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Zerar impacto negativo não será o bastante, diz Cristiane Anselmo
Grandes companhias devem “assumir corresponsabilidade" em mudar o mundo, o que demanda passar a gerar impacto positivo.
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Camila de Lira em 27 de junho de 2022 3minutos de leitura
Emergência climática, colapso ambiental, crises sanitárias. Em algum momento, a conta do mundo vai ter que passar do negativo para o positivo. Para isso, será preciso mais que zerar os comportamentos que contribuem para que a roda gire dessa forma: é necessário ter foco em criar um espaço melhor do que encontramos. “Só mitigar os riscos não vai adiantar para criar o futuro. É preciso parar de mitigar o negativo e passar a gerar o positivo”, disse Cristiane Anselmo, estrategista de marketing e inovação social, cofundadora da Devir Social – consultoria especializada na implementação de soluções de impacto. Para isso, é preciso ir além dos propósitos e “golden circles” para chegar na raiz da criação de produtos e serviços.
Um negócio de impacto social, explica Cristiane, pensa primeiro nas implicações sociais dos produtos e serviços. “É um negócio que gera lucro, mas que precisa comprovar o impacto social positivo em primeiro lugar. E ele precisa ser autossustentável”, comenta a executiva.
Economia para regenerar
Reverter a maneira com que os produtos e serviços são pensados é também mudar um pouco a lógica da economia tradicional. Segundo Cristiane Anselmo, essa é a raiz por detrás da chamada “economia regenerativa”. “É uma economia que, à medida que cresce, gera riqueza e abundância para a sociedade como um todo”, explica.
De maneira prática, a economia regenerativa é uma “evolução” da economia circular: é um sistema que valoriza os recursos socioambientais. “O Brasil é uma grande potência da economia regenerativa porque temos biodiversidade e, a partir dela, conseguimos gerar inteligência para se inspirar na tecnologia da floresta”, comenta a executiva.
Segundo Cristiane, olhar para os biomas e privilegiar a cadeia produtiva já é um passo para chegar na economia regenerativa. “É uma lógica diferente. Tem que olhar para toda a cadeia de criação e design dos produtos e pensar como ela pode regenerar o espaço”, explica. O assunto ainda está limitado às conversas sobre meio ambiente, mas algumas companhias conseguem “estourar a bolha” e fazer esse modelo chegar ao meio social.
A executiva dá o exemplo da Vivenda, negócio de impacto social que criou um modelo de obras para população em alta vulnerabilidade social. A parte regenerativa da Vivenda vem em seu formato, que privilegia a educação e a formação de profissionais de obra local. “Eles conseguem fazer reformas de baixíssimo custo, mas também capacitam a comunidade para trabalhar no setor de habitação”, disse ela.
Grande poder, responsabilidade ainda maior
De um lado, os negócios de impacto social que estão começando no Brasil têm o desafio de ganhar escala e monetizar seus produtos. Do outro, as grandes companhias, que já acessam escala e dinheiro, têm a oportunidade de absorver os objetivos do impacto positivo para o DNA de todos os seus projetos. “As grandes corporações precisam assumir a corresponsabilidade pelos desafios sociais, pois elas têm o poder de articulação e recursos para assumir esses desafios”, diz Cristiane. Além disso, as companhias contam com a confiança do público. De acordo com o Edelman Trust Barometer de 2022, 64% dos brasileiros acreditam mais nas empresas do que no governo ou na mídia.
Seja por meio de investimento social ou por práticas de ESG, as grandes empresas precisam “ligar o botão de virar”. “As grandes empresas podem levar adiante os negócios de impacto, mas precisamos virar o transatlântico para que a conta feche”, disse. O trabalho em parceria com redes de negócios de impacto social, como a Artemisia, pode também ser uma forma de equilibrar os pratos.
Mudança começa nas pessoas
Para a cofundadora da Devir Social, ainda existe um caminho para que a transformação aconteça nas empresas e chegue também ao espaço urbano. E esse caminho passa, obrigatoriamente, por esferas ainda menores: as pessoas! “A primeira mobilização que temos que fazer é a humana. Precisamos mobilizar os diretores e os CEOs, pois eles precisam ter esse mindset. Eles precisam comprar a ideia de que será necessário explicar aos acionistas como será a mudança de visão e como é essa visão de futuro”, comenta.
A “micromobilização e a microrrevolução” também passam pelas lideranças comunitárias e políticas. “A lógica dos governos pode ser regenerativa, mas essa ‘chavezinha’ vira por meio das pessoas. São as pessoas que fazem essas revoluções”, destaca Cristiane.
O caminho da mudança é árduo, mas é possível. Há 10 anos no mercado de impacto social, Cristiane diz que viu o bastante para se tornar otimista com relação ao futuro. “Tanta coisa mudou desde 2012 até hoje, tantas iniciativas ebuliram, que acredito que até 2050 muito ainda vai mudar. Até lá, com certeza a transição para a economia circular estará implementada, e uma grande parte da economia já será regenerativa”, prevê.
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