Políticas inclusivas: as melhores cidades para envelhecer no Brasil

Até 2050, um em cada três cidadãos será considerado idoso no Brasil. Conheça as 5 cidades que estão melhor preparadas para esse cenário.

Por Redação em 24 de outubro de 2023 9 minutos de leitura

melhores cidades para envelhecer

O Brasil testemunha um envelhecimento acelerado e progressivo de sua população. Enquanto a OMS calcula que até 2050 o número de indivíduos com 60 anos ou mais será duplicado em todo o mundo, no Brasil, estima-se que um em cada três cidadãos será considerado idoso. Caso essas projeções se concretizem, a população brasileira será classificada como a sexta mais envelhecida globalmente. As melhores cidades para envelhecer no Brasil estão no caminho para suprir as demandas que esse cenário gera, mas, principalmente, para assumirem a inclusão em sua essência, afinal, uma cidade melhor para os idosos é, na verdade, uma cidade melhor para todos.

Os desafios do envelhecimento populacional

desafios do envelhecimento

Os esforços feitos por urbanistas para construir as melhores cidades para se envelhecer e as ações de movimentos sociais e do Poder Público para promover mudanças já não são suficientes para superar todos os desafios que o envelhecimento populacional implica. A concretização das projeções agrava os problemas presentes em termos de saúde e previdência, mas também em relação a outros aspectos cruciais como habitação, mobilidade urbana e cultura, que envolve a forma como os idosos são vistos pela sociedade. É nesse contexto que temos o etarismo, que se traduz na discriminação de indivíduos com base em estereótipos relacionados à idade ou, como define o Relatório Mundial sobre Idadismo, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que se refere a “estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm”.

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Contrariando estereótipos e preconceitos, boa parte dos idosos no Brasil são economicamente ativos, utilizando suas aposentadorias não apenas para sustentar a si mesmos, mas também para apoiar financeiramente suas famílias, como mostra o livro Envelhecimento Ativo: Uma Política de Saúde, elaborado pela OMS. Segundo a publicação, em muitos casos, são os idosos que provêm as casas que abrigam várias gerações.

Além disso, suas atividades não remuneradas, como cuidar de crianças ou de pessoas doentes, permite que os jovens da família tenham atividades remuneradas. Essa contribuição muitas vezes invisível e subestimada dos idosos é importante para a coesão familiar e o bem-estar de muitas comunidades.

As melhores cidades para envelhecer no Brasil são, portanto, um indicativo do caminho a seguir para apoiar essa mudança, reconhecendo a importância dos idosos no contexto social, em detrimento à uma visão puramente assistencialista.

O que as melhores cidades para envelhecer devem ter?

É por este conjunto de fatores que o Guia Global das Cidades Amigas dos Idosos, desenvolvido pela OMS, alerta que uma cidade verdadeiramente inclusiva para os idosos, que atendam às suas demandas, deve atentar-se a uma série de áreas, englobando uma ampla gama de necessidades e direitos fundamentais que garantem uma vida digna e engajada para a população idosa. Entre os elementos fundamentais destacados estão:

  • Acessibilidade e adequação do transporte público, facilitando a locomoção dos idosos, respeitando e promovendo sua independência.
  • Disponibilidade de habitação adequada, garantindo residências adaptadas e acessíveis para acomodar as necessidades específicas dos idosos, respeitando sua autonomia.
  • Promoção da participação social e cívica, permitindo que os idosos estejam envolvidos ativamente na vida comunitária e nas tomadas de decisão.
  • Fomento ao respeito e à inclusão, assegurando que os idosos sejam tratados com dignidade e que suas contribuições sejam valorizadas pela sociedade.
  • Provisão de serviços de saúde acessíveis e de alta qualidade, atendendo às demandas médicas e garantindo o bem-estar geral dos idosos.

Embora essas diretrizes tenham como foco principal os idosos, é crucial reconhecer que as melhorias na infraestrutura urbana beneficiam toda a comunidade. Calçadas bem conservadas, rampas e escadas acessíveis não apenas facilitam a mobilidade dos idosos, mas também a de crianças, pessoas com deficiência e todos os outros cidadãos. Investir em uma infraestrutura urbana inclusiva e acessível é, portanto, um investimento no bem-estar e na qualidade de vida de toda a sociedade. Algumas cidades brasileiras já perceberam as vantagens de voltar o olhar para a terceira idade. Veja a seguir quais são!

