NASA planeja construir casas sustentáveis na Lua

Projeto Olympus pretende tornar planetas habitáveis com o auxílio da impressão 3D.

Por Redação em 1 de novembro de 2023 5 minutos de leitura

casa na lua
Fonte: Reprodução / The New York Times / SEArch+ / Project Olympus

A Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica dos EUA (NASA) está preparando um projeto ambicioso para estabelecer uma presença sustentável na Lua até 2040. O pioneiro Olympus foi criado pela agência espacial americana com o objetivo de construir casas sustentáveis na Lua utilizando tecnologia de impressão 3D. Com certeza, essa abordagem inovadora tem o potencial de revolucionar a exploração espacial e abrir novas possibilidades para missões e, quiçá, futuras habitações. Mas, embora pareça ser um salto corajoso em direção ao futuro, a notícia traz certos questionamentos e inquietações. Será que, realmente, possuímos tecnologia e recursos necessários para concretizar esses assentamentos extraterrestres? E, ainda mais importante, quais os obstáculos teremos de superar para realizar essa façanha e os impactos dela sobre todo o sistema?

Construindo um futuro com casas sustentáveis na Lua

Para dar seguimento ao ambicioso projeto, a Nasa fez parceria com a ICON – empresa sediada em Austin, EUA, que desenvolve tecnologias de construção avançadas com a utilização de robótica, impressão 3D, software e materiais avançados. A startup, inclusive, já imprimiu um habitat simulado, em 3D, chamado Mars Dune Alpha, que planeja usar para missões simuladas em Marte, ainda no próximo ano.

Fonte:  Reprodução / SEArch+/ Project Olympus / The New York Times 

No local foram colocadas câmaras de testes que simulam as condições de radiação e vácuo térmico que seriam criadas no espaço. Com isso, os especialistas acreditam que se os materiais puderem resistir às condições testadas no protótipo, provavelmente, também resistirão ao espaço. Além disso, ao invés de enviar materiais de construção da Terra para o espaço, as empresas planejam usar a impressora em grande escala para construir estruturas diretamente no satélite natural. Para isso, será utilizado uma espécie de “concreto lunar”, feito de fragmentos de rocha, minerais e poeira encontrados na superfície planetária.

É inegável que a ideia de imprimir itens usando materiais encontrados no próprio ambiente lunar é um avanço notável, pois reduziria a necessidade de transportar materiais pesados da Terra para a Lua, economizando tempo, recursos preciosos e possíveis contaminações. Ademais, a flexibilidade do processo de impressão permitiria uma criação mais rápida e personalizada das casas, adaptando-as às necessidades específicas da vida lunar.

O caminho para as casas sustentáveis na lua

A intenção divulgada pelas empresas é criar um ambiente seguro e habitável para astronautas e futuros colonos, garantindo que eles possam viver e trabalhar confortavelmente durante as missões de longa duração. Mas uma das dúvidas que pairam no ar é se essas casas, efetivamente, resistem às condições extremas da Lua, como altas temperaturas, radiação e poeira lunar.

Em entrevista ao New York Post, Niki Werkheiser, diretor de maturação tecnológica da NASA, expressou otimismo, mas enfatizou que, como acontece com qualquer projeto pioneiro, ainda existem muitos desafios a serem enfrentados antes de partir para a ação. E, um dos maiores deles é a poeira lunar, que é extremamente abrasiva, tóxica quando inalada e potencialmente prejudicial aos próprios materiais de construção. Sem falar no fato de que o lançamento de materiais no espaço ainda não é uma tarefa fácil.

A complexidade do projeto é tanta que explica o motivo pelo qual a NASA não está trabalhando sozinha. Colaborações iniciadas com diversas empresas privadas e universidades visam pesquisar a melhor forma de construir não só as estruturas, mas também todos os acessórios de acabamento necessários para os assentamentos, como as portas, móveis e azulejos.

O uso de impressoras 3D já não é uma novidade pra a construção civil terrena

impressora 3d

A robótica tridimensional tem sido constantemente usada na busca por soluções sustentáveis de moradia. As impressoras 3D já foram usadas por arquitetos para construir casas de argila, de madeira e barro. O uso de materiais orgânicos aliado à tecnologia de última geração em projetos arquitetônicos visa provar a viabilidade de se construir boas e acessíveis moradias feitas com matéria-prima local e robótica de baixo custo.

