Líquido da casca de caju pode captar energia solar, diz estudo

Cientistas do Ceará descobriram uma nova forma de gerar energia solar térmica utilizando a casca de caju para aplicar nas placas solares

Por Redação em 29 de novembro de 2022 3 minutos de leitura

energia solar

Gerada sem emitir carbono e outros poluentes na atmosfera, a energia solar é limpa e produzida a partir de uma fonte renovável. Assim, tem pouco impacto nos ecossistemas. A humanidade ainda está descobrindo modalidades de energia renovável e, dentre as mais conhecidas, está a fotovoltaica. 

Mas, apesar dos diversos benefícios, a modalidade de geração permanece inacessível à população mais carente – desafio para o qual pesquisadores do Ceará parecem ter encontrado uma resposta: a casca da castanha-de-caju. 

Um estudo desenvolvido na Universidade Federal do Ceará (UFC) identificou que o líquido da casca da castanha-de-caju (LCC) é uma substância capaz de revestir as placas solares e captar a insolação, transformando-a em energia térmica – que, apesar de não gerar eletricidade propriamente dita, é bastante utilizada para aquecimento de água e outros fluidos. 

Energia solar térmica

A energia solar térmica, também chamada de fototérmica, utiliza o calor para aquecer outro meio. São os sistemas mais simples, econômicos e conhecidos de aproveitar o calor para o aquecimento de água para chuveiros, piscinas, ambientes ou até em processos industriais. Além disso, pode ser utilizada em equipamentos que usam motores elétricos. No caso, tais motores são substituídos pelo sistema solar térmico, como fonte de calor alternativa. 

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O objetivo do trabalho com o caju é para aplicação em energia solar térmica, utilizando coletores solares de placa plana. Segundo o professor Diego Pinho, integrante da equipe de pesquisadores, doutorando em engenharia e ciências dos materiais, trata-se de um trocador de calor que converte a radiação em energia térmica. 

Como funciona o projeto?

“O principal componente do coletor solar placa plana é a superfície absorvedora, na qual será depositado o novo elemento. Portanto, de forma mais simples, a superfície seletiva, feita com o material vindo da casca de caju, absorve a radiação solar e promove o aquecimento de um fluido: água ou óleo, por exemplo”, afirmou Pinho em entrevista para a Uol

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O cientista pontuou que o líquido da casca da castanha-de-caju é uma alternativa ao coletor usado atualmente, que é revestido com óxido de titânio. O principal objetivo do estudo foi a busca por um produto de baixo custo para substituir os materiais com altos valores no mercado. Além disso, há o reaproveitamento do resíduo da indústria de caju, que seria descartado. Ou seja, a economia circular garante um destino mais sustentável. 

Barateamento da energia solar

Os pesquisadores apontaram que o preço da energia solar térmica gerada com o uso do líquido da casca da castanha-de-caju pode ser mais acessível devido à abundância do componente na natureza. Afinal, apenas o estado do Ceará produz cerca de 360 mil toneladas de castanhas anualmente. Dessa produção, sobram 45 mil toneladas do líquido do caju por ano. Ambos os números são possíveis porque oito de 12 indústrias de caju que atuam no país estão estabelecidas no estado. 

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Como a substância tem eficiência comprovada superior aos demais materiais usados nos sistemas fotovoltaicos, seu uso em escala industrial pode levar à redução do preço das placas, diminuindo seu custo final. 

Próximos passos do projeto

Para os cientistas, o próximo passo é colocar o produto à prova para averiguar como será a reação dele em um período de tempo preestabelecido, em condições ambientais. Pinho explica que, com os aprimoramentos necessários, o LCC pode gerar resultados de absorção ainda melhores, que irão contribuir com o aperfeiçoamento da energia solar térmica.  

“Eu, particularmente, fico muito feliz e grato por fazer parte desse projeto, junto com o professor e com todos que fizeram parte do estudo. Um trabalho que se mostra bastante promissor pelos resultados alcançados, evidenciando a importância da ciência no Brasil”, conclui.

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