Monitoramento de esgoto poderá prevenir próximas pandemias

Análise da água de esgoto e seu monitoramento ajudam autoridades a entender como se espalham vírus e bactérias pela cidade

Por Redação em 14 de abril de 2023 3 minutos de leitura

esgoto pandemias

Os canos da cidade podem protegê-la contra o vírus da Covid e também contra as próximas possíveis epidemias e pandemias. O monitoramento dos esgotos também é essencial para entender como patógenos – como vírus, fungos e bactérias – se movimentam pela cidade. E, mais importante: como evitar que eles cheguem a mais pessoas?

Duas microbiologistas norte-americanas, Carol Wilusz e Susan De Long, passaram a usar seus conhecimentos para testar águas dos esgotos do estado do Colorado em abril de 2020, em um dos picos da Covid-19. O que elas descobriram foi que é possível ver traços do vírus nos resíduos humanos, tornando os esgotos uma verdadeira mina de ouro de dados.

A partir da análise de uma grande quantidade de esgoto antes de ele ser tratado, a cidade consegue entender os indicadores de infecção em uma área. Além disso, segundo entrevista dada à Fast Company, o sistema monitora automaticamente todos que moram em uma bacia de esgotamento sanitário (a área da comunidade servida por um sistema de coleta de esgoto) e, por isso, é anônimo, imparcial e equitativo.

Esgoto contra a Covid

esgoto pandemias

As cientistas fazem um tipo de exame com a técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) nas águas residuais. Assim, conseguem achar quantidades expressivas de Coronavírus. “A detecção precoce da infecção é essencial em pequenas comunidades, como dormitórios. Podemos capturar indivíduos infectados e colocá-los em quarentena antes que possam infectar outros. A abordagem pode ser aplicada a outras instalações de vida compartilhada, como asilos, prisões e bases militares”, afirmou Wilusz, em entrevista ao portal Bio-Rad.

A análise das águas consegue captar os casos assintomáticos e dar um cenário mais preciso da doença na região, o que apoia as ações hiperlocais das autoridades de saúde. Isso tudo antes dos surtos, de fato, acontecerem, uma vez que o surto acontece quando há muitos casos detectados e sintomáticos. 

“É possível observar os níveis virais subindo e descendo a partir do esgoto, que fornece uma indicação se os casos estão aumentando ou diminuindo na comunidade como um todo”, explicaram as cientistas ao The Conversation. A lição que 2019 deu para todas as autoridades é que o tempo e a rapidez das respostas são um diferencial que pode, literalmente, salvar pessoas. 

E contra todas as outras pandemias?

“Atualmente, a maioria dos esforços de vigilância de águas residuais está focada no SARS-CoV-2, mas essas mesmas técnicas funcionam com outros patógenos, incluindo poliovírus, influenza e norovírus”, explicaram as cientistas ao The Conversation.

O monitoramento do esgoto, ou melhor, das “águas residuais”, pode ainda ajudar a identificar novos vírus assim que eles surgem. “Curiosamente, pesquisadores detectaram o vírus SARS-CoV-2 em amostras de águas residuais arquivadas, coletadas antes mesmo que alguém fosse diagnosticado com a doença. Se lá no final de 2019 o monitoramento já fizesse parte da infraestrutura de saúde pública, ele poderia ter fornecido um alerta de que o SARS-CoV-2 estava se tornando uma ameaça global”, indicaram as cientistas em reportagem da Fast Company.

“Os esforços contínuos de pesquisa e desenvolvimento estão tentando simplificar e automatizar a amostragem de águas residuais. Do lado da análise, a adaptação das tecnologias de PCR e sequenciamento para detectar outros patógenos, incluindo novos, será vital para aproveitar ao máximo esse sistema. Em última análise, a vigilância de águas residuais pode ajudar a apoiar um futuro em que as pandemias são muito menos mortais e têm menos impacto social e econômico”, finalizam as cientistas.