Clima é uma ameaça crescente aos sistemas de saúde
Até 2050, as alterações climáticas irão causar 14,5 milhões de mortes e 12,5 bilhões de dólares em perdas econômicas, segundo relatório.
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Redação em 22 de maio de 2024 5minutos de leitura
Até 2050, as alterações climáticas irão causar 14,5 milhões de mortes e 12,5 bilhões de dólares em perdas econômicas. Este é o alerta do relatório “Quantificando o Impacto das Alterações Climáticas na Saúde Humana“, publicado recentemente pelo Fórum Económico Mundial. As mudanças climáticas estão deixando uma marca profunda na saúde global, indo além das consequências para o meio ambiente e tocando diretamente no bem-estar humano.
O aquecimento global e a intensificação de eventos climáticos extremos estão ampliando os desafios já existentes, impondo uma sobrecarga adicional aos sistemas de saúde em várias partes do mundo. Esse cenário cria uma pressão sobre os recursos e capacidades dos sistemas de saúde, que lutam para se adaptar e responder às crescentes demandas decorrentes da interseção entre mudanças climáticas e saúde pública.
O propósito do relatório é fornecer uma análise detalhada das consequências das alterações climáticas para a saúde humana. As análises revelam que o aumento das temperaturas e a intensificação dos eventos climáticos extremos terão um impacto significativo no agravamento de doenças infecciosas, cardiovasculares e respiratórias, entre outros problemas de saúde.
Esses efeitos serão especialmente sentidos por comunidades que já são mais vulneráveis, incluindo mulheres, jovens, idosos e pessoas de baixa renda. Esta vulnerabilidade é ainda mais acentuada em países em desenvolvimento, como nações da África e do sul da Ásia, onde os sistemas de saúde muitas vezes estão sobrecarregados e os recursos são escassos.
A interseção entre alterações climáticas e saúde pública
O relatório analisa detalhadamente seis categorias principais de eventos climáticos que exercem impactos negativos na saúde humana. Estas incluem inundações, secas, ondas de calor, tempestades tropicais, incêndios florestais e o aumento do nível do mar. Cada uma dessas categorias apresenta desafios distintos para a saúde pública, desde surtos de doenças transmitidas pela água durante inundações até o aumento do risco de insolação e exaustão por calor durante ondas de calor extremas.
Entre os eventos climáticos analisados, constatou-se que as inundações representam o maior risco de mortalidade, podendo alcançar um total de 8,5 milhões de mortes até o ano de 2050. As secas, frequentemente associadas a períodos de calor extremo, são a segunda maior causa de mortalidade, com uma estimativa de 3,2 milhões de mortes previstas.
Já as ondas de calor, caracterizadas por longos períodos de temperaturas e umidade extremas, destacam-se pelo seu significativo impacto econômico, projetando-se uma perda estimada em 7,1 bilhões de dólares até 2050.
A análise enfatiza que, mesmo com um aumento de apenas 1,1 graus Celsius na temperatura média da Terra, os eventos climáticos extremos estão provocando consequências graves, como o aumento da incidência de doenças relacionadas ao clima.
As alterações climáticas estão prestes a causar um aumento dramático em várias doenças sensíveis ao clima, incluindo aquelas transmitidas por vetores, como malária, dengue e zika. Com temperaturas mais altas, os mosquitos terão um período de reprodução prolongado e uma distribuição geográfica expandida, levando essas doenças a se espalharem para regiões antes menos afetadas, como Europa e Estados Unidos. Estima-se que até 2050, mais 500 milhões de pessoas corram o risco de serem expostas a essas doenças transmitidas por vetores.
Mortalidade não é o principal problema
Os efeitos dos eventos climáticos na saúde não se limitam apenas às mortes, mas também afetam significativamente a morbidade, ou seja, as condições de saúde de longo prazo das pessoas. Prevê-se que apenas 21% do impacto geral na saúde seja devido a mortes, enquanto cerca de 79% está relacionado a problemas de saúde crônicos que se desenvolvem após o evento climático. Isso levanta preocupações sobre os efeitos de longo prazo desses eventos na saúde das pessoas e destaca uma tendência de impactos climáticos que afetam várias gerações, gerando problemas de saúde persistentes.
Segundo o estudo, a morbidade será outro fator chave para entender por que os países em desenvolvimento sofrem mais com as alterações climáticas. Apesar de os impactos desses eventos serem sentidos em todo o mundo, os países em desenvolvimento serão os mais afetados, especialmente devido às suas populações densas que vivem em áreas costeiras baixas e em regiões com climas quentes e secos. Além disso, as perdas também refletem a realidade de que as pessoas de baixa renda e outras populações vulneráveis têm menos recursos para evacuar áreas afetadas por desastres naturais e mitigar os impactos desses eventos climáticos.
As regiões da África e do Oriente Médio enfrentarão uma grande carga devido a essa disparidade, enfrentando um impacto significativo. Estima-se que juntas essas regiões sofrerão uma perda de 1,27 bilhões de anos de vida ajustados por incapacidade (DALY), uma métrica que avalia tanto a mortalidade quanto os problemas de saúde que impactam a qualidade de vida das pessoas. Além disso, haverá um custo econômico combinado de US$ 2,7 trilhões decorrente da perda de produtividade e custos de saúde. Em seguida, a Ásia enfrentará o segundo maior impacto, com uma projeção de 588 milhões de DALYs e perdas econômicas estimadas em 3,5 trilhões de dólares.
Apesar de menores em comparação, os impactos em outras regiões ainda são consideráveis. Na Europa, por exemplo, os impactos cumulativos na saúde representam a perda de 64,5 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade e um custo econômico de US$ 2,6 trilhões. Já na América do Norte e Central, o impacto econômico totaliza 1,1 trilhão de dólares, enquanto os DALYs perdidos são estimados em 44 milhões.
É esperado que a América do Sul e o Sudoeste do Oceano Pacífico enfrentem impactos menos severos. Na América do Sul, estima-se uma perda de 30,8 milhões de DALYs e uma economia com perdas de US$ 2,2 trilhões. Já no Sudoeste do Oceano Pacífico, prevê-se uma perda de 11,1 milhões de DALYs e perdas econômicas de US$ 275 bilhões.
Alterações climáticas são um chamado à ação global
O relatório ressalta que há uma janela de oportunidade para a economia global implementar medidas assertivas visando mitigar os efeitos das mudanças climáticas na saúde humana. É destacada a importância de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e adotar estratégias preventivas para proteger as populações dos impactos negativos dessas mudanças ambientais. No entanto, o documento também alerta para a necessidade de os líderes políticos reconhecerem e enfrentarem a falta de preparo dos sistemas de saúde para lidar com as consequências dessa crise.
Ao contrário da pandemia de COVID-19, que pegou muitos governos e o setor da saúde de surpresa, agora há uma oportunidade para os sistemas de saúde se adaptarem e se fortalecerem diante do aumento dos impactos das mudanças climáticas. Isso inclui investimentos em infraestrutura hospitalar, capacitação de profissionais de saúde para lidar com novos desafios relacionados ao clima e fortalecimento das cadeias de abastecimento para garantir o fornecimento contínuo de medicamentos e suprimentos essenciais.
A colaboração entre diversas partes interessadas e setores é considerada fundamental para enfrentar esses desafios. Isso inclui não apenas governos e instituições de saúde, mas também empresas, organizações não governamentais e comunidades locais. Somente através de uma abordagem colaborativa e abrangente, será possível alcançar uma transformação significativa no sistema de saúde, garantindo assim a resiliência das populações diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas.
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