Arquitetos têm criado espaços surreais usando Inteligência Artificial

A inteligência artificial pode substituir arquitetos? Especialistas dizem que não, mas concordam que a ferramenta pode ajudar nas decisões

Por Redação em 15 de março de 2023 5 minutos de leitura

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Muitos ainda questionam se a Inteligência Artificial, também conhecida como IA ou AI (em inglês), pode “tomar o lugar” de um arquiteto. Essa “desconfiança” ganhou força quando a ferramenta Midjourney – criada pelo empresário David Holz -, foi lançada e se tornou, praticamente, o “estagiário artificial” favorito de muitos criadores de projetos. 

A novidade é que profissionais de todo o mundo têm aproveitado essa ferramenta para realizar seus sonhos mais loucos. O que se tem observado é que essa tecnologia de vanguarda – apesar de refutada pelos conservadores – tem funcionado muito mais como uma aliada para os processos de criação do que o contrário. Alguns, inclusive, estão começando a testar maneiras de usá-la em seu trabalho na vida real. 

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Já existem mais de 72.000 postagens marcadas com #midjourneyarchitecture

Estimulados pela ferramenta, vários arquitetos têm compartilhado nas redes sociais as suas ideias e criações mais ousadas. No Instagram pode-se encontrar imagens de uma  biblioteca feita de lã, arranha-céus no melhor estilo de Salvador Dalí ou, simplesmente, casas ideais, tão realistas ou fantásticas quanto o profissional puder (e quiser) criar. 

Em entrevista ao site Bloomberg, Tim Fu, um designer de arquitetura do grupo de pesquisa computacional Zaha Hadid Architects (ZHACODE), em Londres, garante que o Midjourney é hoje o gerador de arte mais criativo e artístico existente no mercado. “Ele dá uma estética visual que é superior a todos outros”, diz Fu, que testou mais de cem interações com comandos diversos (prompt) da arquitetura Midjourney em workshops para a Parametric Architecture Academy.

“Alunos diferentes usando a mesma tecnologia obtêm resultados muito diferentes. Para mim, isso mostra que esta é a ferramenta que pode nos ajudar, mas ainda requer o controle e a arte da pessoa que a utiliza”, conclui Fu.

Arquitetos têm usado a ferramenta para explorar fronteiras surreais

Trabalhar com IA traz a possibilidade para muitos profissionais de se aprofundar em uma estética absorta, libertando-se por um momento de considerações práticas.

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Um exemplo disso é Hassan Ragab, um designer computacional que trabalha com arquitetura em Los Angeles, EUA, que usou todos os tipos de materiais incongruentes em seus edifícios Midjourney, incluindo penas e algodão doce. Recentemente, ele recorreu à ferramenta de IA para criar homenagens à sua cidade natal, Alexandria, no Egito. Para sua série “The City is a Tram”, Ragab relembra os bondes amarelos da cidade, combinando-os com a arquitetura art nouveau do centro.

“Hoje em dia é muito difícil implementar suas ideias, a menos que você seja um arquiteto muito famoso. E esta ferramenta é uma ótima maneira de explorar novas bibliotecas visuais para arquitetura, em vez de apenas continuar fazendo o que sempre fazemos”, pontua Hassan.

Usuários querem Inteligência Artificial mais inclusiva

Apesar de oferecer uma tecnologia avançada, a ferramenta ainda possui algumas limitações, como a falta de elementos que representam a arquitetura islâmica. Mas esse não é um problema a ser corrigido apenas na MidJourney. Usuários de diferentes partes do mundo apontam que os geradores de arte de IA parecem entender melhor a arquitetura do Ocidente do que a de outras regiões, provavelmente refletindo lacunas nos bancos de imagens nos quais as ferramentas são treinadas.

Ainda assim, Ragab afirma que a Midjourney permite que os arquitetos executem grandes ideias que, muitas vezes, não conseguem realizar em seu trabalho diário. Uma dessas muitas inovações é a possibilidade de usar noções de arquitetura com estruturas curvas contínuas, para combinar imagens como a de água em cascata com vastos interiores curvos e visões sobrenaturais.

Arquitetos começaram a pesquisar para transformar as belas imagens em realidade

Chantal Matar, arquiteta que dirige um estúdio de design homônimo em Londres, é uma das profissionais que têm se beneficiado da noção de arquitetura fluida da ferramenta para invocar estruturas do mar em seus projetos. “A combinação de elementos fluidos com a arquitetura é mais poética do que um espaço onde você pode realmente viver, mas evoca emoção”, diz Matar que, embora faça um trabalho teórico de inteligência artificial, está pesquisando maneiras de trazê-lo para a forma 3D.

“Todo mundo agora está enfrentando esse desafio de obter todas essas belas imagens, mas, no final das contas, elas ainda são visões. É aqui que você precisa começar a pesquisar e encontrar uma maneira interessante de dar vida a elas”, diz Matar.

IA é um avanço, mas a interação de profissionais ainda é fundamental

Stephen Coorlas, um arquiteto de Chicago, EUA, foi dos primeiros a adotar o Midjourney, a criar vídeos tutoriais ensinando como usá-la e, agora, tenta “materializar” as suas criações. 

Por enquanto, ele usa a ferramenta para desenvolver criações 3D com interações de imagens em desenhos arquitetônicos. No entanto, o projeto necessita de detalhes que só um profissional é capaz de resolver. “Estamos promovendo essa nova tecnologia, mas ainda é melhor usá-la como inspiração antes de tentar incorporá-la às práticas do mundo real”, pontua Coorlas.

Andrew Kudless, arquiteto e professor da Universidade de Houston, endossa a opinião dizendo que “as imagens de IA são mais como esboços e cabe ao arquiteto traduzir isso em desenhos, modelos e dados de fabricação”.

“Além dessa tradução, você ainda precisa de pessoas que tenham experiência para tomar boas decisões estéticas. A IA ajudará os arquitetos a explorar ideias mais rapidamente, desde que sejam críticos em relação às ferramentas e entendam o que podem e o que não podem fazer.”

Já Tim Fu acredita que se a IA chegar ao ponto de não apenas ajudar a criar imagens conceituais, mas também modelá-las, é aí que as coisas ficarão ainda mais interessantes. Contudo, ele pondera que, por enquanto, isso é apenas uma especulação.

“Estamos todos de olhos arregalados, perplexos com esta tecnologia que está evoluindo a um ritmo exponencial”, diz ele. “Ela  se desenvolve de maneiras que agora só podemos especular, mas ninguém ainda pode levar isso a sério.”