Grafite para cegos: pinturas adaptadas democratizam acesso à arte urbana

Arte urbana tátil e com descrição, grafite para cegos democratiza acesso à expressão artística transformadora do espaço público.

Por Redação em 20 de setembro de 2023 2 minutos de leitura

grafite para cegos
Crédito: Graffiti #PraCegoVer/Divulgação

No coração da Vila Madalena, bairro da cidade de São Paulo/SP, o Beco do Batman ganhou fama por seus murais de grafite, que atraem diversos visitantes e turistas. Agora, uma nova versão da arte urbana vai levá-la ainda mais longe: o grafite para cegos agrega descrições e áreas táteis para permitir que pessoas cegas possam senti-las.

A criação artística do grafiteiro Subtu, produzida por Sueli Parisi e Roberto Parisi, faz parte do projeto Graffiti #PraCegoVer.  O conjunto de três murais se conectam como uma história em quadrinhos por meio de placas em braile, feitas de resina reciclável, que não derretem ao serem expostas ao spray, e linhas em alto relevo. Os elementos são feitos em impressoras 3D e depois encaixados e fixados nos murais para adicionar o fator têxtil aos desenhos e à história.

A ideia é ampliar a experiência da arte urbana para aqueles que não conseguem ver. Segundo os organizadores do projeto, “os portadores de deficiência visual têm condições de experimentar os estímulos que talvez tenham levado o artista a produzir determinada obra”. 

Grafite para cegos – inclusão e diversão

grafite para cegos
Crédito: Graffiti #PraCegoVer/Divulgação

A inclusão não marca presença apenas na implementação dos recursos táteis. Ela esteve presente desde o processo criativo. A equipe teve contribuições de nomes como o do artista israelense Roy Nachum e o grafiteiro francês The Blind, ambos cegos. O consultor em braille e especialista em educação especial, Devanir de Lima também apoiou o projeto. Assim, foi possível explorar formas em que as áreas táteis e as descrições em braile podem participar da obra de maneira orgânica. 

A equipe também trabalhou por meses com consultores de acessibilidade, designers e especialistas em impressão tridimensional para que a técnica desenvolvida possa ser replicada em outros murais pela cidade. “Estamos há três anos e meio debatendo a viabilidade da arte. Desde o início recebemos feedbacks da própria comunidade não vidente. Embora o mundo seja mais funcional para cegos hoje em dia, ainda não é muito divertido, porque não há uma experiência da parte legal do mundo acessível”, afirmou Murillo Denardo, diretor artístico do projeto, em entrevista ao jornal O Globo.

Para o curador do projeto, Roberto Parisi, em entrevista ao portal Jornalismo Inclusivo, democratizar a arte urbana vai muito além de ampliar o acesso ao estético. “A democratização e a inserção da arte para além do sentido visual, além de inclusiva, é transformadora do espaço público, uma vez que a arte manifesta a presença e os discursos de diversos agentes históricos”. No episódio 44 do podcast Habitability, ele e Sueli Parisi, diretora da produtora Mosaiky, contam mais sobre os desafios em realizar projetos de arte inclusivos – dentre eles, o primeiro grafite feito para cegos. Disponível também no youtube:

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