Projeto da WRI Brasil foca em modos ativos de deslocamento; calçadas amplas e redução de acidentes de trânsito.
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Redação em 11 de janeiro de 2024 5minutos de leitura
Foto: Reprodução/WRI Brasil
Um espaço agradável, acessível, ativo, onde as pessoas se sentem confortáveis e seguras para caminhar, fazer compras, tomar um lanche ou simplesmente sentar em um dos bancos e contemplar o vai e vem dos demais moradores da cidade. Assim é a rua Coronel José Monteiro, localizada na região central de São José dos Campos, município do interior de São Paulo. A via, que sofreu nos últimos anos uma readequação, foi reconhecida pelo instituto de pesquisa World Resources Institute (WRI) como uma “rua completa”.
A via personifica o objetivo da WRI de, por meio do projeto “Ruas Completas”, mudar o paradigma dos desenhos viários consolidados ao longo do último século e ainda em prática no Brasil, baseado em soluções para o tráfego de veículos, não para a mobilidade de pedestres. Com ações realizadas junto ao poder público, o projeto visa influenciar os governantes para que levem em consideração outros aspectos ao planejar as vias de uma cidade, afinal, “uma rua se torna mais completa quando há uma distribuição mais democrática do espaço e segurança para todos os seus usuários”, defende a organização.
Assim, uma vez que a rua Coronel José Monteiro possui grande concentração diária de pedestres – cerca de 12 mil, segundo dados da Associação Comercial e Industrial (ACI) –, priorizou-se os modos ativos de deslocamento: a pé e de bicicleta. A via ganhou espaços de descanso, como bancos, vegetação e locais para estacionamento de bicicleta. Houve ainda um aumento da área da calçada e a manutenção de uma faixa de rolamento de veículos em baixa velocidade.
A boa notícia é que São José não está sozinha na missão: outros 19 municípios do estado de São Paulo fazem parte do projeto. São eles: Araraquara, Bauru, Bebedouro, Campinas, Campos do Jordão, Capão Bonito, Catanduva, Diadema, Francisco Morato, Guarulhos, Jacareí, Jundiaí, Limeira, Piracicaba, Registro, Ribeirão Pires, Ribeirão Preto, Santo André e São José do Rio Preto.
Jundiaí, aliás, recentemente deu também um importante passo para criar espaços mais seguros: o município cravou seu pioneirismo ao transformar a rua Lacerda Franco, na Vila Arens/Vila Progresso, em uma área dedicada à primeira infância. O espaço da via foi redistribuído de forma mais democrática, com calçadas maiores, uma ciclofaixa e medidas para tornar o trânsito mais seguro.
Já Rio Preto desenvolveu um projeto-piloto de urbanismo tático, implementado em frente à escola municipal Dr. Norberto Buzzini, no Jardim Yolanda. Neste conceito, a via é afunilada para o trânsito de veículos e as calçadas são ampliadas com a criação de áreas de convivência lúdicas e seguras.
Entre as principais características da via estão a pintura colorida, a proteção por meio de balizadores e tartarugas refletivas e a jardinagem. Além disso, as vagas de parada e estacionamento são desenhadas de forma a garantir embarques e desembarques mais seguros, com foco no transporte escolar.
Além de proporcionar bem-estar aos cidadãos, a promoção de um trânsito mais seguro é a necessidade compartilhada por centros urbanos de todos os tamanhos. Apenas no estado de São Paulo, foram 4.852 óbitos decorrentes de acidentes e intercorrências de trânsito de janeiro a novembro de 2023, de acordo com dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-SP). A boa notícia é que há uma redução de 4,2% em relação ao mesmo período de 2022, com 5.067 mortes.
Com relação aos sinistros com vítimas não-fatais, SP registrou um aumento de 8,5% no comparativo de janeiro a novembro de 2023 e o mesmo período de 2022. Foram 162.868 ocorrências nos onze meses do ano passado, contra 176.712 no acumulado deste ano.
É de olho nesses dados que a WRI Brasil se uniu a outras organizações – Vital Strategies, Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Instituto Cordial e Respeito à Vida (Detran-SP) – para fomentar uma ideia que parece simples: o potencial da transformação coletiva. Afinal, imagine se governantes pudessem compartilhar seus desafios comuns, aprendizados e soluções para avançarem juntos?
O trabalho da rede parte da premissa de que a responsabilidade no trânsito é compartilhada entre quem utiliza o espaço viário e quem o projeta e implementa. No entanto, as pessoas naturalmente cometerão erros, assim, a infraestrutura viária precisa ser projetada para que tais erros não resultem em mortes e lesões.
Ou seja, trata-se de um desafio e tanto. A adesão dos municípios e o compromisso deles são fundamentais na elaboração e execução de estratégias e na criação de projetos de intervenção urbana que resultem em um futuro mais seguro no trânsito.
Para proporcionar a troca de experiência entre as cidades, fomentando a implementação de projetos “Ruas Completas”, a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e o WRI Brasil formaram a “Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono”, também chamada de “Rede Nacional de Ruas Completas”. Entre 2017 e 2020, 21 cidades do país desenvolveram projetos-piloto de “Ruas Completas”. Em 2021, foi anunciada a “Rede Ruas Completas SP”, com foco nas cidades paulistas.
Comunicação em prol da segurança viária
Como a comunicação pode ajudar a salvar vidas? Essa é a pergunta que o seminário realizado em julho deste ano pela “Rede Ruas Completas SP” se propôs a responder. Com o tema “Comunicação para Segurança Viária: como divulgar planos e projetos voltados a salvar vidas no trânsito?”, o encontro teve como foco o uso da comunicação como ferramenta estratégica na implementação de ações relacionadas à segurança viária. Doze cidades estiveram presentes.
“Investir em um plano de comunicação estruturado, com base em dados, evidências e objetivos bem definidos é decisivo para o avanço de políticas públicas, inclusive de segurança no trânsito. Assim como dar transparência às informações e investir em um relacionamento mais próximo com a imprensa”, afirmou em comunicado da WRI, Omar Jacob, assessor técnico sênior da Vital Strategies para América Latina.
O evento contou com atividades práticas e expositivas com troca de experiência entre participantes. Foram abordados temas essenciais para a criação de um plano estratégico de comunicação, por exemplo, como pautar o tema na agenda da cidade e desenvolver campanhas de comunicação de mídia de massa.
Em tempo, o WRI conta com o conhecimento de aproximadamente 1.000 profissionais em escritórios no Brasil, China, Estados Unidos, Europa, México, Índia, Indonésia e África.
A rede de organizações faz parte da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global (BIGRS), que busca salvar 600 mil vidas e prevenir 22 milhões de lesões no trânsito de países em desenvolvimento até 2025. Globalmente, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 3,5 mil pessoas morrem todos os dias nas vias, o que equivale a quase 1,3 milhão de mortes evitáveis e cerca de 50 milhões de pessoas lesionadas a cada ano.
Assim, a meta da segunda Década de Ações para Segurança no Trânsito da Organização das Nações Unidas (ONU), objetivamente, é reduzir as mortes e lesões no trânsito em pelo menos 50% até 2030.
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