A transformação digital vem acelerando as mudanças no mercado imobiliário em todo o mundo e os Estados Unidos – pelo tamanho do segmento e pela tradição de negociação – pode ser apontado como um terreno de tendências a serem replicadas no Brasil, como mostra a pesquisa mais recente da National Association of Realtors (NRA). A entidade, com seus mais de 1,5 milhão de membros, é apontada como a maior associação de classe daquele país, reunindo corretores residenciais e comerciais, vendedores, administradores de propriedades, avaliadores, conselheiros e outros envolvidos no setor imobiliário. Intitulado Tecnology Survey 2021, o levantamento indicou cinco ferramentas digitais ou que envolvem algum tipo de digitalização mais usada nos últimos 12 meses (a pesquisa foi feita em junho deste ano) pelos corretores de imóveis.
A primeira delas é a assinatura eletrônica para contratos (listada por 78% dos pesquisados), seguida dos aplicativos ou tecnologia de MLS local (54%). O MLS, sigla em inglês para serviço de listagem múltipla, é um mecanismo que agrega a lista de imóveis para locação ou venda. Já as mídias sociais (53%) são o terceiro recurso mais citado, à frente dos lockboxes (48%) e das videoconferências (39%).
Os lockboxes são como grandes cadeados que guardam as chaves de um imóvel em exposição e que antigamente eram abertos com uma chave disponibilizada para os corretores. Hoje, o acesso dos lockboxes pode acontecer digitalmente pelo envio de um código via celular. Esse sistema é bastante comum nos Estados Unidos e não deve desaparecer nos próximos 12 meses, até mesmo pela praticidade.
Mudanças no futuro próximo da corretagem
Da lista inicial, aliás, a videoconferência deve sair de cena, provavelmente pela menor restrição em função do controle da pandemia. A relação das ferramentas que devem ser mais usadas muda um pouco, mas mantém a assinatura eletrônica no topo, seguida de mídias sociais, aplicativos MLS, gestão de relacionamento e os lockboxes.
Já o universo imobiliário de mais de 24 meses – ou seja, junho de 2023 – deve ser mais impactado por um quarteto de tecnologias: os drones (citados por 37% dos entrevistados), a segurança cibernética (34%), o 5G (31%) e a realidade virtual (30%). Os dados foram consolidados a partir do envio da entrevista online e aleatória a 49.081 ativos e membros da NRA, o que gerou 3.104 respostas utilizáveis – uma margem de resposta de 6,3%. A margem de erro do levantamento, de acordo com a NRA é de 1,76%.
Voltando ao presente, mas certamente com impacto no mercado de curto prazo, está o tipo de rede social mais usada na interação com o cliente potencial. A maior parte dos corretores de imóveis entrevistados (nove em cada dez) citou o Facebook como recurso. O Instagram aparece em segundo lugar (52%), apesar de seu apelo visual, e o Linkedin (48%) aparece em terceiro. O YouTube (24%) é a quarta rede social mais utilizada para a realização de negócios.
Já as três principais ferramentas de tecnologia que forneceram aos entrevistados (ou seus agentes) o maior número de leads de qualidade nos últimos 12 meses foram: as mídia sociais (apontadas por 52%), ferramentas de relacionamento com o cliente gerenciamento (CRM), com 31%, e site MLS (28%).
Compradores também usam tecnologia e agitam o mercado
A pesquisa da NRA sobre as ferramentas que os corretores de imóveis apontam como mais importantes para sua profissão também indicam o outro lado da moeda: os compradores serão o maior fator de mudança de tecnologia . E quem referenda esse ponto de vista é Joseph Edgar, CEO da TenantCloud and Rentler, empresa de soluções de gerenciamento para o mercado imobiliário nos Estados Unidos. Em reportagem da Forbes, ele disse que exemplos como o espaço iBuyer exemplificam a tendência.
Edgar se refere ao mecanismo no qual os compradores usam dados para estimar melhor o valor de uma casa e, em seguida, oferecem ofertas rápidas aos vendedores por valor pelo menos 10% abaixo do mercado.
O Opendoor, outra plataforma similar, também faz isso, além da gigante imobiliária Keller Williams, que lançou recentemente o Keller Offers, outra opção de comprar e consertar imóveis. “Se o setor imobiliário já era confuso, agora é difícil dizer quem é corretor imobiliário e quem não é. A Zillow anunciou recentemente que os corretores imobiliários internos trabalharão com seu programa iBuyer para vender casas. Esta é uma grande mudança que pode ter sido provocada por um mercado de vendas aquecido”, complementa.
A reação também acontece em sentido diferente. É o caso da ReMax e a Berkshire Hathaway – todas empresas imobiliárias físicas – que criaram sites e ferramentas online para visualizar propriedades, incluindo obter uma estimativa do valor de uma casa. Em resumo, trata-se de um mecanismo semelhante ao que Zillow era conhecida.
As listagens, o sistema MLS citado no começo dessa matéria, agora completamente digitalizadas, permitem que os compradores naveguem pelas opções de imóveis disponíveis sem saírem de suas casas. Mais do que isso, as visitas domiciliares digitais no Zoom ou no Google Meets tornaram-se a norma, enquanto o 3D e a realidade virtual finalmente encontraram seu propósito em ajudar os compradores em potencial.
Do lado do corretor (considerando o mercado dos Estados Unidos), Edgar aposta num novo – e maior – papel para as corretoras e seus profissionais. Para ele, ao selecionar a corretora, o futuro comprador vai ditar aspectos como o seguro e até mesmo a lista de estoque de imóveis a que terá acesso. “Agregar todos os imóveis em um sistema MLS e todos os corretores trabalhando juntos enquanto lutam nos bastidores por comissões, se tornará uma coisa do passado, pois os consumidores tomam menos decisões após selecionar um corretor”, explica o especialista.
Edgar argumenta ainda que as corretoras não só ajudarão durante o processo de compra e venda, mas também na fase de manutenção da propriedade. Ele aposta na criação de um aplicativo simples, que permitirá que se pague a hipoteca, seguro, depósito e muito mais. “Um único pagamento mensal cobrirá todos os custos residenciais mensais e até mesmo oferecerá benefícios adicionais e muito mais de empresas que prestam serviços de manutenção, serviços públicos, impostos sobre a propriedade, garantias de produtos para coisas como telhados, revestimentos e pintura, e muito mais”, conclui.