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Suloszowa: A cidade linear onde todo mundo mora na mesma rua
6 mil habitantes e uma única via! A cidade linear polonesa preserva a tradição agrícola e oferece uma visão de urbanismo que fortalece laços.
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Redação em 19 de dezembro de 2024 5minutos de leitura
Foto: Chawranphoto/ Shutterstock
No Brasil, municípios com cerca de 6 mil habitantes costumam se organizar em torno de espaços centrais, como praças, campos de futebol e igrejas, com ruas distribuídas de forma descentralizada. Já na Polônia, uma cidade de tamanho semelhante vem chamando a atenção por sua configuração peculiar. Em Suloszowa, localizada no sul do país, todas as 6 mil pessoas vivem ao longo de uma única rua. Essa via, chamada Olkuska-Krakowska, se estende por 9 km, tornando-se não apenas uma das ruas mais longas da Polônia, mas também um exemplo concreto de cidade linear.
Aproximadamente 1.600 edifícios alinham-se ao longo da via principal, que é na verdade a única rua de Suloszowa. No entanto, a cidade vai além de seu layout curioso. Ela preserva um estilo de vida tradicional, com uma economia centrada na agricultura familiar. As casas são rodeadas por campos cultivados pelas mesmas famílias há gerações, que consideram a terra um legado a ser transmitido.
No entanto, essa ideia de cidade linear não é completamente nova. No passado, alguns arquitetos já idealizavam projetos semelhantes, inspirados pela ideia de integrar a vida cotidiana e o trabalho em um espaço coeso e eficiente, algo que Suloszowa consegue concretizar de maneira exemplar.
Uma cidade linear que conecta agricultura e tradição
A vida cotidiana da cidade polonesa é entrelaçada com a agricultura, que se reflete tanto na rotina dos moradores quanto na economia local. Com as plantações localizadas logo atrás de suas casas, os habitantes têm fácil acesso ao campo, o que não só facilita o trabalho, mas também promove uma convivência constante entre os vizinhos. A interação é natural, com trocas diárias de histórias, experiências e notícias dos últimos acontecimentos no vilarejo.
A agricultura não é apenas uma atividade econômica, mas uma forma de vida. Muitos dos alimentos consumidos na cidade são cultivados localmente, o que cria uma economia mais autossuficiente e sustentável. Os moradores se orgulham de sua independência, sabendo que suas colheitas e tradições mantêm a vila conectada à terra de geração em geração.
Essa ligação é celebrada em eventos festivos que reforçam o senso de comunidade, como o Dia do Morango e o Dia da Batata. Nessas ocasiões, a população se reúne para festejar as novas safras, ouvir música e compartilhar momentos de alegria. De modo geral, a rotina de Suloszowa é marcada pela proximidade entre seus habitantes e pelo forte sentimento de união. “Há um bom senso de comunidade aqui”, destaca Edyta, uma comerciante local, em entrevista ao jornal britânico Daily Mail.
História, natureza e espiritualidade em uma só via
Embora muitos turistas se dirijam a Suloszowa para conhecer sua única e curiosa via, a região oferece outros atrativos. O vilarejo é rico em atrações turísticas que combinam história, natureza e espiritualidade. Entre os destaques turísticos está o Castelo de Pieskowa Skała, construído no século XIV por ordem do rei Casimiro III. Este castelo medieval, parte da cadeia defensiva conhecida como Ninhos da Águia, é um símbolo da história polonesa e um ponto obrigatório para visitantes interessados em arquitetura.
Além do castelo, o Parque Nacional Ojcowski, onde Suloszowa está localizada, é conhecido por sua biodiversidade e formações geológicas únicas. O parque abriga mais de 5.500 espécies de plantas e animais catalogadas, destacando-se como um dos principais refúgios naturais da Polônia.
Suloszowa também possui um papel significativo na espiritualidade e no turismo religioso, pois faz parte da Via Regia, uma das rotas históricas do Caminho de Santiago. Este trajeto conecta São Petersburgo, na Rússia, a Santiago de Compostela, na Espanha, atravessando 10 países ao longo de 4,5 mil quilômetros. A presença de Suloszowa nesse caminho coloca a vila no mapa de peregrinos de todo o mundo, que passam pela região em busca de reflexões espirituais e conexões culturais.
Cidade linear: Do modelo orgânico ao futuro vertical
O conceito de cidade linear não é uma novidade. Desde o século XIX, urbanistas têm refletido sobre essa ideia como uma solução para os desafios urbanos. Em 1882, o espanhol Arturo Soria idealizou um bairro linear experimental na periferia de Madri. Mais de quatro décadas depois, em 1930, o arquiteto russo Ivan Leonidov apresentou a proposta para Magnitogorsk, que seria uma cidade linear que integraria moradia, trabalho, lazer e cultura em um espaço urbano orgânico, desafiando o crescimento espontâneo das cidades tradicionais.
Já em 1965, nos Estados Unidos, o arquiteto Edward Chambless projetou Roadtown, uma cidade linear com ênfase em eficiência e mobilidade, centrada em um eixo de transporte rápido. Embora compartilhassem o mesmo princípio básico — a organização linear de edifícios ao longo de um eixo de transporte — essas propostas jamais saíram do papel. Suloszowa, por sua vez, representa um exemplo real e prático deste conceito, ainda que de maneira não planejada.
Atualmente, o conceito de cidade linear está sendo revitalizado com o projeto The Line, na Arábia Saudita. Localizada no deserto de Neom, originalmente, a cidade seria uma faixa de 170 km, projetada para abrigar 9 milhões de pessoas em uma estrutura vertical de 500 metros de altura e 200 metros de largura. Com foco na sustentabilidade, o projeto busca integrar inteligência artificial e energia limpa, além de eliminar a dependência de automóveis, oferecendo uma alternativa de transporte de alta velocidade.
No entanto, após o entusiasmo inicial e as grandiosas promessas de inovação, o projeto enfrentou uma redução substancial em seus planos. De uma previsão de abrigar quase 9 milhões de pessoas, a nova projeção para 2030 é de que a cidade tenha pouco mais de 300 mil residentes e se estenda por pouco mais de 2,4 quilômetros, muito aquém das dimensões originais.
Fatores como limitações orçamentárias, resistência local e crescentes críticas ao idealizador do projeto, o príncipe Mohammed bin Salman, devido a questões éticas, políticas e até ambientais, forçaram tal reformulação. A queda nas expectativas para The Line levanta questões sobre a viabilidade de grandes empreendimentos urbanos quase utópicos, colocando em evidência os desafios de transformar visões ambiciosas em soluções práticas e sustentáveis para as complexidades do crescimento urbano contemporâneo.
Em contraste, Suloszowa se desenvolveu de maneira orgânica, sem os recursos e inovações tecnológicas prometidos por The Line, por exemplo, mas ainda assim mostra como o conceito de cidade linear pode ser implementado de forma prática e sustentável. Seu modelo simples, porém eficiente, desafia as grandiosas ambições futuristas de The Line que, embora despojado de complexidade, preserva um forte senso de comunidade e equilíbrio com o ambiente natural.
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