Entenda a ação que fez o condado de Nevada reduzir significativamente o consumo de água.
Desperdício de água é caso de polícia? Em Las Vegas, sim! Lar de milhares de clubes, hotéis de luxo e cassinos gigantes, a cidade – conhecida como um oásis de indulgência excessiva – adotou um sistema de patrulha ostensiva, os “Policiais da água”, para lidar com a preocupante seca no condado mais populoso do estado de Nevada.
“Las Vegas fez um ótimo trabalho vendendo a fachada de excesso e decadência, mas a realidade é que nossa comunidade é extremamente eficiente no consumo de água”, analisa Bronson Mack, o porta-voz da Southern Nevada Water Authority à Agência AFP.
Depois de anos de seca, as autoridades locais resolveram tomar medidas contra o uso exagerado de água – incluindo a proibição de gramados e a limitação do tamanho das piscinas. Diariamente pela manhã, os carros da “patrulha da água”, as Water Cops, passam com as suas luzes piscando pelas ruas dos extensos subúrbios à procura de sprinklers quebrados e mangueiras com vazamentos.
Nada passa despercebido pelos investigadores, que filmam qualquer violação antes de colocar uma bandeira de advertência no gramado para infratores primários ou registrar uma multa para transgressores reincidentes. Além disso, até 2027, qualquer rega de grama “não funcional” – puramente por razões estéticas e não recreativas – será proibida, exceto em residências unifamiliares.
Como incentivo, as autoridades oferecem aos proprietários dos imóveis US$ 3 para cada metro quadrado de grama que eles removem e substituem por alternativas que podem economizar água, como plantas irrigadas por gotejamento.
Las Vegas está crescendo a uma taxa impressionante. O condado abriga cerca de 2,3 milhões de pessoas, mas as previsões indicam que a população poderá ultrapassar 4 milhões até 2055 .
Atraídos por custos de vida mais baratos, impostos mais baixos e casas recém-construídas, espera-se que mais de meio milhão de pessoas se reúnam no sul de Nevada apenas nos próximos 15 anos. Para acomodá-los, a paisagem árida da região está sendo convertida em shoppings e centros comerciais, à medida que ruas sem saída sinuosas se aproximam das encostas rochosas.
Na Las Vegas Strip, onde ficam famosas atrações como cassinos, as fontes do Bellagio e os canais do Venetian, por exemplo, são utilizadas águas subterrâneas de poços particulares que não são seguras para consumo. Mas, sob acordos de compartilhamento de recursos com outros estados, Nevada pode usar menos de 2% da água total do rio Colorado atingida pela seca.
Diante disso, equilibrar crescimento e mudança climática representa um grande desafio. No caso de Vegas, a aplicação de multas, recompensas e a divulgação do programa e regras de conscientização têm sido aplicadas com eficiência.
Como em Nevada só é permitida uma pequena alocação dos recursos hídricos do rio Colorado e a população da região vem crescendo desenfreadamente, o uso do rio – de longe a principal fonte de água de Las Vegas – diminuiu quase em um terço. Por isso, inclusive, as autoridades federais já consideram cortes obrigatórios em todo o oeste dos EUA.
Segundo o pesquisador Brian Richter, com a ação dos “policiais da água”, Las Vegas se tornou uma espécie de “estrela do rock de conservação de água” ou “um modelo” a ser seguido por cidades de toda a região.
As leis da água nem sempre são populares, mas outros estados podem ser obrigados a seguir o exemplo de Vegas. No entanto, nem todo mundo está feliz com essas regras. Mas, à medida que a mudança climática aumenta os casos de seca , a normas se tornam inescusáveis.
É preciso lembrar que a normativa que limita o acesso de Nevada ao rio Colorado foi criada em 1922, quando Las Vegas mal existia. Agora, com a redução dos níveis de água nas proximidades do Lago Mead – o maior reservatório do país –, as autoridades federais estão planejando cortes drásticos na distribuição de água no oeste. Ainda é incerto se os cortes serão uniformes para todos os estados ou baseados em “direitos superiores”. Mas muitos, como Bronson Mack, já consideram um desafio – e até mesmo injusto – a aplicação futura de novas regras de redução de consumo à Las Vegas, já que a cidade vem há um tempo tomando atitudes para aplacar os efeitos da seca.
“Deveríamos receber créditos pela quantidade de água que já economizamos nesta comunidade nos últimos 20 anos. Outras comunidades só agora estão começando a se engajar na conservação”, diz Mack.
