Um ícone arquitetônico e do design, um hit do Airbnb, um ponto turístico no meio de Tóquio… A Torre em Cápsulas de Nakagin será demolida. Ou melhor, desmontada. O fim de uma era para o prédio é uma mistura de mudança da cidade com uma visão equivocada de futuro concluída pelo mercado imobiliário.
Atualmente, se fala muito em colocar o comportamento do consumidor no centro das decisões de produto. Essas análises dependem, obviamente, de dados, mas também passam por um bom volume de apostas e teses. A Torre de Nakagin é a mostra do que pode acontecer quando essas suposições sobre as pessoas que, de fato, irão usar os edifícios se mostram… equivocadas.
Conceito do mercado imobiliário, construção modular estava no conceito… até a segunda página
A Torre em Cápsulas de Nakagin foi construída em 1972 e assinada por Kisho Kurokawa. A ideia era que o prédio fosse feito como um jogo de peças de montar. Só que de concreto. Ou seja, as cápsulas tinham que ser substituídas com o tempo, sem precisar demolir o espaço todo. A chamada “arquitetura metabolista”, da qual o prédio faz parte, diz que uma construção pode ser adaptável e flexível.
A renovação dos módulos do prédio pode ter dado certo… no papel. Porque, na prática, o que se viu foi que as peças de concreto estavam longe de serem parecidas com as de plástico: sua modulação exigia um manejo que atrapalharia a vida de quem habitava os espaços.
Em outras palavras: os módulos nunca foram mexidos, o que levou a uma construção degradada, já que ela foi pensada para durar muito menos do que os 50 anos que ficou em pé.
Cápsulas tamanho PP no meio de Tóquio
As cápsulas da torre foram projetadas com foco na sociedade japonesa dos anos 1970, composta majoritariamente por jovens em idade economicamente ativa. Isso porque, para se ter uma ideia, em 1970, a pirâmide etária japonesa era parecida com a brasileira atual: muitos jovens entre 20 anos e 35 anos e poucos idosos com mais de 60 anos.
Portanto, os apartamentos das cápsulas eram pequenos, pensados nos jovens trabalhadores do bairro vizinho de Ginza (maior distrito comercial de Tóquio atualmente). Eles imaginavam que essas pessoas usariam o prédio muito mais para uma estadia local, para dormir durante a semana, do que para morar. Existiam até serviços de digitação, de secretariado e de limpeza do espaço oferecidos no prédio, como em um hotel.
A visão sobre os futuros compradores também influenciou o design do espaço interno. Com no máximo 10 metros quadrados, as cápsulas não tinham nem cozinha, pois os projetistas imaginavam que os habitantes dali não cozinhariam, “apenas pediriam delivery dos restaurantes do entorno”, nos bairros de Ginza e Shimbashi. Os móveis de cada apartamento eram pré-moldados, com TV embutida e até um deck com gravador de voz – e som estéreo!
É o fim de uma “inovação” do mercado imobiliário japonês? Ou o recomeço?
As projeções feitas na hora de construir a torre, assim como a troca de cápsulas, não se tornaram realidade. Isso porque, a sociedade japonesa e a própria cidade de Tóquio mudaram.
O bairro onde estava o prédio passou a ser um lugar mais elitizado, ao lado de Ginza. Além de que o espaço passou a atrair turistas, que tinham outras exigências, que não aquelas do público de jovens trabalhadores.
Agora, as cápsulas da Torre de Tóquio serão desmontadas, levadas para museus ao redor do mundo. E o espaço será usado para outra construção, talvez mais ligada ao futuro – ou apenas a uma boa leitura do presente.