mesmo em locais inacessíveis. Muitas dessas pessoas podem estar em locais onde o resgate imediato não é possível, mas é crucial levar mantimentos e ajuda. 

Os abrigos precisam de atenção especial em termos de segurança, com a presença da polícia militar para evitar abusos e irregularidades. É necessário cadastrar as pessoas para receber assistência, como aluguel social, e explorar oportunidades comerciais, como o uso imediato de estoques de imóveis disponíveis. O desafio principal é garantir a segurança das pessoas e minimizar danos secundários, como problemas de saúde e impactos emocionais, enquanto se trabalha na recuperação psicossocial e na retomada das atividades econômicas para que as pessoas possam reconstruir suas vidas.