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5 melhores cidades brasileiras para envelhecer

O Instituto de Longevidade, em colaboração com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), estabeleceu um ranking que identifica as melhores cidades para envelhecer no Brasil. Com base em uma análise abrangente que abarcou 876 municípios, os quais abrigam aproximadamente 160 milhões de brasileiros, a lista se fundamentou em 50 indicadores que foram categorizados em sete variáveis-chave: cuidados de saúde, bem-estar, finanças, habitação, cultura e engajamento, educação e trabalho, e indicadores gerais.

1º lugar – São Caetano do Sul, SP

sao caetano do sul
Foto: Alexandre Yort / PMSCS

São Caetano do Sul se destaca como líder quando o assunto é o bem-estar de seus habitantes. Na mais recente avaliação, o município conquistou o 1º lugar, impulsionado especialmente pela presença de estabelecimentos dedicados ao condicionamento físico. A proliferação desses espaços, que promovem a saúde e o vigor dos residentes, tem desempenhado um papel crucial na consolidação do renome de São Caetano do Sul como um promotor do bem-estar em meio ao cenário urbano.

Vale mencionar que os Centros de Integração de Saúde e Educação (CISEs) da Terceira Idade em São Caetano do Sul adotaram o projeto de hortaterapia como uma ferramenta para auxiliar na recuperação de idosos. Essa iniciativa tem ganhado crescente relevância no tratamento de doenças e desequilíbrios emocionais, como estresse e depressão, fornecendo um ambiente terapêutico para os participantes, sob a orientação e acompanhamento de terapeutas e profissionais de saúde especializados.

A presença significativa de fisioterapeutas na cidade também contribui para o seu reconhecimento, pois existe uma proporção substancial de profissionais qualificados em relação à população. Inclusive, em 2022, a prefeitura da cidade promoveu cursos de capacitação de cuidadores de idosos para apoiar ativamente a promoção de um envelhecimento saudável, levando em consideração as características individuais de cada pessoa atendida, juntamente com as diretrizes estabelecidas por uma equipe multiprofissional. Ademais, o programa visou preservar e fortalecer valores fundamentais, como ética, convívio social e familiar, independência e autonomia. Esse empreendimento recebeu um investimento total de R$15,7 mil, proveniente do Fundo Municipal do Idoso.

Além do compromisso com a promoção de um estilo de vida saudável e equilibrado, São Caetano do Sul também demonstra um avanço significativo na esfera tecnológica. A cidade ocupa a segunda posição em uma lista que avalia 280 municípios de grande porte, cujas populações ultrapassam os 100 mil habitantes, no que diz respeito ao acesso à internet. 

O sistema de transporte público é outro ponto primordial. Recentemente, a prefeitura da cidade submeteu um projeto de lei à Câmara dos Vereadores, visando a implementação de uma tarifa zero para o transporte de ônibus. Se aprovada, a medida proporcionará a todos os passageiros o acesso gratuito aos serviços de ônibus em todas as oito linhas da cidade, independentemente da faixa etária. A Prefeitura tem a expectativa de implementar a nova política tarifária a partir de 1º de novembro, sujeita à tramitação legislativa.

2º lugar – Santos, SP

santos sao paulo

Com uma população estimada em mais de 430 mil habitantes, Santos se destaca como uma das melhores cidades para envelhecer por seu desempenho em várias áreas-chave. Em termos de habitação, a administração municipal implementou políticas que garantem moradias acessíveis e de qualidade para os residentes, contribuindo para a estabilidade e o bem-estar da comunidade.

No setor de finanças, a cidade demonstrou se destaca pelo gerenciamento fiscal e transparência, refletindo-se em uma situação financeira saudável e sustentável. A abordagem responsável para lidar com recursos financeiros permitiu investimentos significativos em serviços públicos essenciais e infraestrutura.

Em “cultura e engajamento”, a cidade investiu em programas e iniciativas que fomentam a participação da comunidade em eventos culturais e atividades colaborativas, fortalecendo o senso de identidade local. 

Para atender às necessidades específicas da população com 60 anos ou mais, está sendo implementado um projeto piloto, que visa oferecer acesso gratuito a uma variedade de atividades físicas e cognitivas com foco na promoção do bem-estar e da saúde. O lançamento do aplicativo Actif, realizado em outubro, marcou o início desse empreendimento como parte das iniciativas da Jornada da Pessoa Idosa. 

O aplicativo abrange diversas atividades, incluindo dança, meditação, tai chi chuan, exercícios físicos e yoga, todas acessíveis a todos os usuários, independentemente de sua condição física ou de eventuais limitações físicas. Além disso, o aplicativo oferece desafios cognitivos projetados para estimular e fortalecer a capacidade mental dos idosos, proporcionando um ambiente divertido e desafiador para aprimorar suas habilidades.

