Artes nas fachadas prediais, do estético ao funcional

A instalação de painéis artísticos despontam em empreendimentos e promovem revitalização urbana.

Por Redação em 23 de maio de 2023 5 minutos de leitura

artes nas fachadas prediais

Quem passou pela Avenida Paulista, em São Paulo, certamente, se surpreendeu com um “Sansão” gigante no alto do Conjunto Nacional. A ação faz parte das comemorações dos 60 anos da personagem título da Turma da Mônica. Essa intervenção ficará à mostra apenas até o dia 5 de junho, mas muitas artes nas fachadas prediais vieram para ficar.

A tendência vem ganhando força nos últimos anos e despontado em muitos condomínios recém-inaugurados. Mas muito além de trazer distinção e exclusividade, a arte nas fachadas prediais ajudam a criar uma conexão entre a arquitetura e a revitalização urbana. Em regiões centralizadas e bairros boêmios – com grande fluxo de pessoas -, por exemplo, os painéis artísticos podem até se transformar em pontos turísticos.

Murais artísticos e o impacto social

A utilização de arte em prédios e construções já é uma prática comum em diversas cidades ao redor do mundo, principalmente em áreas urbanas, onde a estética da arquitetura pode ser um diferencial na valorização dos imóveis. Afinal, os painéis artísticos podem ser uma forma de destacar o empreendimento, tornando-o mais visível e atraente para o mercado imobiliário.

Contudo é na valorização da área que reside seu ganho social. Como instrumento de transformação, a arte contribui para a melhoria da paisagem urbana, gerando um impacto positivo na comunidade. Para Daniela de Avelar Vaz, assistente curatorial no MASP, gestora cultural, historiadora e educadora, e Giovana Abreu, produtora cultural e audiovisual, artista, psicóloga e especialista em Diversidade & Inclusão, a influência da cultura vai além. Em participação no episódio 41 do podcast Habitability, elas afirmam que esse poder engloba o fomento da economia das cidades, na educação e formação de novos artistas, a geração de empregos por meio da arte e sua produção ou pelo turismo.

São Paulo é exemplo de cidade que foi impactada positivamente com as artes nas fachadas prediais. Nos últimos anos, ela tem se tornado um centro de arte urbana, com diversos artistas locais e internacionais pintando murais em prédios abandonados e paredes cegas por toda a cidade.

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Uma dessas áreas revitalizadas de Sampa é a Vila Madalena. Localizado na zona oeste da cidade, o bairro ficou famoso pela sua vibrante cena cultural, incluindo galerias de arte, bares, restaurantes e lojas independentes. Essa transformação começou a acontecer há 10 anos, quando artistas começaram um movimento de pintar murais coloridos e criativos em espaços desocupados. Como resultado, o bairro ganhou mais cor e uma espécie de “galeria a céu aberto”, tornando-se destino para turistas interessados em arte urbana. Isso contribuiu para a economia local e, consequentemente, atraiu novos negócios e empreendimentos.

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Artes nas fachadas prediais pelas cidades do Brasil

Também conhecidos como arte urbana, os painéis têm suas raízes na arte de rua e em movimentos artísticos do século XX. Durante o surgimento do grafitti nos anos 1960 e 1970, as paredes das cidades se tornaram tela para a criação de obras de arte não convencionais.

Nos anos 1980 e 1990, a arte urbana continuou sua expansão e popularização, sendo cada vez mais valorizada por galerias de arte, museus e colecionadores particulares, ramificando-se em diversas vertentes, como stencil, adesivos, esculturas urbanas, entre outras formas de expressão. A partir daí, os artistas urbanos começaram a explorar novos espaços para suas criações, como as fachadas de prédios abandonados e esquecidos pela sociedade, transformando, prédio a prédio, muro a muro, o visual urbano:

  • São Paulo
Vila Madalena (Foto: Reprodução/ Arte Fora do Museu)

A cidade é conhecida por ter uma cena de arte urbana forte, com muitos artistas talentosos. A região da Vila Madalena e a Avenida 23 de Maio são exemplos de lugares onde é possível encontrar algumas das artes nas fachadas prediais de grande impacto, o que contribuiu para lhe render o apelido de galeria de arte a céu aberto.

  • Rio de Janeiro 
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Vidigal (Foto: Henrique Madeira/ Arch Daily)

Além de belas fachadas de prédios espalhadas pela cidade, as comunidades de Santa Marta e Vidigal, por exemplo, possuem murais impressionantes feitos por artistas locais.

  • Curitiba 
Moinho Paranaense, no bairro Rebouças (Foto: Marcelo Araújo – @marcelo_araujo/ Prédios de Curitiba)

A cidade possui uma iniciativa chamada “Muralzão”, que tem como objetivo revitalizar as fachadas de prédios abandonados com murais criativos e coloridos. A arte pode ser vista em vários bairros da cidade, como Rebouças e Centro Cívico.

  • Porto Alegre 
Foto: João Mattos/ Voz Da Vizinhança

O bairro Cidade Baixa, especialmente nas ruas João Alfredo e General Lima e Silva, começou a adotar os murais nas fachadas como resposta às constantes pichações que haviam no bairro. Após vários moradores aderirem ao movimento, o local ganhou artes coloridas, vibrantes e muito mais personalidade.

  • Belo Horizonte
Viaduto Santa Tereza (Foto: CBN BH via Twitter)

A cidade mineira tem um projeto chamado “Grafite-se”, que tem como objetivo transformar os muros e fachadas em verdadeiras obras de arte. Um dos lugares mais conhecidos para ver esses murais é o viaduto Santa Tereza e as casas em seu entorno.

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A arte sustentável também pode valorizar imóveis

A utilização de materiais sustentáveis na criação de obras de arte nas fachadas, como o uso de plantas naturais e jardins verticais, traz às artes um papel socioambiental ao ajudar a melhorar a qualidade do ar e contribuir para a preservação do meio ambiente.

Por meio da comprovada relação entre o meio e o indivíduo, as fachadas artísticas também impactam positivamente na sensação de bem-estar das pessoas, ao colaborar para um ambiente mais bonito, enquanto contribuem para a revitalização de áreas urbanas decadentes e para o desenvolvimento da identidade cultural das cidades.

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Além da contribuição prática, a função socioambiental se dá em forma de conscientização, com mensagens de protestos, questionamento e alerta acerca das desigualdades sociais e impactos das ações humanas sobre o meio ambiente.

As fachadas artísticas são, ainda, uma forma de democratizar a arte e levar a cultura para as ruas, possibilitando que as pessoas tenham acesso a obras de arte sem precisar visitar um museu ou galeria.

Projeção mapeada é tendência internacional de arte nas fachadas prediais

Para alguém conectado com as tendências mundiais, é impossível já não ter visto algum vídeo viral com prédios exibindo imagens de videomapping. Essa técnica permite projetar imagens e animações em superfícies tridimensionais, como edifícios, fachadas de prédios, monumentos históricos e até mesmo objetos.

E não há indicação de que a tecnologia de projeção mapeada esteja sendo usada em detrimento à arte. Pelo contrário, muitos artistas estão usando essas técnicas para criar instalações e exposições combinando tecnologia com expressão artística.

A técnica tem sido vista como uma forma de arte visual, que permite aos artistas explorarem novas formas de criar experiências imersivas para o público. Além disso, a tecnologia pode ajudar a trazer a arte para espaços públicos e urbanos, permitindo que mais pessoas tenham acesso à arte contemporânea.

Tecnológica ou não, a valorização da cultura urbana pode trazer ainda mais beleza e personalidade para as cidades ao redor do mundo.