Em solo firme, as experiências foram muito bem sucedidas, mas, como já dizia Oscar Wilde, “as boas intenções têm sido a ruína do mundo”. Se tem algo que a exploração da terra nos ensinou foi que é essencial não repetir alguns erros do passado na exploração planetária. Ou seja, não basta ter tecnologia o suficiente, sem preparar minimamente a humanidade para zelar por esse e outros mundos.

Regulamentação é necessária para não gerar um aumento da produção de lixo espacial e “corrida ao ouro” 

A ida do homem à Lua nos proporcionou uma série de aprendizados valiosos. Por meio das missões Apollo, os astronautas coletaram amostras lunares, realizaram experimentos e estudaram a geologia do satélite natural. Dessa forma, pudemos entender a origem e evolução do sistema solar; impulsionar significativamente os avanços tecnológicos, desde o desenvolvimento de sistemas de propulsão mais eficientes até a criação de materiais mais leves e resistentes; reiterar a capacidade humana de alcançar grandes feitos, o poder da colaboração científica e tecnológica; além de inspirar gerações futuras a buscarem objetivos ambiciosos e desenvolverem seu potencial.

No entanto, quando se trata de implantar vidas em outros planetas, é necessário um cuidadoso exame das possíveis consequências e impactos para a Terra. O princípio da precaução deve ser aplicado para evitar riscos desnecessários. 

Exemplificando, a introdução de organismos em ambientes como Marte poderia trazer consigo organismos e patógenos terrestres que podem interferir negativamente nos ecossistemas nativos, cuja preservação e estudo também são fundamentais. Logo, é fundamental que qualquer missão de colonização ou de construção de casas sustentáveis na lua ou em outros planetas seja cuidadosamente planejada e executada, levando em consideração as implicações para a Terra e, em um contexto macro, o próprio equilíbrio ambiental universal.

Existe uma fascinação duradoura da humanidade em relação ao espaço, mas a exploração não é nada lúdica

O vislumbre de viver em outro planeta desperta a curiosidade e o desejo de explorar o desconhecido desde que o homem pisou pela primeira vez a lua, há meio século, na missão Apollo 1. E esse fascínio tem influenciado diversas formas de expressão.

No mundo do entretenimento, por exemplo, a exploração lunar tem sido retratada de várias maneiras. Filmes como “2001: Uma Odisséia no Espaço” e “Gravidade” mostram a jornada de astronautas em busca de novas fronteiras no espaço. Já desenhos animados, como “Os Jetsons” e “Wall-E”, levam os espectadores a sonharem com um futuro onde a colonização de outros planetas é uma realidade.

Além do impacto na cultura popular, os estudos sobre a exploração espacial têm ganhado cada vez mais relevância. Agências espaciais ao redor do mundo investem em pesquisas para entender a viabilidade de viagens tripuladas para fora do planeta. E, certamente, já existem avanços significativos em termos de tecnologia, como o desenvolvimento de foguetes reutilizáveis e a criação de habitats espaciais. Mas ainda existe uma grande diferença entre o querer e o poder!

Morar na lua e fazer turismo espacial ainda são sonhos distantes

Ir ao espaço pode ser o sonho de muitas pessoas, porém ainda está longe de ser algo acessível. Para se ter uma ideia, dados da Revista Time mostraram que a missão Inspiration4, organizada em 2021 pela SpaceX, empresa de Elon Musk, levou 4 civis à órbita da Terra por cerca de 200 milhões de dólares. Isso significa que, por enquanto, ir ao espaço ainda é algo restrito às pessoas com alto poder aquisitivo e está longe de virar turismo.

No Brasil, então, não existe a menor perspectiva de viagens espaciais. O país ainda não tem foguetes capazes de se manter em órbita e o investimento nessa área é menor do que em outros países que já têm uma longa trajetória de desenvolvimento aeroespacial.

Embora seja difícil prever com precisão a data em que as viagens tripuladas ou mesmo casas sustentáveis na lua se tornarão uma realidade, os avanços tecnológicos e científicos indicam que isso só será possível em um futuro um pouco distante. Ainda existem infinitas dificuldades para que as missões espaciais aconteçam de forma responsável, garantindo a segurança dos astronautas, a proteção ambiental e o benefício da humanidade como um todo. Mas a julgar pelo projeto da NASA, esforço é o que não vai faltar para que isso aconteça. Resta saber se os erros da humanidade para com a Terra serão suficientes para evitar a reincidência em solos extraterrestres.