3º lugar – Porto Alegre, RS

porto alegre rs

A cidade se tornou uma das melhores cidades para envelhecer devido ao seu modelo exemplar no campo da habitação. Em agosto, a Prefeitura de Porto Alegre anunciou o lançamento do Programa Mais Habitação, uma iniciativa destinada a abordar de forma direta o déficit habitacional na região, proporcionando oportunidades para o acesso à moradia própria. Por meio do programa, famílias com renda de até R$ 4 mil recebem um subsídio de R$ 15 mil para a aquisição da casa própria.

Na área dos cuidados de saúde, a região possui a sexta maior proporção de profissionais de enfermagem para cada mil habitantes, assegurando cuidados médicos acessíveis e de qualidade. Além disso, é importante ressaltar a estabilidade financeira desfrutada pela população idosa, solidificando a cidade como líder no aspecto da segurança financeira para os cidadãos da terceira idade. 

4º lugar – São Paulo, SP

sao paulo

São Paulo alcançou o primeiro lugar no quesito finanças, o que se traduz na maior renda para a população idosa em todo o país. Além desse desempenho, a cidade ocupa o segundo lugar no indicador de carga tributária, que analisa o percentual da receita proveniente de obrigações tributárias. Esse posicionamento destaca a importância dada à eficiência e responsabilidade na gestão dos recursos financeiros, bem como o compromisso em promover um ambiente econômico sustentável para o crescimento contínuo.

Embora haja uma necessidade de fortalecer a infraestrutura de saúde da cidade, particularmente no que se refere ao aumento da disponibilidade de profissionais qualificados, como psicólogos e enfermeiros, existem alguns investimentos estratégicos na área de bem-estar que fortalecem a qualidade de vida da população. O Programa Vem Dançar, por exemplo, é uma iniciativa promovida pela Prefeitura em Centros Esportivos, que tem como objetivo proporcionar encontros sociais e de lazer para os idosos, promovendo a integração por meio da dança.

Em um único ano, o Vem Dançar alcançou mais de 20 mil idosos, com uma média de 1,5 mil participantes em cada edição. Para facilitar o acesso dos interessados ao baile, a Secretaria Municipal de Esportes (SEME) oferece transporte gratuito em ônibus que partem de Centros Esportivos localizados em diversas regiões da cidade.

5º lugar – Florianópolis, SC

A Ilha da Magia figura entre as 10 cidades consideradas com o menor percentual de população de baixa renda. Além desse feito, Florianópolis se destaca na categoria bem-estar devido à oferta de estabelecimentos dedicados ao condicionamento físico e locais aconchegantes para apreciar chás, sucos e lanches. Essa abundância de opções favorece tanto a saúde física da população quanto a promoção de interações sociais e momentos de convívio.

Para os idosos, o Programa Floripa Feliz Idade em Atividade (FFIA) é uma iniciativa promovida pela Secretaria Municipal de Assistência Social, como parte integrante do Programa Floripa Feliz Idade (FFI). Seu objetivo é oferecer aulas de ginástica especialmente projetadas para grupos de idosos a partir de 60 anos de idade. As sessões de ginástica são realizadas em locais de fácil acesso, como salões de igrejas, associações e clubes, proporcionando maior conveniência e facilitando a participação de todos os interessados.

Envelhecimento saudável em áreas urbanas

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Um sistema de transporte público bem concebido, que aborde os desafios urbanos e incorpore considerações específicas para atender às necessidades dos idosos, inevitavelmente se torna um sistema de transporte público melhor para toda a comunidade. Nesse contexto, observa-se que a formulação das melhores cidades para envelhecer também implica, de maneira intrínseca, uma reflexão mais ampla sobre os princípios de humanidade, inclusão social e acessibilidade.

No âmbito brasileiro, algumas das práticas bem-sucedidas no que diz respeito ao apoio comunitário e ao cuidado dos idosos derivam de políticas locais implementadas em diversas municipalidades. Em muitas dessas localidades, a atuação de Agentes Comunitários de Saúde e a integração com o Sistema Único de Saúde (SUS) têm se mostrado eficazes ao realizar atividades e saúde aos idosos mais vulneráveis.

Diversos programas implementados na melhores cidades para envelhecer têm conseguido estabelecer grupos de idosos, fomentando interações sociais e construindo redes de convivência que conferem significado a essa fase da vida. Por meio de políticas públicas, uma infraestrutura adequada e abrangente, os idosos podem desfrutar de uma gama mais ampla de oportunidades sociais e encontrar opções de lazer que enriquecem e promovem uma qualidade de vida mais plena, tendo sua independência, autonomia e liberdade não só respeitadas, mas incentivadas.